Série oferece novo olhar sobre obras emblemáticas expostas no Inhotim

Primeiro episódio que será exibido amanhã no Canal Curta! é dedicado a Tunga

por Márcia Maria Cruz 12/11/2018 08:30
Curta!/divulgação
(foto: Curta!/divulgação)

True rouge, de Tunga (1952-2016), foi a primeira galeria instalada no Instituto Inhotim, em Brumadinho, há 10 anos. Ele dizia que o propósito da arte contemporânea não é “comunicar uma coisa”, mas fazê-la presente. A performance ocorrida na abertura do espaço e reflexões do artista podem ser vistas no episódio Tunga da série Inhotim, arte presente, que estreia terça-feira (13), no canal Curta!.

Com 10 programas dirigidos por Pedro Urano, a atração apresenta artistas consagrados cujos trabalhos estão em galerias do maior museu a céu aberto da América Latina. Além de Tunga, são focalizados Chris Burden, Olafur Eliasson, Claudia Andujar, Giuseppe Penone, Cildo Meireles, Matthew Barney, Miguel Rio Branco, Rirkrit Tiravanija e Jorge Macchi.

“Tunga está associado aos inícios. Era um iniciador de coisas, mesmo não estando no centro. Ele não sugeriu fazermos a série, mas vislumbramos essa possibilidade quando filmávamos a instalação da Galeria Psicoativa, em 2011”, afirma Pedro Urano.

A produção teve início em 2016, ano em que Tunga adoeceu e morreu, vítima de câncer. O diretor considera que este é um bom momento para lançar o programa. “Inhotim está em momento de inflexão. Depois do início e do crescimento acelerado, entra em movimento de consolidação”, observa.

Tunga teve papel fundamental para que Inhotim se tornasse museu aberto. Ele foi um dos conselheiros do empresário Bernardo Paz, criador do instituto. Incentivou-o tanto a iniciar a coleção de arte contemporânea quanto a permitir o acesso do público àquele acervo.

O episódio de amanhã apresenta entrevistas do artista com o curador Jochen Volz, os críticos de arte Suely Rolnik e Paulo Sergio Duarte, o artista visual e músico Arnaldo Antunes e também com Fernando Santana, o coordenador de seu ateliê.

TERRITÓRIO “Tunga é um artista mago que instaura território”, diz Suely Rolnik. A doença limitou a gravação de entrevistas inéditas com ele, mas há vasto material reunindo conversas antigas com o inspirador de Inhotim. “A série resulta de um esforço documental relevante”, explica Urano. “Os primeiros 10 anos de Inhotim estão contemplados. Imagino que será um documento ainda mais importante daqui a uma década”, prevê o diretor, amigo pessoal do artista plástico.

Em 2004, Urano fotografou o curta-metragem Quimera, de Tunga e Erik Rocha. “Ele era uma pessoa muito cheia de energia vital, muito eloquente”, relembra.

ÍNDIOS Os episódios abordam a perspectiva da arte e de Inhotim diante de questões contemporâneas. O capítulo dedicado à fotógrafa Claudia Andujar, por exemplo, fala dos índios, fonte de inspiração para a obra dela.

“A série coloca em perspectiva como os ianomâmis veem a questão da imagem”, conta Pedro Urano. O epsódio registra a visita de 15 índios à galeria de Inhotim com trabalhos de Claudia.

“Eles têm uma relação peculiar com a imagem. Quando alguém morre, seus objetos são destruídos. O tronco onde ficava a rede do indivíduo é raspado. A areia é varrida”, comenta o diretor.

Um dos líderes indígenas mais importantes do mundo, o pajé Davi Kopenawa integrou a comitiva que foi a Inhotim. “Num primeiro momento, Kopenawa reage com perplexidade à galeria. A maioria das fotos era dos anos 1970 e retratava pessoas já mortas. Ele disse que estava muito triste e as fotos não deveriam estar lá. Mas depois, de forma diplomática e ambivalente, afirmou que as fotos estavam muito bonitas”, conta Urano.

O episódio dedicado a Cildo Meireles aborda mutações geográficas e fronteiras verticais. “Num dos pontos mais altos da obra, ele tira um centímetro e adiciona dois com a fixação de uma pedra de quimberlita retirada das profundezas do Brasil. Depois que Cildo fez essa ação, há dois anos, o país ficou um centímetro mais alto”, comenta Pedro.

REFUGIADOS Por sua vez, o dinamarquês Olafur Eliasson trata da migração de refugiados e das mudanças climáticas. “Ele fala sobre a perspectiva peculiar da arte, A vinculação com o ativismo. Diz que o bom de trabalhar com arte é que nada está dado. A realidade pode ser negociada.”

O programa dedicado ao tailandês Rirkrit Tiravanija estabelece relações entre o acervo de arte contemporânea e a riqueza botânica de Inhotim. “O instituto tem o segundo jardim botânico mais importante do Brasil, importância vinculada à idade das árvores. Muitas delas estavam lá antes de a instituição existir”, pontua Pedro Urano.

Tiravanija também coloca em perspectiva a produção de arte contemporânea no Terceiro Mundo. Em seu trabalho, veem-se imagens de testes nucleares que atingem palmeiras no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, na década de 1950. “Isso mostra a violência do centro em relação à periferia”, conclui Pedro Urano.

INHOTIM, ARTE PRESENTE
•  Direção: Pedro Urano
•  Canal Curta!
•  10 episódios
•  Estreia dia 13, com programa dedicado a Tunga
•  Terças-feiras, às 23h

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