O médico Drauzio Varella relatou em livros sua relação com o universo dos presídios. E deles surgiram o filme Carandiru, de Hector Babenco, e o documentário Carcereiros, de Pedro Bial e Fernando Grostein. Ainda inédito no cinema, o filme de Bial e Grostein está inserido na série Carcereiros, lançada em abril pela TV Globo.

Com direção-geral de José Eduardo Belmonte, o cotidiano dos agentes carcerários é contado em 15 episódios – são três a mais do que os disponibilizados com antecedência no Globo Play. Ao conhecer o projeto de Bial e Grostein, Belmonte decidiu que queria transformá-lo em ficção. “Apesar de não ter feito quase nenhum documentário, vim de uma escola de documentaristas. É algo que sempre me interessou muito. Faço uma analogia com a arquitetura para explicar essa mistura do documentário com a ficção. O documentário trabalha com a escala monumental – os grandes temas, as grandes questões – enquanto a ficção trabalha com a escala gregária, dos pequenos dramas humanos. Isso permitiu à ficção trabalhar mais no simbólico, enquanto o documentário tratava da realidade mais crua, mais direta”, afirma.

A mescla de ficção e realidade foi o desafio dos roteiristas Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Denisson Ramalho, com colaboração de Marcelo Starobinas. “Em princípio, parece que unir essas duas coisas seria incompatível, ainda mais para atingir todos os tipos de público de uma maneira simples, sem perder a densidade e a complexidade de um assunto que é tão difícil e duro”, diz Belmonte.

O agente Adriano, que protagoniza a série, seria interpretado por Domingos Montagner, que morreu afogado em 2016, enquanto gravava Velho Chico. Rodrigo Lombardi (foto) foi então o escolhido. “Ele era a nossa segunda opção. Quando aconteceu a tragédia, fomos direto”, conta o diretor.

“Sempre achei que seria importante confrontar o público, não no sentido de chocar, de agredir, mas de confrontar com os temas, com as ideias; colocar a verdade sempre, falar honestamente das questões que têm que ser ditas. E é muito interessante quando a gente faz isso e a recepção é boa. As pessoas também querem falar sobre isso. Essa é a grande resposta que a gente tem da série. Um bom debate”, diz Belmonte.

As gravações da segunda temporada estão em andamento, Mônica Iozzi e João Côrtez foram incorporados ao elenco. “Na nova temporada teremos um presídio novo e deve ser menos centrada nos grandes temas e mais nos dramas humanos, nas questões mais íntimas e no cotidiano dos personagens”, conta o diretor de Carcereiros, que também será transformada em filme.