Caçada a matador de gatinhos expõe a terra sem lei da internet

Em cartaz na Netflix e protagonizado por 'detetives nerds', o documentário 'Don't fuck with cats' virou sensação na cena digital

Mariana Peixoto 03/01/2020 06:00
Netflix/reprodução
Deanna Thompson, a %u201Cdetetive nerd%u201D da docussérie Don't fuck with cats (foto: Netflix/reprodução)

Nesta terra sem lei chamada internet existem poucas regras. Uma delas é: não sacaneie os gatinhos. É dessa maneira que “Baudi Moovan”, codinome da nerd digital Deanna Thompson, dá início ao documentário Don't fuck with cats – Uma caçada on-line. Lançada pela Netflix no apagar das luzes de 2019, a minissérie em três episódios virou sensação nas redes.
 
A história, real, é absolutamente absurda. E a maneira como o diretor Mark Lewis a conta faz o espectador não desgrudar da tela. São apenas três episódios – bem editados, sem deixar buracos, uma aula para documentaristas que se estendem para muito além de suas histórias e acabam perdendo o fôlego.
Voltando à trama: é claro que a tal regra dos gatinhos não existe. Isso só é reforçado para dar início à narrativa. Em 2010, um vídeo tomou de assalto a internet. Um jovem encapuzado, no quarto de casa, coloca dois filhotes dentro de um saco plástico, tira o ar e os mata. Ainda expõe os gatinhos mortos.
 
O vídeo causou tamanha comoção on-line que foi criado um grupo no Facebook (na época, a mais importante rede social) para tentar encontrar o assassino. Entre os mais ativos da turma estavam “Baudi Moovan” e “John Green”. Ela, analista de um cassino de Las Vegas. Ele, morador de Los Angeles. Ambos utilizavam codinomes, como boa parte dos participantes do grupo. Sem nunca ter se visto e comunicando-se pela internet, essa “comunidade” dá início, por conta própria, à caçada.

O primeiro episódio trata basicamente disso. Para os leigos, a imagem cruel da matança dos gatinhos não traria pistas. Para os experts, a colcha no quarto, a luminária, o interruptor de luz, tudo é pista. Outros vídeos, também de gatos sendo assassinados, são enviados aos “detetives”. A cada nova imagem, surgem pistas, até que eles chegam a um suspeito. Boa parte da ação é exibida através dos passos do grupo na internet.

INTERPOL Daqui para diante, é melhor não falar mais para não estragar a surpresa. Porém, dá para dizer que o assassinato dos gatinhos é apenas o início dos crimes. O suspeito vai ao Canadá, França e Alemanha. O crime envolve não apenas as polícias desses países, como também o governo canadense e a Interpol. Parece coisa de série de ficção – algumas passagens, realmente, lembram muito as produções do gênero.
 
Mais importante é dizer sobre temas abordados em Don't fuck. Para começar, nossos rastros digitais estão ao alcance de qualquer um, basta saber usar as ferramentas. E “qualquer um” pode ser muito mais eficiente do que a própria polícia. “John Green” descobre, por exemplo, o endereço do suspeito no Canadá única e exclusivamente por causa da foto de um posto de gasolina.
 
Outra questão de destaque é a era das celebridades em que nos encontramos. Qualquer coisa – mesmo – é possível em busca dos tais 15 minutos de fama. O desequilíbrio emocional somado a frustrações pode desencadear coisas inimagináveis. Para os cinéfilos, vale dizer que boa parte das pistas está nos filmes Casablanca (1942), Instinto selvagem (1992) e Prenda-me se for capaz (2002).
 
A história gera bastante desconforto, além da vontade de rever a nossa posição diante da tela de um computador. Definitivamente, esta série não é só sobre gatinhos.

DON'T FUCK WITH CATS – UMA CAÇADA ON-LINE
. Três episódios
. Disponível na Netflix

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