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Estado de Minas

Festival Palco Giratório abre sua edição nacional em BH nesta sexta (23)

Evento traz espetáculos inspirados na luta do artista para valorizar seu ofício. Aos 67 anos, o palhaço alagoano Biribinha ganha homenagem


22/03/2018 08:21 - atualizado 22/03/2018 08:30

Teófanes da Silveira, o palhaço Biribinha, recebe o carinho do público em Mariana, em setembro de 2016. (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 25/9/16 )
Teófanes da Silveira, o palhaço Biribinha, recebe o carinho do público em Mariana, em setembro de 2016. (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 25/9/16 )

O circo é a vida de Teófanes Antônio Leite da Silveira. O alagoano nasceu – literalmente – embaixo da lona, cresceu nos picadeiros e hoje, aos 67 anos, faz de sua arte uma forma de resistência. A trajetória do palhaço Biribinha, como é conhecido, ganha destaque no 21º Palco Giratório. Um dos maiores festivais culturais itinerantes do país, pela primeira vez o evento começará por Belo Horizonte, a partir de sexta-feira (23). Com espetáculos e oficinas, a programação na capital se estenderá até quarta-feira (28), seguindo depois para outras cidades brasileiras.

Teófanes comemora a homenagem, que chega justamente no mês em que completa seis décadas de carreira. O alagoano estreou como ator em 1958, quando o pai, Nelson Silveira, o Biriba, adaptou para o palco Marcelino pão e vinho, drama bíblico de sucesso no cinema. Depois, ele pôs o filho no elenco de uma peça cômica. Notou, então, que o menino tinha o dom de divertir o público.

“Papai disse: ‘Quem consegue fazer rir e fazer chorar tem que ser palhaço!’. Daí, me ensinou algumas piadas, pintou o meu rosto e me tornei o que eu sou hoje”, revela Teófanes.

Na década de 1930, Nelson deixou a faculdade de direito para seguir pelas estradas com uma companhia circense. Em Pernambuco, apaixonou-se pela filha do dono do hotel onde se hospedara. Para acompanhar o rapaz, a moça deixou de ser Expedita e adotou nome artístico de Ditinha. Todos os seis filhos do casal fizeram carreira no circo.

As lembranças mais antigas de Biribinha vêm do picadeiro. O primeiro animal de estimação dele se chamava Jumbo, um filhote de leão. Aliás, os dois nasceram no mesmo dia em Jequié, na Bahia. “Crescemos juntos até um um ano de idade. Minha mãe contava que Jumbo era meu gatinho de estimação, mas foi crescendo e começou a me machucar nas brincadeiras. O jeito foi nos separar. Um foi pra jaula, outro pro berço. Só não sei dizer qual de nós foi pro berço”, brinca ele.

O pai nunca gostou de ver os filhos se arriscando em performances mirabolantes. Desde jovem, Teófanes se dedicou ao teatro, mas não demorou muito para mergulhar no universo circense, aperfeiçoando-se em números acrobáticos. Hoje, ele só lamenta estar impedido de andar sobre pernas de pau, por causa de uma cirurgia de hérnia. Contudo, garante: manteve o vigor para erguer a lona e participar de todas as etapas de montagem de um espetáculo. E assim faz na Serraria Souza Pinto, esta semana, “à espera dos aplausos do respeitável público”.

CHANCHADA Teófanes desenvolveu um projeto de circo-teatro que abriga de dramas a chanchadas, sempre debaixo da lona. No palco italiano, os espetáculos costumam ser divididos em duas partes. Uma de variedades e a outra em que a peça é propriamente desenvolvida.

Atualmente, ele vive entre Maceió, capital alagoana, e Arapiraca, no interior do estado, onde uma escola municipal de circo ganhou o nome dele. Membro da Academia Arapiraquense de Letras e Artes, Teófanes/Biribinha recebeu, em Alagoas, o título de Patrimônio Vivo da Cultura Popular.

Dizendo-se “privilegiado”, Teófanes critica a desvalorização da arte no Brasil. “Um artista dedica a vida a seu trabalho e, de repente, aparece um camarada que se diz presidente, extingue o Ministério da Cultura. Depois dá um cala-boca na gente, afirmando que vai voltar, e acaba com editais, projetos e incentivos... Um povo sem cultura perde a sua identidade”, defende.

O circo resiste, mas Teófanes está desolado porque a meninada se afastou dos picadeiros. “O que mais me entristece é conversar com uma criança e ouvir que ela nunca foi a um circo ou que tem medo de palhaço. Essa é, possivelmente, uma das formas de arte que melhor dialoga com o universo infantil”, defende. Ao contrário do que muita gente diz, ele garante que o circo não está em extinção. “Faço uma comparação que considero sempre válida: circo é como ouro, vai brilhar para sempre.”

Teófanes preparou três espetáculos para o Palco Giratório. Na solenidade de abertura para convidados, nesta quinta-feira (22), na Serraria Souza Pinto, apresentará o número em que o palhaço Biribinha contracena com o ator que lhe dá vida. O título não poderia ser mais apropriado: Eu sem você não sou ninguém.

Domingo (25), Magia traz visão mais melancólica sobre a vida do palhaço, tudo é retratado em preto e branco. A sessão está marcada para as 11h, no mesmo local. Encerrando sua passagem pela capital mineira, ele encenará Tudo por causa do Tobias, comédia escrita por Paulo Orlando sobre a autoridade do homem e da mulher no ambiente doméstico. A despedida ocorrerá na quarta-feira, às 20h, também na Serraria.

TRINCHEIRA DE LUTA As 20 atrações da 21ª edição do Palco Giratório foram definidas a partir de indicações de 34 curadores de todos os estados do país. Ao promover a circulação de Biribinha pelo Brasil, o festival se insere no movimento de resistência, afirma Carol Fescina, que integrou a equipe mineira de curadoria.

“Montar circo nos centros urbanos é uma verdadeira luta. Quando se vai contratar um desses artistas, muitas vezes ele está lutando para conseguir assinar o próprio nome. A vida itinerante traz inúmeras dificuldades, como o acesso à educação, o que resulta na marginalização dos profissionais”, diz. “Biribinha tem a força do interior do Nordeste”, observa. Levá-lo para as grandes cidades potencializa o estímulo a quem resiste por meio de seu ofício nas artes – trabalho muitas vezes precarizado.

Além do palhaço alagoano, três espetáculos circularão pelo país, apresentando-se com os selecionados de cada cidade. Com Looping: Bahia Overdub, Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino promovem a discussão política aliada às danças e às tradições baianas.

Por meio da peça Farinha com açúcar, o Coletivo Negro, de São Paulo, aborda o cotidiano do homem negro nas periferias brasileiras. Racismo, a execução de jovens nas favelas e a exclusão social são temas do ator e diretor Jé Oliveira. A “peça-show” se inspira no repertório do Racionais MCs. KL Jay, DJ do grupo de rap, costuma comandar as picapes em algumas sessões.

'PEÇA-CONVERSA' MINEIRA O grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum vai pegar a estrada nos próximos meses para apresentar, no Palco Giratório, o espetáculo experimental Fauna. A criação coletiva propõe a participação do público na concepção cênica. O diretor Ítalo Laureano define o projeto como “peça-conversa”.

Fauna trata de relacionamentos humanos. Os artistas buscaram inspiração nas ideias do filósofo Vladimir Safatle sobre as novas formas de afeto e de construção das relações.

“A gente vive um momento de polarização, principalmente no âmbito político. A tendência é sempre rechaçar o outro quando ele nos afeta de forma não esperada. O espetáculo nos instiga a dialogar com o nosso oposto, com aquele que pensa diferente de nós”, explica Ítalo.

O diretor diz que a resistência – tema do Palco Giratório – também pauta os 10 anos de trajetória do Quatroloscinco. “Estamos sempre tratando de temas que não são tão discutidos pelo grande público, permeando questões existenciais e políticas”, informa.

“Fauna representa bem a nossa resistência artística enquanto grupo de teatro que convive com a necessidade de se reinventar, criando obras que despertem o interesse das pessoas. Afinal, a arte no Brasil costuma ser relegada a puro entretenimento, em vez de ser considerada uma forma de pensar o indivíduo e o meio em que ele vive”, conclui Ítalo Laureano.

 

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

>> Eventos abertos ao público

>> Agenda completa: sescmg.com.br/palcogiratorio/#programacao

 

SEXTA-FEIRA (23)

 

10h – Intervenção urbana Naquele bairro encantado

Rua Aarão Reis, entre a Praça da Estação e a Serraria Souza Pinto, Centro

Entrada franca

 

18h – Pensamento Giratório, com Biribinha

Lona Palco Giratório. Serraria Souza Pinto. Av. Assis Chateaubriand, 809, Centro

Entrada franca, com retirada de ingressos no site Sympla

 

21h – Fauna, com Grupo Quatroloscinco

Grande Teatro do Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro

Entrada franca, com retirada de ingressos a partir das 20h

 

SÁBADO (24)

 

Das 9h às 16h – Oficina Traquitanas, com Biribinha

Lona Palco Giratório, na Serraria Souza Pinto

Entrada franca, com retirada de ingressos no site Sympla

 

18h – Violento, com Preto Amparo

Teatro Espanca!. Rua Aarão Reis, 542, Centro

Entrada franca, com retirada de ingressos no site Sympla

 

21h – Farinha com açúcar, com Coletivo Negro

Grande Teatro do Sesc Palladium

Entrada franca, com retirada de ingressos a partir das 20h

 

DOMINGO (25)

 

11h – Magia, com Biribinha

Lona Palco Giratório, na Serraria Souza Pinto

Entrada franca, com retirada de ingressos no Sympla

 

18h – Alpendre, com Cia. Suspensa

Grande Teatro do Sesc Palladium

Entrada franca, com retirada de ingressos a partir das 17h

 

19h – Looping: Bahia Overdub, com Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino

Foyer do Sesc Palladium. Av. Augusto de Lima, 420, Centro

Entrada franca

 

QUARTA-FEIRA (28)

 

20h – Tudo por causa do Tobias, com Biribinha

Serraria Souza Pinto

Entrada franca


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