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Estado de Minas

1001 LUGARES PRA SE VIVER: kashan, no Irã

Boa parte da beleza de Kashan é conferida por seus jardins e espetaculares tradicionais casas persas dos séculos 18 e 19


19/01/2018 15:00 - atualizado 02/04/2018 18:36

Além de lindas, as mansões persas carregam uma filosofia de vida e, no culto à natureza e à arte, o amor à poesia(foto: Bertha Maakaroun/EM)
Além de lindas, as mansões persas carregam uma filosofia de vida e, no culto à natureza e à arte, o amor à poesia (foto: Bertha Maakaroun/EM)

Entre desertos e montanhas, acalentada pelo verde oásis e cálidas fontes subterrâneas, Kashan se ergue na Região Central do planalto iraniano. E se a pesquisa arqueológica identifica nessa extensão aos pés das montanhas Karkas – a cerca de quatro quilômetros da cidade – o mais antigo assentamento do Irã, de Tappeh Sialk, que remonta o período elamita e cujos artefatos, expostos no Louvre, datam entre 5500/6000 a.C., diz a lenda que os três reis magos, que se orientaram pela estrela até Belém para testemunhar o nascimento de Jesus, teriam saído de Kashan.

Nesse período, floresceu intenso comércio entre o Irã e a Rússia, após devastador terremoto que destruiu a maior parte das edificações históricas, inclusive aquelas que caracterizam a era do Xá Abbas 1º, que reinou entre 1588 e 1629 e pertenceu à Dinastia Safávida, tendo eleito a cidade como o seu veraneio predileto.

À porta dessas mansões estão os sinais de uma cultura que desaparece. Em tamanho e peso diferentes, duas aldravas fixadas em suas laterais opostas indicavam, pelo som produzido, se a visita que se anunciava era masculina ou feminina e, pelo número de toques, quantos hóspedes chegavam. Dessa forma, os anfitriões sabiam se as mulheres da casa precisariam recorrer ao heijib (lenços para os cabelos) e já dispunham à mesa o número de xícaras e pratos.
Há hoje 19 mansões tradicionais preservadas em Kashan(foto: Bertha Maakaroun/EM)
Há hoje 19 mansões tradicionais preservadas em Kashan (foto: Bertha Maakaroun/EM)

Vistas de fora, o interior das mansões não se revela. Este é acessado por um vestíbulo, geralmente num plano octagonal, que se comunica com duas partes distintas: uma utilizada pela família, denominada andaruny, resguardando a privacidade dos moradores dos frequentes visitantes e comerciantes, estes acomodados na outra seção exterior, denominada biruny. Esta é uma área espaçosa, suntuosa e se abre ao “shah neshin”, destinado aos hóspedes, tratados como “reis”, aos quais é reservada, por isso mesmo, a seção mais elegante da casa.

Há hoje 19 mansões tradicionais preservadas em Kashan, que têm entre 400 anos e 500 anos. A riqueza acumulada pelas famílias, que um dia mantiveram intenso intercâmbio comercial também com o extremo Oriente, pela rota da Seda, se traveste do extremo bom gosto do sincretismo entre a tradicional arquitetura persa e a renascença europeia, com destaque aos jardins internos, reverência à natureza e representação do paraíso em terra. Em todas elas, os jardins estão presentes em um ou vários pátios internos, sempre esculpidos em proporções geométricas, com um lago retangular central, que, além da função estética, irriga e propicia um microclima fresco em meio à aridez desértica.
Casa Ameriha guarda rara coleção de pinturas, azulejos decorados e artesanatos da arquitetura islâmica (foto: Bertha Maakaroun/EM)
Casa Ameriha guarda rara coleção de pinturas, azulejos decorados e artesanatos da arquitetura islâmica (foto: Bertha Maakaroun/EM)

Com três casas independentes e sete jardins internos, cujas piscinas são abastecidas e a vegetação irrigada por canais subterrâneos, a mansão Ameriha é a mais linda entre as lindas de Kashan e, com os seus 12 mil metros quadrados, considerada o maior complexo residencial histórico do mundo. Atualmente transformada em hotel-boutique, foi chamada de casa de Haji Mirza Asadollah, mas é conhecida por Ameriha ou Casa do Sultão Sahm-us e ainda "Ibrahim Khalil Khan Ameri". Percente ao período da Dinastia Zand (1749-1779), embora, alguns de seus principais pátios internos datam da dinastia Cajar, que, a partir de 1789, a sucedeu. Guarda rara coleção de pinturas, azulejos decorados e artesanatos da arquitetura islâmica.

Além de lindas, as mansões históricas e tradicionais persas carregam uma filosofia de vida e, no culto à natureza e à arte, o amor à poesia. Nas palavras de Hafez (1315-1390), um dos poetas mais amados do Irã, essas casas parecem sussurrar: “Ouça: este mundo é uma esfera lunática. Nem sempre aceite que seja real, pois, mesmo com os meus pés sobre ele, e o carteiro conhecendo a minha porta, o meu endereço está em um outro lugar”.

 

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