Em novo CD, Gudin faz samba para se ouvir sem pressa

Compositor, cantor e instrumentista paulista celebra cinco décadas de carreira em seu 16º disco

por Kiko Ferreira 08/08/2015 08:00

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JOANA GUDIN/DIVULGAÇÃO
(foto: JOANA GUDIN/DIVULGAÇÃO )

No ano que vem, o compositor, cantor e instrumentista paulista Eduardo Gudin celebra cinco décadas de carreira. Para ir aquecendo os tamborins da festa, acaba de lançar seu 16º disco, 'Eduardo Gudin & Notícias do Brasil 4', o quarto de seu mutante grupo Notícias dum Brasil, atualmente formado pelos cantores Ilana Volcov, Maurício Sant’Anna, Karine Telles e Cezinha, mais os percussionistas Osvaldo Reis, Raphael Moreira, Ewerton de Almeida e Jorginho Cebion.


Com um projeto gráfico interessante, lembrando um jornal impresso, com encarte com letras e ilustração do grupo feito pelo cartunista Paulo Caruso, o CD apresenta 13 composições de diversas épocas, feitas e interpretadas com diversos parceiros, amigos novos e antigos.

O mais tradicional, Paulo César Pinheiro, faz letra e voz na faixa de abertura, 'Olhos sentimentais', samba sobre a volta de um amor comparado a uma primavera que não vai morrer jamais. Depois de 47 anos, a dobradinha Gudin continua funcionando. Parceiro bissexto, Paulinho da Viola divide os louros de Nem no samba eu vou, beleza rara sobre um sambista em fim de carreira, com direito ao seu cavaquinho célebre e ao piano de Cristóvão Bastos.

Mais raro ainda, o diálogo com Adoniram Barbosa em Armistício, que fez a letra para Gudin musicar, funciona e traz à memória a persona de Adoniran. A música já havia sido gravada pelo próprio Gudin na década de 1980, mas mantém o frescor.

PARCERIA 
Mais antiga, dos anos 1960, é No fim das contas, parceria com Paulo Frederico que tem uma abertura antológica: “Já dizia o poeta/ essa vida é uma atriz”. Toquinho canta a primeira parte e divide a autoria de Por que razão?, dramático samba de reencontro, já registrado num DVD do Notícias dum Brasil de 2012. É do mesmo ano a redescoberta de Tempo de espera, com letra de Paulo César Pinheiro, inédita desde os anos 80, com ares da obra-prima da dupla, o LP O importante é que a nossa emoção sobreviva.

Carlinhos Vergueiro é quem divide a autoria de 'Meu delírio', na primeira música feita pelos amigos de outras datas que traz embutida uma sentença que serviria ao próprio samba: “Sei que nasci para viver carnavais”. O arranjo lembra o MPB-4.

Depois da tocante homenagem a um dos ídolos de Gudin, Paulinho Nogueira, 'De todo meu violão' (Maurício Sant’Anna/Gudin), a surpresa da voz do octogenário Carlos Lyra, em forma no dueto do sambossa. O amor e a canção, com raciocínio poético interessante: “Quando o amor/ se transforma em recordação/ se desfaz numa só canção/ infeliz ou feliz demais/ pra canção tanto faz.”

Até aí, o disco já teria justificado sua existência, mas a sequência final é tão inspirada quanto. A figura da moça enigmática que espera a volta de um amor que se foi é  retratada em 'Não era assim', com belíssima melodia de Theo de Barros e letra de Gudin.

Com poema de Aldir Blanc na abertura, recitado pelo letrista da faixa, J. C. Costa Neto, 'Outro cais' é dramática, apaixonada e ganha de Aurélie Tyzsblat um solo vocal e uma versão em francês, com acompanhamento da parceira Verioca.

Para fechar bem, vem Ivan Lins com voz, piano, melodia e harmonia de 'Do jeito que você tem', lembrando seus melhores momentos de carreira. E o álbum termina com 'Eu te amo', parceria de Gudin com Fátima Guedes, feita nos anos 1990, que justifica a classificação que Fátima recebeu quando surgiu, de ser uma espécie de Chico Buarque de saias. Um belo e pungente fecho para um disco que merece atenção e a paciência das degustações.

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