Com pegada urbana e versatilidade, quatro grifes mineiras ganham destaque na SPFW

As marcas de Minas participaram do São Paulo Fashion Week já no esquema de vendas imediatas após o desfile apostam em coleções de outono-inverno urbanas.

por Laura Valente 27/03/2017 10:50

Pat.Bo/divulgacão
Pat.Bo inovou com uma moda esportiva e modelagem confortável, para uso tanto no cotidiano quanto em ocasiões especiais. (foto: Pat.Bo/divulgacão)

Imagine o cenário de um filme de super-heróis locado em uma grande metrópole do mundo. Lá, um quarteto fantástico, formado por estilistas mineiros, propõe uma moda urbana enriquecida por conceitos da alta-costura. Leia-se trabalho handmade, bordados, aplicações de rendas, canutilhos, pedraria. Mas a missão desses defensores do estilo é facilitar a vida da mulher moderna, por isso investem em superpoderes, aqui interpretados por tecidos nobres, modelagem confortável (que não só privilegia o conforto, como permite desenvoltura na rotina corrida do cotidiano), peças que podem ser usadas desde a manhã até o happyhour ou festa. Assim, desembarcaram na passarela da São Paulo Fashion Week para lançar o outono-inverno’2017 as grifes Apartamento 03, GIG, Pat.Bo e Fabiana Milazzo – esta em estreia na semana de moda paulistana.

 

Todas as quatro marcas já desfilaram no novo modelo de negócios, conhecido como see now, buy now, que prevê a venda imediata da coleção logo após sua a apresentação na passarela. A proeza de antecipar a produção para disponibilizar modelos nas lojas na mesma velocidade com que as peças são expostas no mundo virtual foi alcançada graças a um trabalho minucioso que culmina no calendário de atacado, cujo lançamento para a temporada de frio foi em outubro passado. Assim, os lojistas já abasteceram as araras com as novas coleções e o público ávido por novidades poderá ir às lojas já, satisfazer o desejo provocado pela passarela.

Nas ruas já

 

Agência Fotosite/Divulgação
Apartamento 03 (foto: Agência Fotosite/Divulgação)
Reconhecido pelo trabalho autoral em alfaiataria, o estilista Luiz Cláudio bebeu em fonte literária para criar coleção rica em casacos de seda, vestidos, trenchs, macacões e conjuntos de saia e blazer ou bermuda e blazer. O surpreendente ao citar o autor Ítalo Calvino é o fato de ele ter escolhido o livro O visconde partido ao meio, e não Cidades Invisíveis, um tanto mais famoso. “Tenho uma visão muito pessoal sobre a moda, que para mim tem que fazer sonhar, resultar em imagens lindas e levar beleza a mulheres e homens”. O tom de protesto do livro, que versa sobre temas como extremos e incompletudes na década de 1950, permanece atualíssimo para o designer. “Vi amigos deixarem de se falar porque um era de direita e outro de esquerda... estamos vivendo sobre extremos e isso dá medo. Pessoas têm morrido pode ser travesti, negro, mulher e por aí vai”, critica. Traduzido para a roupa, o tema eleito por Luiz é abordado em peças com várias partes deslocadas, sobreposições, volumes. A estampa, conta ele, é feita a partir de cinco técnicas diferentes, evidenciando o caráter artesanal da grife. “São imagens incompletas”, reforça ele.

 

Ze Takahashi / FOTOSITE
GIG Couture (foto: Ze Takahashi / FOTOSITE)

Especialista em fazer arte no tricô com o uso de até 18 fios diferentes em cada modelo, a GIG não fechou o lançamento em um tema específico, mas abordou as décadas de 1970, 80 e 90 e até a estética vitoriana para lançar uma proposta urbana com pegada ao mesmo tempo contemporânea e retrô. “Numa continuidade da coleção lançada para o atacado em outubro, o lurex é o carro-chefe, mas chega sem a conotação dia e noite, mas em peças versáteis para uso em qualquer ocasião”, afirma a estilista Gina Guerra. As peças, cuja maioria está nas lojas da grife em SP e nas multimarcas, representam um guarda-roupa versátil. “Ninguém constrói nada do zero, então apresentamos a consequência do trabalho que temos desenvolvido ao longo dos anos, cada vez apostando mais em looks urbanos, que pregam liberdade”. Entre as principais apostas da marca ela cita a saia plissada de seda tricolor (que já se tornou um clássico), os macacões (jumpsuits), jaqueta ski, as calças jogger e as leggings de cintura alta. As mangas trabalhadas e as sobreposições (até então inéditas na grife) são destaques.

 

Nova roupagem 

Depois de fazer fama mundial com a confecção de vestidos bordados na marca homônima, a estilista Patrícia Bonaldi renova o caráter jovem da segunda grife, a PatBo, com coleção rica, sim, em trabalhos handmade, porém totalmente urbana e esportiva. A matéria-prima e os acabamentos permanecem luxuosos, mas os modelos são carregados da atitude comum às tribos que povoam os centros urbanos, a exemplo de grafiteiros (a street art é a estética que permeia toda a coleção). “A ideia é trazer para o universo delicado da PatBo referências atuais das artes de rua. Os bordados que fazem parte da nossa essência desta vez foram inspirados pela obra de Bispo do Rosário. Também olhamos para as pinturas de Jean-Michel Basquiat, que, junto ao grafite, representa uma coleção streetwear couture. Nessa pegada aposto que os moletons e as peças de veludo bordadas serão hits”. Patrícia ainda elege jaquetas bomber, parkas e releituras da alfaiataria por meio de novas texturas e silhuetas assimétricas como queridinhas da temporada.

Agência Fotosite/Divulgação
Fabiana Milazzo (foto: Agência Fotosite/Divulgação)

Outra grife com origem em Uberlândia, especializada em moda festa, Fabiana Milazzo estreou no line-up da SPFW com coleção carregada de brasilidade. Sim, há vestidos fluidos, mas o bordado tradicional (e já um tanto explorado pelo segmento) é repaginado por conceitos urbanos que prestam homenagem tanto ao lifestyle nacional (com direito a favela carioca e às cidades históricas mineiras) quanto a ícones da cultura nacional, como Oscar Niemeyer. Para criar os modelos carregados de trabalho handmande a tempo de estar no see now, buy now, a estilista contou com a ajuda de instituições sociais e projetos de capacitação sustentáveis , vide Instituto tecendo Itabira, Projeto Casulo Feliz e a ONG Ação Moradia (a estilista financia o projeto Mulheres de renda, na cidade mineira). “Minha intenção foi valorizar o que o Brasil tem de melhor, em paisagens, na cultura, no fazer artesanal e em iniciativas pró-sustentabilidade. Estou muito feliz pelo retorno deste primeiro desfile em São Paulo. Estaremos também no salão de negócios do Minas Trend e espero que esta coleção que traz elementos urbanos para a moda festa, também faça sucesso na loja que inauguramos em Los Angeles (EUA)”, almeja. A estilista destaca as peças em denim como menina dos olhos na coleção.

 

 

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