Saideira do Comida di Buteco em ritmo de samba

22/05/2009 07:00
Maria Lúcia Martins/Divulgação
Os bambas Luiz Melodia, Elton Medeiros e Moacyr Luz estarão na roda de samba deste sábado (foto: Maria Lúcia Martins/Divulgação)

Cantor, compositor, instrumentista e escritor, o carioca Moacyr Luz, de 51 anos, tornou-se uma espécie de autoridade em botequim desde que trocou o subúrbio de Jacarepaguá pela Tijuca, transferindo-se mais recentemente para Santa Tereza. Autor dos livros Manual de sobrevivência nos botequins mais vagabundos (Editora Senac Rio) e Botequim de bêbado tem dono (Editora Desiderata), ele chega a Belo Horizonte para comandar uma roda de samba na festa Saideira Comida di Buteco, que durante três dias vai agitar o Centro Esportivo Universitário (CEU) da UFMG, na Pampulha. Acompanhado de banda, Moacyr estará recebendo amanhã à noite os bambas Elton Medeiros e Luiz Melodia , além da jovem cantora mineira Aline Calixto que, em breve, estará lançando o primeiro CD.

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Mais de 35 horas de música e o melhor da culinária de raiz é a promessa da produção da festa, que, até domingo, estará comemorando a primeira década do festival de tira-gosto que já se tornou uma verdadeira mania. Além dos famosos quitutes, bebidas e muito samba, no evento não vão faltar choro, bossa nova, maracatu, black music e samba-rock. Nada menos do que 44 botecos (veja mapa) de Belo Horizonte e os vencedores do Comida di Buteco do Rio, Salvador e Goiânia estarão participando da Saideira, que depois dos problemas de infra-estrutura da edição passada, promete conforto e segurança para o público em novo local.

“Se a gente for ver, desde a bossa nova a história do samba se passava em botequins, como os Veloso e Vilariño da vida, onde estavam Vinicius de Morais, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli”, recorda Moacyr Luz, adepto assumido dos botequins do Mercado Central de Belo Horizonte. “Tem uma coisa no mercado de BH que no Rio se perdeu um pouco, que é beber em pé”, diz o artista, que jamais deixa de provar no local uma boa porção de jiló com fígado acebolado ou de carne de panela, acompanhada da indispensável dose de pinga. “O botequim é a cultura de uma cidade. Ele é o estrato do pensamento da cidade”, filosofa o músico, lembrando que o espírito dos nossos botequins se assemelha ao das cantinas italianas e cubanas, além dos cafés argentinos.

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QUÍMICA PERFEITA

Para Moacyr, é mais fácil tocar um tamborim do que um piano em um botequim. “O espaço faz parte da natureza solar brasileira, onde as pessoas normalmente estão à vontade, de bermuda, sem camisa. É uma coisa muito presente no cotidiano da gente. Quando se junta o principal estilo musical brasileiro (samba) com a nossa principal característica (botequim) vira esta química do samba no botequim”, constata o músico, salientando a informalidade das rodas de samba, proporcionada pela alegria do ritmo. “A combinação do samba com o botequim é perfeita. É o casamento que deu certo”, compara Moacyr Luz, lamentando a insistência de letreiros de advertência do tipo ‘É proibido batucar, entrar sem camisa, tocar instrumentos sonoros’, que ainda sobrevivem em alguns bares.

A presença de instrumentos acústicos (cavaquinho, violão 7 cordas, pandeiro e percussão), associada a um bom repertório, é a garantia de sucesso da roda de samba, em que a informalidade é responsável pela adesão do público. “O bom repertório de samba é aquele que nunca esquece os clássicos”, ensina Moacyr Luz, lembrando que as rodas estão sempre respaldadas por pérolas dos mestres, além das de representantes da velha-guarda das escolas de samba. “Geralmente, quando é um partido alto, algo muito específico, com um verso meio sintetizado feito um hai-kai, as pessoas adoram cantar”, salienta ele, admitindo que o ineditismo nem sempre é necessário nas rodas de samba. De lavra própria, Moacyr diz orgulhar-se de Pra que pedir perdão, um dos prediletos das rodas que comanda ou frequenta. Uma das mais famosas, o Samba do Trabalhador, do Clube Democrático, está fazendo escola Brasil afora.

Além da cerveja ou chope e da indispensável batida (limão, maracujá e outros sabores) de pinga, o sambista diz que nas rodas de samba não pode faltar algo que ajude a quebrar a gordura de tira-gostos como torresmo, por exemplo. “Mas quando é festa de fundo de quintal é comida pesada mesmo, como rabada, angu-à-baiana, mocotó”. “Em botequim normalmente é algo imediato, que já tem ali no balcão”, acrescenta o sambista. Um evento do gênero também não tem hora para acabar, segundo o músico. “Os turnos vão mudando”, recorda Moacyr Luz, salientando que geralmente são muitos músicos presentes nas rodas. Em repertório de cerca de 20 composições, Moacyr, Elton e Luiz Melodia vão dividir o palco, recebendo de convidada a cantora Aline Calixto, que vai abre a noite .

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TEM BATUQUE NA COZINHA SAIDEIRA COMIDA DI BUTECO — 10 ANOS

Sábado, às 20h, Moacyr Luz recebe os convidados Aline Calixto, Elton Medeiros e Luiz Melodia em roda de samba, no Centro Esportivo Universitário (CEU) da UFMG, Avenida Alfredo Camaratti, s/nº, Pampulha, em frente ao estádio do Mineirão.

A festa Saideira será realizada no local sexta, a partir 17h; sábado e domingo, a partir 12h. Os ingressos – R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada) – são limitados e estão à venda nos bares participantes. Estacionamento no local para 1,3 mil carros. Informações: www.comidadibuteco.com.br.

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