Anúncio antecipado cobriu de confusão a despedida de Tom Petty

Líder dos Heartbreakers não resistiu ontem a um infarto sofrido no domingo

por Mariana Peixoto 04/10/2017 08:00
Timothy A. Clary/AFP
Tom Petty durante apresentação no intervalo do Super Bowl, no Arizona. Família do Cantor anuncou sua morte à 0h40 de ontem (horário de Brasília) (foto: Timothy A. Clary/AFP)
Tom Petty morreu duas vezes. A morte, em decorrência de um ataque cardíaco aos 66 anos, só foi confirmada pela família do músico, em Los Angeles, às 20h40 de segunda-feira (0h40 de terça, no horário de Brasília). O anúncio foi feito por seu empresário, Tony Dimitriades.

Mas, para parte da imprensa, ele já estava morto horas antes. O canal CBS “confirmou” a morte do músico na tarde de segunda, depois de o site TMZ noticiar que Petty havia sido encontrado inconsciente e sem pulso em sua casa em Malibu, no domingo.

O anúncio antecipado (por um ruído de informação com a polícia de Los Angeles) desencadeou as hoje obrigatórias reações RIP (rest in peace, descanse em paz em português) por parte de fãs e amigos ao redor do globo nas redes sociais.

Bob Dylan, parceiro de Petty na superbanda Traveling Wilburys, declarou à revista Rolling Stone: “Ele era um grande artista, cheio de luz, um amigo e nunca o esquecerei”. John Mayer tuitou, também antecipadamente, “amei Tom Petty e cantei suas canções porque queria saber o que se sentia ao voar”, citando Learning to fly.

Paul McCartney escreveu em sua conta no Twitter: “Muito triste de saber de sua morte. Que homem adorável, inteligente e talentoso ele era”.  

A confusão gerada pelo anúncio apressado acabou tirando boa parte do brilho que Petty, merecidamente, deveria ter. Cantor, compositor, instrumentista e bandleader com 40 anos de carreira, lançou 20 álbuns: 13 com sua banda, The Heartbreakers; três solo; dois com sua primeira formação, Mudcrutch; e dois com o Traveling Wilburys, o grupo que manteve, entre 1988 e 1990, com George Harrison, Roy Orbison (este só participou do primeiro álbum, pois morreu em 1988), Jeff Lynne e o já citado Dylan.

Ao todo, Petty vendeu 80 milhões de discos. Seu grande palco não foi o mundo, mas os Estados Unidos, ainda que a carreira tenha decolado primeiramente no Reino Unido. O single Breakdown só entrou nas paradas americanas em 1977, um ano depois de Tom Petty e os Heartbreakers despontarem na Inglaterra.

VOZ Um tanto anasalada, a voz remetia, por vezes, ao Bob Dylan mais jovem. A música de Petty, prolífico compositor, transitava entre o rock, o blues e o folk.

Petty teve muitas batalhas. Sofreu com o pai abusivo, mas nunca deixou de reconhecer que veio dele a primeira guitarra. Sofreu com a indústria fonográfica. Sua batalha mais notória ocorreu no início da década de 1980, quando enfrentou a gravadora MCA, que queria colocar à venda seu novo álbum por US$ 9,98. O valor era mais alto do que o padrão da época, e Petty ameaçou chamar o disco de US$ 8,98, o preço que julgava correto. Venceu a briga e lançou o trabalho com o nome de Hard promises. Também sofreu com as drogas. Com o fim do casamento, caiu em depressão e no abuso da heroína. No Brasil, Petty foi mais reconhecido por trabalhos entre o final da década de 1980 e o início dos anos 90.

Os cinco integrantes do Traveling Wilburys só fizeram o que quiseram. Compuseram em 10 dias as músicas do primeiro álbum. Não era para durar, dada a carreira de todos. No primeiro disco, George Harrison assinou Nelson; Roy Orbison, Lefty; Jeff Lynne, Otis; Petty, Charlie T. Jr.; e Dylan, Lucky.

Com a MTV dominando o segmento jovem, o clipe de Mary Jane’s last dance (1993), que trazia Kim Basinger como uma sensual noiva-cadáver, foi executado à exaustão. Wildflowers (1994), segundo álbum de Petty, apresentou-o a uma nova geração. Produzido por Rick Rubin, vendeu horrores, emplacou vários hits (It’s good to be king e You don’t know how it feels, além da faixa-título) e levou Petty a dizer que seus fãs gostavam mais daquele disco do que de qualquer outra coisa que tivesse feito.

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