Substância presente na ayahuasca estimula a formação de neurônios

A descoberta, feita por pesquisadores de instituições brasileiras, deve ajudar no desenvolvimento de tratamentos contra o mal de Alzheimer

por Correio Braziliense 23/12/2016 13:30

Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press
A substância harmina - contida na planta ayahuasca que é usada na preparação do chá para os rituais do santo-Daime (foto) - pode levar a tratamentos para doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer (foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press)
Uma equipe de cientistas do Brasil constatou que a harmina, substância contida em grande quantidade na ayahuasca (planta base do chá usado nos rituais do santo-daime) contribui na regeneração de neurônios. O achado pode levar a tratamentos para doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer.

A pesquisa, realizada pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ), foi publicada esta semana na revista especializada Peer J.
 

Estudos realizados anteriormente haviam comprovado que a ayahuasca continha efeitos ansiolíticos (que combatem a ansiedade) e antidepressivos. Agora, os pesquisadores do país buscaram relacionar a harmina à criação de novas células neurais humanas.
 
Na experiência, os pesquisadores expuseram células com capacidade de se transformarem em estruturas neurais humanas à substância. "Nós criamos (em laboratório) progenitores neurais, ou seja, células humanas que vão dar origem a neurônios. Esse é o grande diferencial do nosso trabalho”, diz Stevens Rehens, um dos autores do projeto e pesquisador do Idor.

Proliferação
Depois de quatro dias, foi descoberto que a substância aumentou a proliferação de progenitores neurais humanos em 71%. “Colocamos uma quantidade de células em cultura, em uma placa, e expusemos essas células à harmina. Quando realizamos essa exposição, vimos que o nível dessas células aumentou de forma significativa”, explica o cientista.

 
O resultado instigou a equipe a descobrir como a substância age sobre as células progenitoras. “Nós usamos uma série de ferramentas bioquímicas e concluímos que ela inibe uma enzima chamada DYRK1A. E o interessante é que essa enzima está extremamente ativada ao mal de Alzheimer e à síndrome de Down.”
 
Segundo Stevens, o resultado tem grande relevância. “Temos o diferencial de que foi feito com células humanas, e o estudo abre a perspectiva de se estudar a harmina com uma possibilidade de aplicação terapêutica”, considerou.

 
Para o cientista, isso abre precedentes para que o tema seja mais explorado na comunidade científica.

 

“Precisamos fazer muito mais estudos nesse sentido. Nós temos uma primeira evidência. É o primeiro tijolinho de um trabalho que busca evidenciar substâncias que, muitas vezes, são proibidas, mas têm um potencial terapêutico que precisa ser estudado" - Stevens Rehens, pesquisador do Idor

 

"Precisamos aumentar esse tipo de pesquisa no país”, completa Stevens. O grupo de pesquisa contou com o apoio financeiro das agências brasileiras de fomento Faperj, CNPq, Capes, Finep, BNDES e Fapesp.