Pelo terceiro ano consecutivo, principal prêmio do Festival de Cinema de Brasília é dos mineiros

Vencedor do Festival de Brasília, filme de André Novais Oliveira consolida Minas como polo do cinema autoral

por Mariana Peixoto 25/09/2018 08:26
Festival de Brasília/divulgação
(foto: Festival de Brasília/divulgação)
Contagem foi o primeiro. Exibido em 2010 no Festival de Cinema de Brasília, o curta-metragem de Maurílio Martins e Gabriel Martins levou naquele ano o troféu de melhor direção. Desde então, a produtora Filmes de Plástico exibiu no mais antigo evento do gênero no país uma série de filmes, entre curtas e longas.

Ela volta na quinta e Quintal (André Novais Oliveira), Rapsódia para um homem negro e Nada (Gabriel Martins) e Constelações (Maurílio Martins), todos eles saíram de Brasília com, ao menos, um prêmio. Na noite de domingo (23), a produtora nascida em Contagem fez seu maior feito no festival. Temporada, segundo longa-metragem de André Novais Oliveira, conquistou cinco Candangos, incluindo o mais importante deles, o de melhor longa.

“O filme foi muito bem recebido, mas fiquei meio surpreso por todos os prêmios. Talvez, os mais especiais foram o de direção de arte (para Diogo Hayashi) e fotografia (Wilssa Esser), pois não são tão evidentes no trabalho”, afirma André Novais, de 34 anos.

Produzido com R$ 750 mil e lançado em agosto no Festival de Locarno, na Suíça, Temporada vai participar de outros eventos nacionais e internacionais até chegar ao circuito comercial brasileiro. Distribuído pela Vitrine, deve estrear no primeiro semestre de 2019.

O Candango de melhor atriz para Grace Passô – prêmio que a imprensa especializada já apontava desde a exibição do filme, na sexta-feira – só veio referendar o trabalho da mineira. Seu longa anterior, Praça Paris, dirigido por Lúcia Murat, garantiu-lhe alguns prêmios, incluindo no Festival do Rio de 2017.

Itaúna Presente em quase todas as cenas, Grace Passô interpreta Juliana, que deixa Itaúna às pressas para combater as endemias de dengue, zika e chikungunya em Contagem. Tudo isso às vias de o marido se mudar para lá. “O filme conta com personagens diferentes, que sempre trazem algo novo. Eles refletem a geografia do local. A protagonista tem um olhar muito atento para as coisas. Sem titubear, ela enfrenta isso de viver num lugar diferente, com outro emprego”, explica Novais.

Junto com novos sentimentos, Juliana, ao lado de outros funcionários da saúde, encampa a missão de passar de casa em casa, orientando e educando sobre tratamentos. O longa foi filmado em Contagem, Itaúna, Ipoema (distrito de Itabira) e Belo Horizonte.

Grace entrou para o projeto depois de Novais vê-la na preparação para outro longa da Filmes de Plástico, No coração do mundo. Inédito, esse filme de Gabriel Martins e Maurílio Martins será lançado no início do próximo ano.

“O jeito como Grace atuou ainda nos primeiros ensaios de No coração do mundo me deu vontade de trabalhar com ela. Já estava escrevendo o roteiro quando ela aceitou, tanto que deu muitas sugestões e dicas. O texto traz muito da visão dela como dramaturga. Há um diálogo específico que pedi para ela criar”, acrescenta Novais.

Ao receber o Candango, Grace destacou “a militância que desentorta olhares e a força negra brasileira.” Em seus filmes, Novais busca se ater ao cotidiano, com interesse pela periferia. Desqualificar preconceitos racistas também toma tempo e esforço dele. “Trabalhar com atores negros é uma afirmação, algo que acontece de forma natural”, afirma o cineasta.

Outro prêmio de atuação que Temporada levou foi o de ator coadjuvante, conquistado por Russo APR. Para Novais, trabalhar com intérpretes profissionais e não profissionais é uma questão de ajuste. “O processo de construção foi o mesmo com todos eles. A ideia era juntar os vários tipos de atuação e conseguir, no final, um só tom.”
Festival de Brasília/divulgação
(foto: Festival de Brasília/divulgação)


EM BLOCO Temporada não saiu premiado sozinho de Brasília. Outras produções mineiras foram reconhecidas pelo festival. Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados, de Aiano Bemfica, Pedro Maia, Camila Bastos e Cristiano Araújo, foi eleito o melhor curta do festival – levou ainda o troféu de melhor som.

Plano controle, curta de Juliana Antunes, levou os prêmios de melhor montagem e ator coadjuvante (Uirá dos Reis). Já Mesmo com tanta agonia, de Alice Andrade Drummond, recebeu o troféu de melhor fotografia em curtas, além dosprêmios Canal Brasil e Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

Com a premiação de domingo, Minas Gerais emplaca seu terceiro ano consecutivo no Festival de Brasília. Em 2016, o grande vencedor foi A cidade onde envelheço, de Marília Rocha. Já no ano passado, o Candango de melhor filme foi para Arábia, de Affonso Uchoa e João Dumans.

“Isso vem sinalizar a crescente produção no estado. Neste momento, o cinema mineiro tem ideias e realizadores muito interessantes”, conclui André Novais. (Com Ricardo Daehn)

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