Produtores advertem: setor de entretenimento está à beira do colapso

Levantamento da Abrape aponta cancelamento de 51,9% dos eventos programados por associados da entidade, com prejuízo de R$ 290 milhões

Pedro Galvão 04/04/2020 04:00
Beto Magalhães/EM/D.A Press
Lúcio Oliveira, diretor da produtora Artbhz (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)

Em meio à incerteza geral por conta da pandemia da COVID-19, o setor da cultura e entretenimento faz as contas e demonstra uma preocupação extra. De acordo com levantamento da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), mais da metade da agenda prevista para 2020 foi cancelada, seguindo as recomendações sanitárias. Profissionais e empresários do ramo contabilizam prejuízos, lamentam a impossibilidade de planejar o futuro e temem que a área de entretenimento entre em colapso no país.

O levantamento aponta que 51,9% dos eventos programados para este ano foram cancelados, adiados ou estão em situação incerta. O prejuízo pode chegar a R$ 290 milhões, considerando apenas as empresas associadas à Abrape.

“Cada setor é impactado de uma forma. A área de entretenimento recebeu o maior impacto, talvez porque foi a primeira proibida de trabalhar. Temos 100% de decréscimo nas receitas, e nossa atividade deve ser a última a ser liberada”, alerta o presidente da Abrape, Doreni Caramori. “É o mesmo que iniciar o ano sabendo que metade dele já está comprometido”, compara.

Caramori ressalta que, no momento, os esforços se concentram em “medidas que compensem a realidade”, para garantir a sobrevivência das empresas e a manutenção dos funcionários. Ele cita iniciativas junto ao poder público para facilitar o crédito e o refinanciamento de tributos. Porém, a preocupação maior é a imprevisibilidade da retomada das atividades.

O presidente da Abrape afirma que há bons entendimentos para garantir direitos dos consumidores – inclusive a campanha para que ressarcimentos de ingressos não sejam solicitados, no caso de eventos remarcados –, mas pondera: “Queremos que todos usufruam dos serviços, mas para isso as empresas têm de estar vivas.”

“O comércio, por exemplo, assim que puder abrir as portas, volta a vender. O nosso setor é mais complexo. É preciso saber quando isso acontecerá para podermos planejar a realização, divulgação e só então vender ingressos. Certamente, precisaremos de novas medidas de apoio a essa retomada, seja com incentivos fiscais às empresas ou à cadeira produtiva. Afinal, somos um setor importante no PIB do país”, argumenta Caramori. De acordo com ele, as 200 empresas associadas da Abrape são responsáveis por cerca de 600 mil empregos diretos.

Entre pequenos shows cancelados e grandes festivais como o Lollapalooza – que ocorreria agora no primeiro semestre, em São Paulo, e foi adiado para dezembro –, a situação atinge vasta cadeia, que inclui produtoras de música, teatro e dança, exposições, companhias voltadas para logística de som, iluminação, segurança e comunicação, entre outras áreas.


MINAS

A empresa belo-horizontina Artbhz, especializada em produções musicais de grande porte e eventos para o público infantojuvenil, sofre duramente os efeitos da crise causada pela pandemia do coronavírus.

O diretor Lucio Oliveira revela que cancelamentos e adiamentos afetaram shows marcados para o Mineirão, além de exposições em shopping centers. Algumas delas, já montadas, nem sequer podem ser retiradas dos espaços, pois eles se encontram fechados. Alegando razões contratuais, o empresário não informou quais são os eventos nessa situação.

Oliveira afirma que a incerteza sobre o futuro é um problema grave. Há demanda por medidas emergenciais para equilibrar contas, garantir o pagamento de fornecedores e evitar demissões, ainda que mediante redução de contratos. “As preocupações são muitas. Especialmente no caso da retomada, que garantia teremos sobre como e quando os eventos poderão se realizar?”, questiona.

O produtor cobra maior valorização do setor. “A quarentena mostra um paradoxo. O consumo de cultura se revela muito importante, maior do que antes. As pessoas estão vendo mais filmes e shows pela rede social. De um lado, há o aumento desse consumo cultural, de outro a queda total de nossas receitas. Pelo menos, fica clara a importância do nosso negócio e do entretenimento na vida das pessoas. Nós somos qualidade de vida”, conclui.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Clima de incerteza cerca megafestivais de música (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

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