Conheça as artistas mineiras que inventaram o "pop cansado"

Julia Branco, Luiza Brina e Sara Não Tem Nome se uniram no Clube das Exaustas. Primeiro single do trio está disponível nas plataformas digitais

Guilherme Augusto 12/12/2021 04:00
Daniel Pinho/Divulgação
Julia Branco, Sara Não Tem Nome e Luiza Brina em cena do clipe de "Exausta", que será lançado na próxima quarta-feira (foto: Daniel Pinho/Divulgação)

Com o lançamento da música "Exausta", em 12 novembro passado, Julia Branco, Luiza Brina e Sara Não Tem Nome estrearam oficialmente o Clube das Exaustas, projeto que marca o encontro das três cantoras e compositoras mineiras. Na próxima quarta-feira (15/12), a canção ganha um clip, gravado em Belo Horizonte, que reitera a proposta de refletir sobre temas contemporâneos com bom humor.

"O processo de produção e gravação foi longo", conta Sara. "Conseguimos uma parceria com um estúdio e passamos o dia inteiro gravando. No clipe, a gente aparece performando algumas situações que dialogam diretamente com a letra da música, como se estivéssemos trancadas em casa, fazendo tarefas cotidianas. Só que tudo ganha uma camada nonsense. É uma produção simples, que passa o que estamos vivendo e sentindo."

Apesar de abordar o tema da exaustão, que ganhou bastante ênfase durante o ano da pandemia, a ideia do Clube das Exaustas é anterior à crise sanitária mundial. A gênese de tudo data de quando Julia e Luiza fizeram uma viagem de férias para a praia e perceberam que não conseguiam se desconectar do trabalho.

"O projeto nasce dessa reflexão sobre a questão do cansaço, à medida que fomos observando o quanto isso é um assunto contemporâneo. Com a pandemia, essa sensação se ampliou muito e o cansaço foi para outros lugares",afirma Julia Branco.

Luiza Brina concorda e afirma que o momento atual exige das pessoas uma produtividade exacerbada. "Nos é ensinado que precisamos trabalhar mais para ganhar mais. E que isso só depende de nós. E isso não está relacionado só ao ganho, mas à ideia de estar sempre on-line, por exemplo. Sempre produzindo conteúdo, sem um momento de pausa ou tédio", ela analisa.

SAÚDE MENTAL 

A parada forçada imposta pela pandemia, segundo Sara Não Tem Nome, não fez com que as pessoas de fato parassem. Na verdade, ficar em casa gerou mais ansiedade para continuar produzindo. "E nós, que somos artistas, mesmo que quiséssemos continuar nesse sistema, não tínhamos como. O nosso trabalho é muito presencial. A partir daí, várias pessoas começaram a ter a sua saúde mental afetada."

Composta a seis mãos, com produção de Luiza e mixagem e masterização feitas por Alejandra Luciani, a música é simples e direta. Com pouco mais de três minutos, ela trata da exaustão em frases como "Parece que ficar feliz é uma grande luta" e "Às vezes acho que eu vou ficar maluca". No verso em que tratam diretamente da pandemia, as três abordam o isolamento social: "Não saio mais de casa/ A minha vida é tão absurda/ Neurada/ Tô desorientada/ Saudades de me aglomerar numa muvuca".

Apesar de a letra apontar para situações naturalmente melancólicas, a sonoridade que Julia, Luiza e Sara escolheram para abraçar a melodia vai no sentido contrário e é dançante. Para chegar nesse resultado, elas se inspiraram no pagodão baiano e criaram o que chamam de "pop cansado".

"É doido falar de algo como a exaustão em ritmo dançante", afirma Luiza Brina. "Sai do lugar-comum. As pessoas podem ler o título e pensar que se trata de uma música triste, mas não é. A gente deu uma volta na própria ideia que a música inspira", acrescenta Sara Não Tem Nome.

Julia Branco define o tal "pop cansado" como um estilo feito para "dançar, ainda que sem fôlego". A escolha dessa nomenclatura ao encontro da abordagem lúdica que elas pretendem dar para o projeto. "É um tema denso, mas ficou lúdico e cômico. É rir da nossa própria desgraça", ela completa.

PROJETO PARALELO 

As três deixam claro que o Clube das Exaustas é um projeto paralelo, e não uma banda ou grupo. Segundo elas, isso permite uma liberdade maior para criar fora do contexto de suas carreiras individuais, e também facilita que outros artistas se associem a elas, no futuro.

"É o nosso clubinho, um projeto paralelo que é muito diferente de uma banda. A gente se encontra para compor e pensar coisas que nos interessam e desenvolver a ideia através do humor e do trágico. Só nesse primeiro lançamento, já deu para perceber o quanto será fácil envolver outras pessoas nisso", conta Luiza.

Para Sara, um dos maiores benefícios é a troca. "Banda requer rigidez. A ideia do projeto é a gente atravessar várias coisas juntas e fazer isso de forma horizontal, entendendo-o como um lugar interessante de formação. Quando a gente se encontra, acho que tem uma força que não é óbvia. É um espaço de aprendizado para cada uma de nós, que completa o caminho que a outra está querendo trilhar", ela afirma.

Boa parte dos encontros a que elas se referem foram feitos durante a pandemia, via internet. Só agora elas começaram a se encontrar pessoalmente para a gravação do clipe e para realizar a sessão de fotos de divulgação. As três também mantêm um grupo no WhatsApp no qual se comunicam e trocam ideias para futuros lançamentos.

SHOW 

Por enquanto, elas estão focadas em divulgar a primeira música, que também deve ganhar um remix no ano que vem, para deixá-la ainda mais dançante. A produção de novas músicas continua e as três agora estão em busca de parceiros que se identifiquem com a proposta do projeto. Também é do interesse delas levar o Clube das Exaustas para o palco.

"Imagino que um show nosso tem que ter, no repertório, as nossas músicas, mas também uma parte em que cantaremos canções que estão dentro desse universo do cansaço e de outros temas contemporâneos", diz Julia.

Em relação aos seus projetos como artistas solo, elas prometem novidades para os próximos meses. Julia Branco, por exemplo, prepara o sucessor do elogiado "Soltar os cavalos" (2018), que deve ser lançado em algum momento de 2022. "Gravei a maior parte do meu segundo trabalho neste segundo semestre de 2021. Ainda vou finalizá-lo”, afirma.

Já Luiza Brina, que também é integrante da banda mineira Graveola, está comemorando os 10 anos de seu primeiro álbum, "A toada é pelo vento" (2011), com uma série de regravações da track-list, em parceria com outros artistas, como Castello Branco e Ana Frango Elétrico.

"Ainda vou lançar uma versão remasterizada do disco, que virá com todos os singles lançados", ela afirma. "Mais para o final do primeiro semestre de 2022, começo a gravar meu próximo trabalho, que será um disco de orações. Neste momento, estou escrevendo arranjos para orquestra de câmara."

O trabalho de Sara Não Tem Nome, por sua vez, se desdobra também nas artes visuais. Como cantora e compositora, ela lançou o álbum "Ômega III" (2015). Atualmente, ela se divide entre a produção do segundo disco e o trabalho no selo e produtora Grão Pixel.

"Estou nesse mesmo drama do álbum novo já tem algum tempo", ela conta. "Ia lançar este ano e acabei ficando agarrada. Agora estou focada nele e no Grão Pixel, pelo qual vamos lançar alguns trabalhos meus, da Neblina, da Julia Baumfeld e da Desirée Marantes."

“EXAUSTA”
De Clube das Exaustas (Julia Branco, Luiza Brina e Sara Não Tem Nome)
Dobra Discos
lSingle disponível nas plataformas digitais 

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