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O comércio desenfreado desses produtos, principalmente em sites na internet, acendeu a luz amarela entre os representantes da comunidade odontológica. Desde meados do ano passado, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) pressiona pela regulamentação da venda dos géis clareadores. “Durante reunião com várias entidades de classe, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prometeu que no segundo semestre do ano passado iria abrir consulta pública para que fossem apresentadas sugestões sobre o tema. Mas isso nunca foi realizado”, afirma o tesoureiro do CFO, Rubens Côrte Real de Carvalho. As conversas devem ser retomadas este ano.
A intenção dos profissionais da área é atrelar a venda dos clareadores à apresentação de receituário odontológico. “O que a gente verificou é que existe uma forte comercialização via internet, que disponibiliza o produto para os leigos. Mal empregados, esses géis podem causar uma série de danos à estrutura dos dentes. Por isso é importante que a aplicação seja acompanhada por um profissional”, observa Rubens. As pastas de dente que prometem branqueamento não estariam incluídas na nova regulamentação do setor. “Nesse caso, a concentração do produto é muito baixa. Além disso, a pasta é retirada imediatamente após a utilização, o que não ocorre no caso dos géis aplicados nos dentes, que ficam horas em contato com a cavidade oral”, pondera Rubens.
No mercado, é possível encontrar uma série de marcas de géis – a maior parte importada – que já vêm com a moldeira, uma placa colocada na cavidade oral juntamente com o produto. Sem orientação, a pessoa pode aplicar uma quantidade excessiva do ácido, o que poderá trazer uma série de consequências para o organismo. Os mais imediatos seriam a descamação da gengiva, formação de feridas nas papilas, céu da boca e língua e até efeitos estomacais desencadeados pela ingestão do ácido. A curto e médio prazos, o esmalte do dente será o grande prejudicado.
“A claridade provém da desmineralização do esmalte, mas isso deve ser controlado para que o resultado não fique aquém nem além do esperado”, observa o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG), Luciano Eloi Santos. Essa desmineralização é, inclusive, algo comum no dia a dia, como lembra Rubens Côrte. “Quando tomamos alguma coisa muito ácida, ocorre a descalcificação do dente. Com o passar do tempo, o efeito tampão da saliva controla o pH e proporciona a recalcificação”, observa o especialista.
Ameaça à estrutura dentária
O uso indiscriminado dos clareadores não permite que o processo de recalcificação ocorra, podendo trazer efeitos permanentes para a estrutura dentária. “À semelhança do que ocorre quando se tem uma perda de estrutura provocada pela cárie. Por isso, essa atuação do ácido deve ser controlada por um profissional”, alerta Rubens. E tem mais. Para um resultado mais apropriado, é essencial fazer uma limpeza antes da aplicação do produto. “É retirada a placa bacteriana e realizada uma higienização completa da boca para garantir uma efetividade maior do tratamento”, lembra Luciano Eloi.
Informada sobre a importância do odontólogo, a estudante de moda Déborah Luíza Diniz Barcelos, de 21 anos, nunca cogitou fazer a aplicação dos clareadores por conta própria. “Sempre tive o dente claro, mas estava em busca do branco. Recebi a moldeira no consultório e fui orientada sobre a quantidade que deveria ser aplicada todos os dias”, lembra Déborah. No princípio, ela reconhece que exagerou na dose e logo viu os efeitos de uma aplicação malfeita. “Minha gengiva ficou muito sensível e quase não conseguia escovar os dentes por conta disso”, lembra.
Adequadas as quantidades, ela conseguiu ver os resultados já nos 10 primeiros dias de aplicação contínua durante a noite. “Colocava a moldeira e dormia com ela. Foi assim durante quase um mês.” Durante o período de tratamento, ela aboliu o café e alimentos com corantes, como molho de tomate e refrigerante. “Se for necessário volto a fazer, mas sempre com o dentista, para ter mais segurança”, garante.
A duração dos resultados varia de acordo com o paciente e não há uma recomendação no padrão de quanto tempo é necessário até que uma nova sessão de clareamento seja realizada, lembra Eloi. “Substâncias corantes como café, refrigerante e também o cigarro certamente estão entre os fatores que podem comprometer a longevidade do tratamento’, alerta o especialista.