Aroma doce do araticum vai do Cerrado às receitas de sobremesa

Fruta exótica ainda é pouco explorada na gastronomia, mas já rende variações interessantes

10/03/2013 12:43

Leandro Couri/EM/D.A Press
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O aroma de uma das mais imponentes frutas do Cerrado é inconfundível. É o que se pode constatar no Mercado Central, espaço que reserva cheiros e sabores que encantam os mineiros e que vêm de outras partes do Brasil e do mundo para conhecer Belo Horizonte. Nos últimos dias, um aroma doce e perfumado pode ser sentido em todos os corredores. É o araticum, uma das frutas desse bioma ainda pouco usada na gastronomia, mas que tem uma legião de apreciadores.

 

“É uma fruta ainda muito desconhecida e ainda não chegou à cozinha dos grandes chefs. Quem sabe um dia”, afirma a sorveteira Rita de Medeiros. Autora do livro 'Sorbets e sorvetes: uma festa de frutas brasileiras', ela ensina como preparar sobremesas geladas com o fruto. É possível usá-lo também no preparo de outros doces e a chef faz experiência com o petit gateau. Com sabor bem característico, é o tipo de fruta que as pessoas amam ou odeiam.

 

É o que percebe o feirante Reinaldo Belchior Álves que deixa sempre um fruto aberto para quem deseja experimentar. “É muito procurado. O nosso vem direto de Montes Claros, é o mais tradicional”, garante. Ao falar dos benefícios da fruta, Reinaldo elenca que ela é rica em vitaminas, bem como tem função afrodisíaca.


O araticum é umas da frutas do cerrado que apresenta muita personalidade. A exemplo do pequi, seu aroma e o seu perfume são fortes, exuberantes e muito doce. “Quando suas frutas estão maduras, os visitantes logo reconhecem o cheiro, que de longe já chama a nossa atenção”, pontua. O mais comum é saboreá-lo in natura. Mas ele pode ser usado em doces, salgados e uma infinidade de experiências gastronômicas ainda podem ser feitas.


Como lembra Rita, uma das peculiaridades das frutas do cerrado é que os perfumes e os aromas se misturam mesmo entre espécime diferentes. Quando se prova o fruto murici ou o pequi, é possível perceber um toque parecido do araticum. Ao consumir qualquer um dos frutos, o apreciador se remete ao universo do Cerrado. “A gente consegue perceber o perfume de uma na outra. Isso é próprio de uma natureza em que nada foi mexido. As sementes não foram manipuladas. Por isso, ainda temos o perfume integral desde quando as primeiras sementes surgiram, há mais de 1 mil anos.”


Rita ressalta que não há pesquisas científicas em torno disso e a forma de entender por que os aromas se misturam pode ser explicada pela poesia. “Pela ciência a gente ainda não chegou lá”, brinca. “A meu ver, a gente tem que entender as frutas do cerrado pelo lado da poesia. Elas, como nenhuma outra, aprenderam a dividir o território e as suas raízes acabam mesmo se misturando, gerando um bloco único e fantástico de espécie tão diversas.”


No Guia Ilustrado de Plantas do Cerrado de Minas Gerais, o araticum aparece com destaque. De acordo com a publicação, os sertanejos não se desfazem da árvore em virtude de seus frutos. Por essa razão, é uma das espécies poupadas do carvoejamento, o que ocorre com outras espécies. Também é conhecido popularmente como cabeça-de-negro, nome esse derivado do aspecto e forma de seus frutos.


A árvore costuma ter tronco ereto e pode alcançar até oito metros de altura. A casca é clara e se descama como cortiça. O fruto é carnoso e com várias sementes. Pesa em média 1 quilo. A parte externa é dura e escura. A polpa é dourada, de cheiro forte. Nativo do Planalto Central brasileiro, o araticum pode ser encontrado nas áreas de cerradão, cerrado, cerrado denso, cerrado ralo e campo rupestre. Sua distribuição ocorre no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí e Tocantins.

 

 

Petit gateau de araticum (para 1 unidade)


Ingredientes
10 gemas, 200g de chocolate branco picado (não pode ser o fracionado), 200 gramas de manteiga de leite sem sal, 50 gramas de polpa de araticum passada por uma peneira, 100 gramas de farinha de trigo, uma pitada de sal

Modo de fazer
Derreta o chocolate com a manteiga em um microonda, cuidando para não queimar. Use a potência baixa por quatro minutos, se for necessário coloque por mais um minuto. Acrescente à mistura de chocolate e manteiga 10 gemas e cinco claras mexidas com um garfo muito bem. Nesta receita você vai descartar 5 claras que podem ser usadas em um bolo ou pudim de claras. Acrescente o açúcar e a polpa de araticum e a farinha de trigo. Leve essa mistura para uma geladeira. Reserve por uma hora.

 

Enquanto isso, prepare as forminhas de petit gateau ou de empadinhas da seguinte maneira: unte todas elas e sobre elas polvilhe chocolate em pó. Leve as forminhas vazias para um freezer por mais ou menos uma hora. Preencha cada uma delas com a mistura de petit gateau. Mantenha-as na geladeira até a hora de assar. Para assá-las faça assim: esquente o forno convencional até 250 a 300 graus. Quando estiver bem quente. Coloque as forminhas e asse-as por apenas 7 minutos. Retire-as do forno e espere alguns segundos para desenformar. Sirva imediatamente. 

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