'Tenho muito orgulho em ser gay e jornalista', diz Pedro Figueiredo

Repórter vem se destacando como jornalista investigativo na Globo

Reprodução/TV Globo
Pedro Figueiredo (foto: Reprodução/TV Globo)

Pedro Figueiredo é um dos jornalistas da TV Globo abertamente homossexual, no entanto, nem tudo são flores para um repórter que trabalha na área investigativa.

Recentemente, o vereador e ex-policial militar Gabriel Monteiro (PL) iniciou uma campanha de desqualificação contra ele após o político ter se tornado alvo de uma investigação policial e do Ministério Público (MP) após três mulheres terem lhe acusado de estupro. Irritado com o resultado da reportagem que foi ao ar no Fantástico, o parlamentar usou suas redes sociais para se voltar contra Pedro.

 

Além disso, os seguidores de Gabriel passaram a assediar o comunicador, que é casado com o também jornalista, Erick Rianelli, com mensagens de cunho homofóbicos e ameaças que não se restringem às redes sociais.

 

Em entrevista exclusiva ao site NaTelinha, Figueiredo destacou que "é difícil não se abalar". Mas, apesar dos momentos ruins da profissão, ele também se alegra com os comentários carinhosos acerca de seu relacionamento com Rianelli. Os dois estão juntos há oito anos e nas redes sociais, sempre se posicionaram abertamente como homossexuais e esbanjam demonstrações de carinho. Profissionalmente, ocupam posições de destaque na reportagem da emissora.

 

Inclusive, no dia 12 de junho de 2020, o repórter do Bom dia Rio, surpreendeu o amado com uma mensagem romântica ao vivo. ''Pedro Figueiredo está assistindo a gente, já falei com ele. Meu amor, meu marido. Eu te amo. Feliz Dia dos Namorados para gente e para todos os casais apaixonados que estão nos assistindo'', anunciou o jornalista. A declaração viralizou nas redes sociais com diversos feedbacks positivos do público.

 

Neste dia mundial do Orgulho LGBTQIAP+, Pedro abriu o coração sobre seu momento atual na carreira, os desafios da profissão e, claro, sua decisão de compartilhar seu relacionamento com Erick Rianelli. O profissional entrou para a equipe de Jornalismo da Globo em 2012. Ele soma participações em noticiários locais, como o Bom dia Rio, o RJ1 e o RJ2, e nos informativos do canal, casos do Jornal hoje e do Jornal nacional. E desde o ano passado entrou para a equipe da revista eletrônica dominical, inclusive ele foi finalista do Emmy Internacional, o Oscar da TV por conta da matéria investigativa sobre funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

 

"Nunca pensei em ser um jornalista investigativo. Sempre quis ser jornalista e sempre amei política e me enxergava trabalhando com isso. Essa veia investigativa veio com o tempo e com as oportunidades. Acho que estou num bom momento da carreira, em que consigo equilibrar a vida profissional com a pessoal. Agora, não tem segredo: trabalho duro, sobriedade, serenidade e uma dose de maturidade para continuar correndo atrás de histórias de interesse público, sem desrespeitar ninguém e nem passar do ponto", destacou.

 

Questionado, sobre a reportagem mais desafiadora, Pedro Figueiredo não titubeou e declarou que a da Alerj está no ranking: "A reportagem dos fantasmas da Alerj. Aquela era uma reportagem difícil de ser feita, com uma investigação que precisava ser cuidadosa e delicada. Acho que conseguimos. Fomos indicados ao Emmy. Essas duas, sem dúvida nenhuma, me marcam muito. Tanto que memórias delas estão por toda a parte na minha casa", afirmou.

Além de ser reconhecido pelo seu trabalho, Pedro acabou se tornando um ícone do jornalismo para a comunidade LGBTQIAP pela transparência que sempre tratou o assunto publicamente. No entanto, ele admitiu que já teve medo de contar para o mundo que era gay.

 

"Tive sim. Eu comecei a namorar o Erick há nove anos, em 2013. Ele ainda não tinha entrado na Globo, eu já. Todos sabiam que éramos namorados. Mas nossa vida era restrita ao nosso círculo de amigos e às nossas redes sociais fechadas. Em 2016, fui promovido de produtor a repórter. Naquele momento, entendi que era importante abrir minhas redes. Mas tive receio em contar para o mundo que eu era gay. "Será que vão aceitar bem?", pensava. Uma pessoa muito importante nesse processo foi o Erick. Ele me disse que eu precisava ser quem eu sou e que isso nunca seria uma questão. Não foi", revelou.

"Tenho muito orgulho em ser gay e jornalista. E somos muito acolhidos por isso, mesmo entre pessoas mais conservadoras. Não era nosso objetivo, mas ficamos felizes de tanta gente nos ter como referências".

Pedro Figueiredo

Vale destacar, que após o comunicador, diversos outros repórteres e âncoras passaram a falar abertamente sobre a própria sexualidade. "O mundo mudou muito nos últimos anos. Quando eu era adolescente, assistia na televisão o pai perguntando onde foi que errou ao ver o filho gay num programa de humor. Hoje isso é inimaginável. E isso se tornou inimaginável porque muita gente lutou pelos nossos direitos. Vejo isso como uma construção coletiva", explicou.

 

"Quando eu virei repórter, foi a minha vez de falar: 'sou repórter e sou gay, algum problema?'. Mas só consegui fazer isso porque muita gente abriu as portas. Sou privilegiado de ter chegado nesse momento. Então, não gosto de me considerar pioneiro, mesmo sabendo que minha atitude possa ter inspirado. Fico feliz de ver que depois do meu exemplo - e do Erick que, alguns anos depois, também se tornou repórter - tivemos tantos outros colegas demonstrando seus afetos, postando fotos com seus namorados, namoradas, maridos e esposas", acrescentou.

 

O casal de repórteres da Globo, Pedro e Erick foram homenageados no ano passado, em um evento promovido pela Aliança Nacional LGBTI no Rio de Janeiro pela contribuição na luta contra a homofobia. Os pombinhos são considerados por muitos como o novo casal 20 da televisão brasileira.

 

"Eu e Erick nos conhecemos no olhar. Sei quando ele está feliz ou insatisfeito com qualquer coisa pela forma como me olha. Depois de alguns anos de união estável, vamos nos casar agora no dia 2 de julho - celebrar nosso amor com família e amigos", contou.

"Acho carinhoso quando dizem que somos o novo casal 20. Que bom saber que vivemos numa época em que casais gays podem ocupar esse espaço. Se um dia surgir a oportunidade de dividir uma bancada com o Erick, será uma felicidade sem tamanho. Primeiro pelo marco que seria e de poder estar fazendo parte desse momento ao lado de quem eu amo. Segundo, porque se um dia eu tiver a oportunidade de apresentar um jornal, espero que seja ao lado de alguém que me ensine e que eu admire como jornalista. pelo marco que seria e de poder estar fazendo parte desse momento. O Erick preenche todos esses requisitos".

Pedro Figueiredo

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