Mudança no consumo. Grifes mineiras se adaptam aos novos tempos

Grifes mineiras de atacado estão investindo nos primeiros pontos monomarca, outra inaugura loja no exterior e quem já está no mercado amplia, num movimento que aponta para o investimento alto no consumidor final

por Laura Valente 19/12/2016 22:17

Leca Novo/Divulgação
Frutacor inicia as vendas em sua loja online (foto: Leca Novo/Divulgação)
Ninguém duvida de que a crise existe, e vem abalando a indústria da moda brasileira há várias temporadas. Mas faz barulho um movimento vindo do setor de confecção que anda na contra mão do pessimismo e aponta o consumidor final como peça importante na busca por oportunidades e crescimento. Ele vem se revelando amplo e traz alguns personagens diferentes. Há grifes que até então só vendiam no esquema de atacado e, nos últimos meses, abriram lojas próprias, caso da estilista Renata Campos e das quatro marcas que compõem o Grupo Nohda: Apartamento 03, Lucas Magalhães, Pat. Bo e Patrícia Bonaldi. Com origem em Uberlândia, Fabiana Milazzo anuncia o primeiro ponto de venda no exterior – em Los Angeles, EUA. Já veterana, com 30 anos de mercado, a Brasil em Gotas investiu no sexto ponto de venda próprio na cidade (Pátio Savassi) e há, ainda, quem lança fichas na abertura de loja on-line, case recente da Frutacor. Cada qual em seu estilo, elas apresentam em comum o desejo de crescer e de proporcionar ao cliente experiências de consumo completas.

“Estamos há 19 anos no mercado e nos últimos três anos fizemos um planejamento de crescimento da marca que englobou, entre as ações, a abertura de uma loja própria. Isso porque a procura pela marca em Belo Horizonte sempre foi muito grande e após o lançamento de nosso e-commerce vimos o quão importante seria ter uma loja física”, revela Renata Campos. Ela afirma ainda que o objetivo da inauguração do espaço é, acima de tudo, oferecer um atendimento exclusivo e intimista às clientes. Além disso, disponibilizar mais produtos da coleção e também transmitir um pouco da essência da marca para o público. Aberta há pouco mais de um mês, a loja está localizada na mesma casa onde fica a fábrica da marca, no bairro Santo Antônio. O espaço foi inteiramente repaginado, com projeto assinado pelas arquitetas Camila Ribeiro e Isabela Lara. “Contamos com uma estética contemporânea, moderna e clean, que se contrapõe perfeitamente com os tricôs sofisticados e inusitados da marca”, cita ela.

Vale destacar que a expectativa é que a loja responda pela faixa de 15% a 20% dos negócios realizados pela grife a cada temporada, incrementando o resultado com a soma das vendas para cerca de 160 pontos de venda multimarcas do país (ainda no esquema de atacado) e a clientes finais do e-commerce. O preço médio de um modelo da marca é R$ 450. Entre os diferenciais da loja que objetivam conquistar a fidelidade do cliente ela aponta o atendimento personalizado (realizado por consultoras de imagem), a oferta de uma coleção completa e a consequente facilidade em encontrar todas as cerca de 350 metros quadrados peças lançadas pela grife a cada temporada. “Acredito que a tendência das grandes marcas é investir na abertura de lojas próprias, pois além de fortalecer nossa imagem faz com que o consumidor se envolva e se identifique mais com o nosso universo. Tanto que já estamos estudando a possibilidade de ampliar a atuação no varejo”, destaca.

Grupo de luxo À frente do Grupo Nohda, a estilista Patrícia Bonaldi lançou loja aqui, em BH, e também na cidade natal da grife que leva o nome dela, Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “Criamos a loja Nohda pela importância de reforçar a união das quatro marcas que a compõem e também para proporcionar ao cliente um espaço que tenha todas as coleções em um mesmo local, com todo atendimento e suporte das fábricas e ateliês”, justifica ela. Sem citar o valor do investimento, ela informa que o projeto da loja de BH, um espaço de 350 metros quadrados no bairro de Lourdes – foi desenvolvido pelo arquiteto Pedro Lázaro. Já o de Uberlândia é assinado pela arquiteta Márcia Paiva, com 149,60m², e seguindo a identidade do espaço da capital mineira, com uso da paleta rosa contrastando com cinza e concreto e o metal na cor cobre.

Vale ressaltar que o grupo já exporta para 16 países e, juntas, as quatro grifes contam com a média de 315 pontos de venda multimarcas no país (120 pontos de venda de Patbo, 100 de Patrícia Bonaldi, 70 de Apartamento03 e 25 de Lucas Magalhães). Ao todo, as quatro marcas lançam cerca de 695 modelos diferentes por temporada. Também já tem três lojas em São Paulo (Patricia Bonaldi e Apartamento03 no bairro do Jardins, na Rua Bela Cintra, Patbo no Shopping JK), duas lojas PatBo no Rio de Janeiro (Shopping Village Mall e Shopping Leblon) e está para lançar o ecommerce. “A plataforma já estará funcionando a partir do ano que vem”, adianta ela. O tiquete médio varia de R$1.350 (modelos Lucas Magalhães) a R$ R$ 6.000 (modelos Patrícia Bonaldi), preço que o consumidor final parece disposto a investir. “Iremos ampliar a atuação do grupo no varejo em 2017”, avisa Patrícia.

No exterior Também no segmento festa a estilista Fabiana Milazzo alça voo arrojado no varejo: a abertura da primeira loja própria no exterior, mais especificamente em Los Angeles, Califórnia. “Atualmente, a marca está presente em aproximadamente 90 multimarcas das mais diversas regiões do Brasil, clientes que compram atacado nas feira e no showroom. Temos também duas lojas próprias da marca, uma em Uberlândia e outra em São Paulo, que atendem diretamente ao mercado varejo, e, em breve, a loja de Los Angeles seguirá o mesmo formato”, contextualiza.

A experiência no exterior não é recente, já que a grife participou por muitos anos da feira Tranoi, em Paris, de onde atendeu clientes do mundo todo, com destaque para países do Oriente Médio e da Europa. Porém a demanda do mercado americano estava latente. “Escolhemos os EUA para abertura da nossa primeira loja internacional, e Los Angeles é onde as grandes festas e premiações acontecem”, justifica. O endereço escolhido é um charmoso sobrado na Melrose Place, reduto de grandes marcas de moda e de uma vida cultural bem agitada. “O espaço será assinado pela arquiteta Leticia Nobell e tem 120m². O leiaute seguirá o conceito da marca e das nossas lojas do Brasil.” Fabiana ainda não crava números, mas revela a expectativa para o investimento. “ É um mercado que ainda vamos sentir, mas as expectativas são muito boas, visto que estamos na terra das festas e grandes eventos”. Entre os plus que pretende oferecer às consumidoras gringas está o tratamento vip que já recebem nas lojas brasileiras. “Temos um cadastro muito grande e nossas clientes costumam ser fiéis. Para elas, sempre enviamos em primeira mão as novidades da loja, entregamos algumas peças em casa se necessário e elas são sempre convidadas a prestigiar nossos eventos”, ressalta. Sobre a crise, a estilista dá de ombros. “Levando em conta o momento atual da empresa, consideramos propício e maduro buscar novos caminhos que visem à internacionalização. Realmente, é um projeto arrojado, mas acredito muito no diferencial do produto e tenho certeza de que ocupará seu espaço no mercado americano”, conclui.
 
 
Gerações 
 
 
Grife veterana na moda mineira, a Brasil em Gotas aposta no atendimento a diferentes gerações de clientes para manter o sucesso há 30 anos. Tanto que acabou de inaugurar o sexto ponto de venda na cidade, como comenta o proprietário, Sérgio de Freitas Fonseca. “Começamos com uma ponta de estoque de marcas consagradas na década de 1980, em um momento em que a moda mineira estava no auge, mas logo abrimos nossa primeira loja na Rua Tomé de Souza e já partimos para a produção própria”, lembra. Com DNA baseado na alfaiataria, desde então a grife oferece cerca de 500 modelos diferentes por coleção, todos de fabricação própria e com foco no varejo.

Apesar da malfadada crise, o investimento no novo espaço é justificado como oportunidade. “O shopping está consolidado e é onde se concentra o maior número de marcas consagradas por metro quadrado. O objetivo é o fortalecimento da marca”, aponta ele. Sérgio afirma ainda que a expectativa de retorno para o projeto, assinado pelo arquiteto Carico, é de responder por um aumento de 20% nas vendas da grife, “o que para nós será um desafio, visto muitas vezes que a demanda ultrapassa nossa produção”, ressalta.

Com tiquete médio de R$ 300 por modelo, a grife passa ao largo da crise, como explica o empresário. “Nas lojas oferecemos informação de moda, modelagem impecável, preço justo e excelência no atendimento. A aposta no varejo é uma tendência mudial e para nós é aliada ao fato de que na Brasil em Gotas não falamos de crise. Penso que neste momento que o Brasil vive perde-se muito tempo lamentando e muitas empresas deixam de investir. Não é nosso caso. Nossa principal acão, de janeiro a janeiro, é apresentar uma experiência nova cada vez que nossas clientes vêm às nossas lojas. Elas sabem que, quase diariamente, chegam novidades”, avisa.

Contra fatos não há argumentos. Nem mesmo para os pessimistas, Sérgio termina 2016 no azul, com aumento de 20% nas vendas, e espera um 2017 ainda melhor. “Temos propostas para abrir pontos de venda em Brasília, São Paulo e Canadá, mas não podemos arriscar diminuir nosso padrão de qualidade. Se para aumentarmar nossa produção tivermos que abdicar da qualidade, então ainda não é a hora”, ressalva. O empresário não indica uma fórmula para o sucesso, mas aposta na fidelização de clientes como um porto seguro, e próspero. “Uma das características da Brasil em Gotas é a fidelização dos clientes, que já estão na terceira geração. Daí que houve uma renovação do estilo para atender tanto a esse público cativo quanto às jovens que vão chegando. A coleção verão’2017 é uma prova disso. Versátil, está fresh e atraente, colorida e jovem.”

Varejo eletrônico Também o varejo eletrônico é alternativa para ampliar vendas. A Frutacor, também sediada em BH, acaba de lançar um canal na plataforma. Lucas Bastos, diretor comercial e financeiro da grife, informa que cerca de 400 multimarcas trabalham com as coleções da marca no país, e que o e-commerce surgiu para complementar esse posicionamento e fortalecer o nome da marca entre o consumidor final. Com tiquete médio por peça na casa dos R$ 500, a expectativa é realista. “Nosso foco principal ainda não é o varejo, pelo menos a curto prazo. Mas estamos sempre atentos às novidades do mercado e queremos facilitar o acesso de clientes de lugares distantes aos nossos produtos. Além disso, reforçar nosso nome, o que impacta de forma positiva nosso trabalho no atacado.” Já para este Natal, a grife lança facilidades para o consumidor da web, oferecendo frete grátis. “A nossa expectativa para 2017 é continuar com forte investimento no atacado, ao mesmo tempo em que pretendemos trabalhar bem o e-commerce para atender o público de varejo”, finaliza.

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