Jornalista monta acervo digital da extinta Revista Playboy

Todos os ensaios e grandes entrevistas, além de outros quadros, serão armazenados no Inside Playboy Brasil

Nana Moraes/Bob Wolfenson/Montagem
O Inside Playboy Brasil é um site que armazena todo o legado deixado em mais de 40 anos da circulação da revista no país (foto: Nana Moraes/Bob Wolfenson/Montagem)
 

Playboy estreou no Brasil em 1975 pelas mãos da Editora Abril. A produção durou cerca de 40 anos e publicou mais de 487 edições. Em 2016, o grupo PBB Entertainment lançou mais 10 edições em intervalos irregulares até o fim do ano seguinte, quando a icônica revista saiu de circulação de vez.

 

O fim de grandes marcos da cultura pop brasileira, como a MTV e a Playboy; coincidentemente (ou não) administradas pela mesma editora, colocou em risco um grande acervo que pode ser preservado e ter muito mais utilidade. É aí que entra o trabalho desenvolvido pelo Inside Playboy Brasil, feito por Geylson Paiva.

 

Geylson é jornalista e entusiasta da revista desde o fim dos anos 90, quando ainda era menor de idade. O maranhense contou em entrevista exclusiva para o Portal Uai como a paixão pela Playboy começou:

 

"Meu primeiro contato foi com a da Marisa Orth (1997), na casa do meu pai. Também teve a da Carla Perez (1998). Em 1999 eu fiz minha primeira assinatura com ajuda do meu irmão, que era maior de idade", disse o colecionador.  

 

Daí em diante, o acervo foi ganhando forma e crescendo, ao ponto de Geylson ter mantido contato com a PBB, o qual não traz as melhores lembranças para ele. Entre o fim definitivo da circulação da revista e alguns projetos em parceria com outros colecionadores, o jornalista tomou uma decisão: Seguir sozinho

 

Desta forma, Geylson começou a construir seu próprio acervo virtual no ano passado. Ao Uai, ele revelou que o trabalho desenvolvido pelo Inside Playboy é único no mundo:

 

"Existem outros sites que comparam ensaios, reúnem todas as capas da história, mas só o Inside realiza esse trabalho de acervo com as entrevistas, charges, ensaios, quadros, etc"

 

A ideia é trazer todo o material físico para o site; trabalho feito à mão e com muita calma por ele mesmo, que tem todas as edições publicadas no Brasil. Ou seja: ainda vai demorar um pouquinho até que tudo esteja devidamente organizado no IPB, segundo o próprio contou ao Portal. Mas a cada lançamento, seja de um grande ensaio ou entrevista, ele costuma avisar através de seu instagram, o @insideplayboybrasil.

 

Quando perguntado se tem algum ensaio preferido, ele não conseguiu citar apenas um: 

 

"Todos feitos pelo Bob (Wolfenson). Alessandra Negrini (2000), Mylla Christie (1997), Maitê Proença (1996), Vera Fischer (2000) e Cleo (2010), pelo apelo, já em tempos de internet". 

 

Bob Wolfenson é um dos fotógrafos mais bem sucedidos no mundo. Brasileiro, já clicou vários ícones da cultura nacional, desde políticos, jogadores de futebol, até as mulheres que estampavam as capas e páginas da Playboy. Em seu instagram, ele costuma compartilhar registros - alguns inéditos - de ensaios que fizeram história.

 

 

 

O que diferencia o Inside de demais sites que falam sobre a Playboy, para Geylson, é que todo o material que foi produzido, não deixa de ser lembrado na construção do acervo. Não só a nudez, mas as entrevistas que eram publicadas nas edições também têm o seu espaço. De John Lennon e Yoko Ono, a Xuxa, Ziraldo e até Fidel Catro, ele elegeu suas preferidas: 

 

"Teve a da Hebe, de 1987. Ela tocou em temas extremamente delicados para época, como homossexualidade, AIDS, Censura e política. As que a Xuxa deu em 1983 e 1996 também são ótimas. É legal ver como a visão dela sobre o Pelé muda com o passar dos anos"

Olhe, eu não tenho medo de nada. Eu já cantei sentada em cama de leproso, para aliviar as dores dos doentes... Eu já fiz tudo isto e muito mais. Agora estamos lidando com AIDS. Por que eu deveria ter medo? Pelo que sabemos, a doença só pode ser transmitida através de transfusão de sangue, de sexo anal, ou de picada de droga. Sabe de uma coisa? Estou tranquila: eu não me drogo, não recebo sangue, só doo sangue, sem nenhum problema. E nunca gostei de sexo anal. Não gostava quando era jovem, imagine agora com 57 anos. [Dá uma gargalhada] Então, por que deveria ter medo de AIDS?

Hebe Camargo, 1987

 

Além das clássicas e longas entrevistas, havia um quadro onde a conversa era mais curta, mas igualmente instigante: O 20 perguntas, onde os convidados respondiam somente ao número definido de questionamentos e posavam para alguns cliques. Nomes como Carolina Dieckmann e Fátima Bernardes, que toparam o 20P, foram citados pelo colecionador como "especiais". O admirador ainda ressaltou: "Carolina era um sonho da Playboy, mas ela nunca posou nua, de fato"

 

A edição do 20P que recebeu Fátima Bernardes, em abril de 1993, foi um marco, pois trazia a então apresentadora do Fantástico em ângulos mais sensuais e bem descontraída. Entre as 20 respostas da apresentadora, uma acabou chamando atenção: 

Claro (ao ser perguntada se gostaria de se tornar âncora de um telejornal). Mesmo porque este é o caminho natural do telejornalismo. Sonho também em apresentar um programa jornalístico mais divertido. Seria um espaço que juntaria dança, música, cultura, folclore, com muitas entrevistas.

Fátima Bernardes, 1993

 

Como foi dito, o entusiasta já possui todas as edições publicadas no Brasil. Segundo ele, existem versões extremamente raras e que podem valer uma fortuna:

 

"A Playboy fazia uma versão dada para alguns anunciantes seletos. Era diferente, tinha capa dura", contou o jornalista. Segundo ele, ao posar para edição de agosto de 1995, Adriana Galisteu pediu uma única versão de capa dura para ela.

 

Geylson ainda contou que, com o fim da circulação da revista no país, a Abril se desfez deliberadamente de uma parte do acervo, deixando para trás itens valiosos, que ajudariam a contar a rica história que foi construída durante os mais de 40 anos de Playboy Brasil:

 

"Alguns jornalistas acabaram ficando com negativos de vários ensaios, fotografias inéditas, raríssimas", contou o colecionador

 

Quatro anos depois do fim, alguns boatos sobre o retorno da Playboy chegaram a circular, mas nada concreto. O sucesso foi inegável, assim como a MTV Brasil, outra aposta da Abril, que balançou com a cultura pop nacional no fim dos anos 80. Ao ser perguntado se houve algum momento em que a impressão do público para com a revista mudou, o dono do IPB respondeu:

"A partir do momento que o nu ficou mais artístico e menos erótico, essa imagem negativa foi se quebrando"

O colecionador, por fim, lembrou de um ranking de avaliação do ensino superior brasileiro publicado anualmente pela revista; algo parecido com o que faz o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), criado apenas em 2004.