O show tenta continuar, agora no drive-in

Países da Europa promovem apresentações musicais para o público trancado dentro do carros, sem dança e muvuca. Nos EUA, casas noturnas recebem apenas 30% de seu público habitual

Guilherme Augusto 03/06/2020 07:53
 
Ritzau Scanpix/ Mikkel Berg Pedersen/AFP
Show do cantor pop Mads Langer (D) no parque Tangkrogen, na cidade de Arhus, na Dinamarca, teve 'plateia' de carros (foto: Ritzau Scanpix/ Mikkel Berg Pedersen/AFP)
Isaac Sterling/site oficial
(foto: Isaac Sterling/site oficial)
Longe de ser realidade no Brasil, alguns países já experienciam a vida pós-pandemia. Depois da flexibilização do isolamento social, até mesmo shows ao vivo – aqueles de verdade, “presenciais” – voltaram a ocorrer. Porém, com novos padrões de logística e planejamento para garantir a segurança do público e dos artistas.

Pensando nisso, produtores culturais têm recorrido a uma prática antiga: os drive-ins. Comum em redes de fast-food e até farmácias, o sistema permite que o público aproveite eventos dentro de seus próprios carros, evitando as agora perigosas aglomerações. No século 20, sessões de cinema eram realizadas dessa forma.

No fim de abril, na Noruega, a banda de hip-hop Klovner I Kamp fez show para a plateia dentro de carros, com uma vaga de estacionamento de distância entre eles. A estrutura do palco, com luzes e fumaça, remetia a grandes concertos para multidões dançantes, como o grupo costumava apresentar antes do coronavírus.

Dias depois, na Dinamarca, o cantor e compositor de pop-rock Mads Langer optou por uma versão mais compacta desse tipo de evento. No palco, sozinho, apresentou-se com violão e teclado para carros estacionados a bons metros uns dos outros.

A adesão foi tamanha que a Live Nation anunciou a série de shows com diversos artistas chamada Drive-in live, que passará por quatro cidades dinamarquesas durante o verão europeu. Para se ter uma ideia, até o estacionamento do aeroporto de Copenhague vai virar espaço para apresentações musicais.

A tendência chegou à Alemanha no começo de maio, quando uma casa noturna fez três edições de raves drive-in, com ingressos esgotados para todas as noites.

É provável que ocorram eventos semelhantes no continente europeu durante os próximos meses. Principalmente entre junho e setembro, durante o verão no hemisfério norte, época em que ocorre o maior número de festivais de música por lá.

EUA 

YouTube/reprodução
Keith Urban cantou em Nashville para 125 automóveis (foto: YouTube/reprodução)
Nos Estados Unidos, o cantor country Keith Urban fez um show em um estacionamento de Nashville, “assistido” por cerca de 125 automóveis. Outra alternativa para os músicos seria a realização de shows em espaços menores. Neles, entretanto, o problema é o distanciamento social.

O cantor Travis McCready encontrou uma solução criativa: permitir plateia bastante inferior à capacidade total do local. Tocando no Tample Live, no Arkansas, o músico fez apresentação solo para 229 pessoas. Originalmente, o local comporta até 1 mil. Além disso, os espectadores foram separados em grupos com um metro de distância. Todos tiveram a temperatura medida na entrada do evento e foram obrigados a usar máscaras durante a apresentação.

É bom lembrar: muito embora ajude a amenizar os prejuízos de artistas e casas de shows durante a pandemia, esse modelo é viável apenas para eventos de pequeno e médio portes.

No Brasil, a tendência deve chegar, em breve, a São Paulo. O Allianz Parque, estádio do Palmeiras, promete promover, nos próximos dois meses, eventos dessa natureza. Com programação ainda não anunciada, o Arena Sessions contará com exibição de filmes, shows e palestras.

“A previsão, de início, depende da liberação da licença para operar nesse formato, que deve vir junto do relaxamento do isolamento social, que, obviamente, obedecerá a todas as recomendações da OMS e autoridades de saúde”, informa o texto postado no site do Arena Sessions.

“As sessões contarão também com serviços de alimentação que poderão ser solicitados de dentro do veículo, sendo entregue na janela do carro E evitando qualquer tipo de contato”, diz o comunicado.

Na semana de estreia, a ideia é reproduzir clássicos do cinema. A princípio, o preço dos ingressos não é nada atraente: as sessões devem custar de R$ 95 a R$ 150 por veículo, dependendo da atração em cartaz. Os eventos devem receber até 300 veículos.

BH 

Em Belo Horizonte, ainda é incerta a previsão de retomada de shows e concertos. Em relação a cines drive-in, a empresa Autocine Brasil se adiantou e pretende instalar o modelo na capital mineira o quanto antes. Serão seis unidades espalhadas pela região metropolitana – BH (duas), Contagem, Betim, Nova Lima e Brumadinho. Os filmes em cartaz e os valores ainda não foram divulgados.

Apesar disso, o prefeito Alexandre Kalil publicou, no início de maio, decreto que proíbe, por tempo indeterminado, todos os eventos no modelo drive-in. O documento suspende a realização de festas, comemorações, exposições e outras atividades que reúnam pessoas dentro de carros estacionados em espaços públicos ou privados.

Production Club/reprodução
Micrashell: traje espacial para a balada (foto: Production Club/reprodução)
ROUPA DO FUTURO?

A roupa ideal para frequentar shows ao vivo no mundo pós-coronavírus talvez não seja mais aquela camiseta de banda, mas um traje de proteção para dificultar os riscos de contaminação.

A empresa californiana Production Club projetou o protótipo Micrashell, que inclui capacete e sistema de filtragem do ar. A premissa é permitir que as pessoas frequentem locais com aglomeração sem violar as diretrizes de distanciamento social.

A roupa conta com headphones e um “sistema de suprimento”. Ele oferece um cartucho por meio do qual o usuário pode fumar e conectar bebidas, consumindo-as sem remover o traje.

“Micrashell é uma solução para aproximar as pessoas com segurança. Isso permitiria que espaços e eventos musicais continuassem funcionando sem a necessidade de distanciamento social”, disse Miguel Risueno, chefe de invenções da empresa, em entrevista à NBC.

“As pessoas ainda querem festejar e ignoram as medidas de distância social. Com a nossa solução, estamos tentando disponibilizar espaço para todos”, explicou Risueno.

No melhor estilo “steam-punk pós-apocalíptico”, Micrashell se assemelha a um traje espacial, porém em cor néon.

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