Tem lugar pro Neymar?

Uma conversa de um domigão daqueles que está dando o que falar e rir até hoje

por Eduardo Avelar 14/04/2013 16:45
O que o Neymar tem a ver com cozinha? Você deve estar se perguntando. Se fosse em um artigo ou coluna sobre decoração até daria pra entender, pelas diversas vezes em que ele foi flagrado na banheira nos seus jogos. Mas eu explico: tudo começou num domingão daqueles, repletos de boa comida e jogos de futebol, e eu estava preparando mais um almoço entre amigos, que está dando o que falar e rir até hoje. Foi na casa do amigo golfista Fernando Dias, da Master Turismo.

A resenha começou cedo, pois o amigo lusitano escolheu uma paella espanhola para receber a turma, que, de certa maneira, se indignou e rebatizou o prato de "arroix do sul de Purtugal com frutux do mediterâneo". A estratégia, se foi esta a intenção dos amigos, deu muito certo, pois a adega repleta de ótimos vinhos de além-mar foi aberta sem, cerimônias para degustações as cegas. As brincadeiras se sucediam a cada garrafa que era aberta e, segundo os entendedores de plantão, todas no ocaso de suas vidas.

A alegação em tom provocativo era que a adega estava sempre trancada, onde os tesouros do Douro, Alentejo, entre outros, estavam no limiar de suas plenitudes gustativas. E o resultado era imediato, com nova rodada de sabores. As brincadeiras continuaram e, em certo momento, como de praxe numa roda de homens, surgiu o futebol como ingrediente principal das provocações. Inicialmente, falava-se de Barcelona, o que até combinava com o menu da tarde, mas logo surgiu a primeira joia do dia. Para desespero de uma minoria de cruzeirenses naquela roda, soltaram a primeira "ufanada preto e branca": "O Barcelona é o Galo da Europa". O mundial vem aí, rumo a Marrakech, etc. etc. Do outro lado, alguns cruzeirenses fingiam não dar atenção, de olho no telefone celular, acompanhando a goleada do seu time sobre o coelho ou segundo alguns "inimigos maldosos", estavam de olho mesmo no jogo do Galo. Paella servida, os gols se sucedendo, as brincadeiras já no ritmo ditado pelas intermináveis taças de vinho e surgiu a melhor para fechar a prosa. Segundo um atleticano pouco fanático, o Galo deveria representar o Brasil na Copa das Confederações e não precisaria nem do Felipão. Muitos, ou quase todos, exceto os cruzeirenses é lógico, concordaram, mas surgiu a grande dúvida. O Neymar seria chamado? O primeiro a se manifestar o fez em tom firme e solene após uma bela garfada no camarão. É claro que sim, mas para o banco de reservas. E não deu tempo nem de cruzeirenses retrucarem quando um indivíduo um pouco mais fanático emendou com os lábios ainda na taça de vinho.

Mas no lugar de quem? Algazarra geral, com alguns quase engolindo as taças, os cruzeirenses se levantaram imediatamente indignados, outros rolaram no chão, mas ao final, a confraternização entre amigos falou mais alto do que as paixões
"clubísticas". Todos rindo de si e dos outros num clima de deliciosa cordialidade e esportividade. E você amigo da cozinha, certamente concorda que não poderia ser diferente. Infelizmente, o que temos acompanhado em todo o país são exemplos de intolerância e selvageria dentro e fora dos estádios, o que demonstra como estamos atrasados quando se fala em educação ou gentileza. O futebol que é pura arte e entretenimento é uma das maiores alegrias dos brasileiros e não pode continuar sendo pano de fundo para delinquentes manifestarem suas índoles.

Quem sabe um dia os torcedores de todo o Brasil não conseguem transformam os estádios em enormes mesas para se confraternizarem, enquanto seus times ganham ou perdem, como deve ser no esporte? E degustarem em paz a companhia de suas famílias com um delicioso tropeirinho e a inseparável cerveja gelada, que vai voltar aos estádios, se Deus quiser! Domingo é dia de mesa, futebol e alegria. E nessa mesa tem lugar pra todo mundo, inclusive pro Neymar!

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