Fãs se dividem sobre posicionamento de artistas em relação a Bolsonaro

Anitta fica em cima do muro, Leoni e Samuel Rosa aderem à campanha #EleNão, Roger e Digão apoiam o candidato do PSL. Polêmica toma conta das redes sociais dos famosos

por Cecília Emiliana , Márcia Maria Cruz Mariana Peixoto 20/09/2018 07:00
Reprodução Instagram/Beto Magalhães/Lucas Lima
(foto: Reprodução Instagram/Beto Magalhães/Lucas Lima)
Em quem você vai votar? Uma pergunta tão simples, feita a cada quatro anos há quase 30 – desde as eleições presidenciais de 1989, que marcaram o retorno do voto direto pós ditadura militar no Brasil – virou um verdadeiro cavalo de batalha virtual.

Mas não foi a intenção de voto, e sim a de não voto, que se tornou o assunto da semana nas redes sociais.

A partir do grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, criado na semana passada no Facebook, a campanha #EleNão se espalhou pelo Instagram e pelo Twitter.

As postagens com a hashtag chegaram às redes sociais de artistas, que agora experimentam a reação extremada de fãs. “Se o país não for para cada um não será pra nenhum”, verso de Esmola (Samuel Rosa/Chico Amaral), canção do Skank, foi citada por Samuel Rosa em sua conta no Instagram (@samuelrosaoficial) para acompanhar uma imagem com os dizeres “Ele não”.

O vocalista do Skank citou ainda versos de outras canções de cunho social da banda (Indignação, Los pretos) antes de afirmar: “Por mais de 20 anos entoei esses versos de nossas canções pelo Brasil afora, boa parte do país cantou conosco. Continuo fiel às minhas convicções e respondo por elas”.

A reação, contra e a favor, foi imediata.

“Maria Comunista! Ta com medin de perder seus privilégios da Lei Rouanet, né? Já n basta o q ganhas?”, postou um internauta. “Democracia é assim, não concordo com a postura, deixo de seguir e seguimos felizes... não foi um prazer!”, publicou outro. “Duro de tão indignado...momento de união para entoar: Ele Não!!!”, reagiu um fã da banda.

Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, foi mais sintético – só publicou uma imagem com os dizeres “Ele não” em sua conta no Instagram (@dinhoouropreto). Pois isto bastou para uma enxurrada de “Ele sim” acompanhada do número da candidatura de Bolsonaro.

Mais ativo nas redes sociais do que Samuel e Dinho, Leoni vem há tempos demonstrando seu posicionamento político no Facebook (@leonioficial), Twitter (@leoni_a_jato) e Instagram (@leonioficial). Nesta última rede, postou uma entrevista de Bolsonaro de 1999, em que ele fala que fecharia o Congresso Nacional, “não há dúvida, daria golpe no mesmo dia”. “Depois não vão dizer que ele não avisou”, escreveu Leoni, ao lado do #EleNão.

Ao Estado de Minas o cantor e compositor afirmou que considera o momento do país “muito delicado para eu me esconder”. “Na eleição passada (2014) a coisa também foi muito violenta, só que ela não se radicalizou. Não havia o lado do Bolsonaro, que é a questão militarista, que provoca intolerância nos outros.”

Há dois dias Leoni colocou filtros em suas redes sociais. “Se continuo a ser atacado, não sei. Depois que descobri que poderia colocar filtros, não fico mais sabendo. Estava tudo muito violento, até mesmo quando estava falando de outra coisa, como comentando uma entrevista da Marina Silva (Rede). Escreveram que era autor de uma música só, por exemplo.”

Leoni afirma que chegou a perder tempo tentando argumentar. “Minha ideia era tentar enriquecer a história, mas houve muito desgaste. Recebi ameaça de morte, de violência física.”

ANITTA As reações à candidatura de Jair Bolsonaro também colocaram a cantora Anitta, que tem uma grande base de fãs na comunidade LGBT, no centro de uma polêmica ontem. Não passou despercebido o fato de a funkeira ter começado a seguir nas redes sociais o perfil de uma amiga que declara apoio ao presidenciável do PSL. Muitos viram nesse gesto uma declaração indireta de apoio ao candidato que é visto como o maior adversário da garantia de direitos dos cidadãos LGBT, assim como das políticas de combate à violência contra eles. Anitta passou a ser então severamente criticada em suas redes sociais e convocada a se posicionar contrariamente a Bolsonaro, o que ela não fez.

A cantora invocou seu “direito ao voto secreto” e a não se “posicionar publicamente sobre política”. A atitude provocou uma reação de repúdio expressa por meio da hashtag #AnittaIsOverParty, que declara encerrada a tentativa da cantora de se tornar um nome expressivo internacionalmente na indústria musical.

Ela chegou a divulgar um vídeo no qual afirma: “Não é porque eu sou uma artista e tenho uma vida pública que eu sou obrigada a dizer qual é o meu voto e que eu devo receber ameaça e xingamento por eu não falar publicamente sobre isso”.

“Só queríamos te dizer @Anitta que ninguém quer saber seu candidato e nem que você faça campanha pra ninguém. Bolsonaro não é questão política, é questão de sobrevivência do seu público, é muito hipócrita dizer ‘estou sendo atacada, ameaçada por política’, quando seu público morre”, comentou um fã (ou ex-fã) no perfil da cantora.

Uma reação de apoio a Anitta também foi incentivada, aparentemente por simpatizantes do candidato do PSL, que passaram a classificar as críticas feitas à cantora como manifestação de intolerância. Num último aceno aos seus antigos fãs cativos, Anitta chegou a afirmar no Twitter que ela não é apenas uma apoiadora da comunidade LGBT, mas um membro dela, deixando implícita uma condição bissexual. “É totalmente incoerente dizer que eu apoio a morte à comunidade LGBTQ+ quando eu faço parte dela. Estaria apoiando minha própria morte”, escreveu.

A polêmica com Anitta dominou a segunda metade do dia de ontem. A manhã foi reservada à reverberação de tuítes antigos da Rainha do Rock nacional. Em 2011, Rita Lee postou uma série de mensagens nas quais afirma ter tido um romance com Jair Bolsonaro e insinua que ele é gay. Num tom entre a ambiguidade e a troça, as postagens de Rita Lee não deixam claro se ela está fazendo uma brincadeira ou falando sério.

“Bolsonaro e eu tivemos um caso. Ele não era muito chegado na coisa, se é que me entendem. Terminamos porque Bolsinho tava de olho num colega de classe. Hoje Bolsonaro vira a cara para mim. Deve temer que eu conte ao mundo seus segredos mais íntimos. Se continuar nesse nhenhenhém, eu conto mesmo”, escreveu. A conta de Rita Lee não é atualizada desde novembro de 2013. Após a intensa repercussão de seus tuítes datados de 2011, ela foi alterada para o modo privado na tarde de ontem. 

MAIS SOBRE E-MAIS