Equipe da TV Globo é intimidada e ameaçada por policiais em greve em MG

André Junqueira, repórter da Globo Minas, tentava cobrir protesto de policiais e bombeiros que deflagraram greve, mas foi expulso do local

Reprodução/Twitter/Montagem
André Junqueira é intimidado, ameaçado e xingado durante manifestação em Belo Horizonte, Minas Gerais (foto: Reprodução/Twitter/Montagem)

O repórter André Junqueira, da Globo Minas, foi intimidado, ameaçado e xingado na tarde desta segunda-feira (22/02) por policiais militares e bombeiros enquanto tentava cobrir a manifestação das forças de segurança de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

 

A categoria deflagrou greve, exigindo o reajuste salarial prometido pelo governador Romeu Zema (Novo) em acordo feito em 2019.

 

O jornalista e o repórter cinematográfico tentavam cobrir a manifestação, mas foram expulsos do local. Um vídeo que mostra o momento da hostilização aos profissionais permite ouvir os manifestantes gritando contra a emissora da família Roberto Marinho (1904-2003), ao fundo, barulhos de artefatos explodindo. Imagens foram compartilhadas nas redes sociais.

 

"Sai daqui filho da p***", "Filma o [governador Romeu] Zema lá", "Vai filmar a casa do c******", dispararam na filmagem de pouco mais de um minuto.

 

Na sequência, André se vira para um manifestante que estava gravando a cena e pede: "Não deixa acontecer isso não, vocês são policiais". 

 

"Aqui é manifestação de polícia, não tem bandido no nosso meio não", rebateu uma mulher antes de outra pessoa começar a falar.

 

Um homem questiona Junqueira o que a equipe de TV estava fazendo no local. Antes que o profissional terminasse sua resposta, o comunicador foi repreendido. "Não, não. Não veio cobrir nada não. Processa todo mundo então que está fazendo isso. Nós também estamos trabalhando. Nós é que damos a segurança para vocês. Na hora que você sofre um acidente, nós que vamos resgatar você", diz um suposto agente de segurança que estava no ato.

 

Há uma sobreposição de vozes na gravação e uma pessoa pergunta novamente o que a equipe estaria fazendo ali. Outro homem dispara: "Fazer merd*. A Globo só faz merd*. A Globo só faz merd*. Se não fosse manipuladora, não teria nada disso. Aqui não. Fora, fora, fora".

 

A manifestação começou às 9h na Praça da Estação, no Centro da capital mineira, e só se dispersou cerca de sete horas depois, de acordo com as informações do G1.

 

Parte das filmagens foi compartilhada no Twitter por Afonso Borges, jornalista e colunista do Jornal O Globo, que prestou solidariedade ao colega do Grupo Globo.

 

"Meu irrestrito apoio e solidariedade ao colega jornalista André Junqueira pelas hostilidades e violência que integrantes da Polícia Militar de MG e Bombeiros de MG praticaram contra ele, hoje", escreveu na rede social.

 

Confira, abaixo, o vídeo:

Nota de repúdio

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o SJPMG (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais) divulgaram nota e também manifestaram repúdio sobre a violência verbal sofrida pelo jornalista e o repórter cinematográfico.

 

"Às violências verbais e ameaças praticadas por policiais militares e civis e por bombeiros contra uma equipe da Rede Globo, durante manifestação das categorias", iniciou.

 

"As entidades prestam solidariedade ao jornalista e ao repórter cinematográfico, que tentavam cobrir a manifestação quando foram ofendidos, ameaçados e perseguidos, até serem expulsos por um grupo de manifestantes. É necessário que as autoridades tomem providências para garantir a liberdade de imprensa", acrescentou.

 

"O cerceamento ao trabalho de equipes jornalísticas, bem como as agressões a trabalhadores da notícia, aumentaram exponencialmente nos últimos anos, principalmente com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018. Propagador de notícias falsas, o presidente busca não só desqualificar o trabalho da imprensa, como também ofende verbalmente jornalistas e incentiva agressões contra a categoria", complementou a nota.

 

Leia a nota na íntegra:

 

"A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) vêm a público manifestar seu repúdio às violências verbais e ameaças praticadas por policiais militares e civis e por bombeiros contra uma equipe da Rede Globo, durante manifestação das categorias na tarde de hoje, segunda-feira, 21, em Belo Horizonte.

 

As entidades prestam solidariedade ao jornalista e ao repórter cinematográfico, que tentavam cobrir a manifestação quando foram ofendidos, ameaçados e perseguidos, até serem expulsos por um grupo de manifestantes. É necessário que as autoridades tomem providências para garantir a liberdade de imprensa.

 

O cerceamento ao trabalho de equipes jornalísticas, bem como as agressões a trabalhadores da notícia, aumentaram exponencialmente nos últimos anos, principalmente com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018. Propagador de notícias falsas, o presidente busca não só desqualificar o trabalho da imprensa, como também ofende verbalmente jornalistas e incentiva agressões contra a categoria.

 

O Relatório Anual da Fenaj que mede o índice de violência contra jornalistas e contra a liberdade da imprensa no Brasil aponta que, em 2021, Bolsonaro seguiu como o maior responsável por ataques, com 147 casos (34,19% do total), sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa (98,47% da categoria) e 18 de agressões verbais a jornalistas.

 

Cabe ressaltar que a reivindicação por reposição salarial é um direito de todos os trabalhadores, sejam da segurança pública, da educação, da imprensa, da saúde. E é papel do jornalismo apurar e noticiar tais manifestações, para informar a sociedade.

 

Assim, não é surpresa que justo no protesto de policiais e bombeiros, categorias que compõem boa parte do eleitorado de Bolsonaro, a violência contra jornalistas seja reproduzida, como sempre ocorreu em manifestações favoráveis ao presidente. E a maior contradição está no fato de tais categorias apoiarem um presidente e um governador, Romeu Zema (Novo), que mais retiraram direitos da classe trabalhadora. O governador de MG, por exemplo, não paga o piso salarial dos professores do Estado.

 

O SJPMG e a Fenaj reforçam que não se calarão diante das violências e restrições ao trabalho da imprensa, pois elas configuram uma das mais sérias ameaças à democracia. Jornalistas de Minas e do Brasil exigem respeito ao seu trabalho, à Constituição, à liberdade de imprensa e ao livre exercício profissional dos jornalistas".

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