Em cenário criado pela escritora Margareth Atwood, os EUA se tornam uma nação totalitária

Paramount Channel lança neste domingo a primeira temporada de The handmaid's tale - O conto da aia, produção em 10 episódios

por Mariana Peixoto 11/03/2018 12:14
Paramount Channel/Divulgação
Produção da plataforma de streaming Hulu, não disponível no Brasil, estreia hoje no país na TV paga (foto: Paramount Channel/Divulgação )

Com muito atraso, chega ao Brasil a série mais importante de 2017. O pouco conhecido Paramount Channel lança neste domingo (11), às 21h, a primeira temporada de The handmaid’s tale – O conto da aia, produção em 10 episódios inspirada em um romance de 1985 da escritora canadense Margaret Atwood.

Sim, a narrativa está em vias de completar 33 anos, mas mostra-se mais atual do que nunca. Há quem afirme ser uma alegoria do governo Trump. Pois desde a eleição do presidente dos EUA, o livro voltou a ser lido. E o lançamento da série – que nos EUA estreou em abril na plataforma de streaming Hulu, concorrente da Netflix –, o romance se tornou um best-seller. No Brasil, foi inclusive reeditado no ano passado pela Rocco, com o título de O conto da aia (368 páginas, R$ 44,50).

Ao longo dos últimos meses, a imagem de mulheres vestidas com vestidos vermelhos e capuzes brancos foi vista em manifestações públicas ao redor do mundo. Em junho, em Ohio, mulheres usaram a vestimenta para manifestar contra um projeto de lei que pretendia ampliar a criminalização do aborto naquele estado.

Na rápida visita que fez à Polônia, em julho, Trump foi recebido por um grupo de mulheres trajadas da mesma maneira e empunhando cartazes como “Trump não é bem-vindo”. Até mesmo o Brasil, que só vai conhecer (pelas vias legais) a série quase um ano após seu lançamento, teve algumas aias desfilando no último carnaval.

Mas, afinal, quem são elas? São mulheres que perderam todos os seus direitos. Não podem ler, escrever, ter conta em banco, trabalhar, viver com suas famílias. Existem apenas para procriar filhos que nunca serão delas.

A narrativa é ambientada nos EUA pós-apocalíptico. Talvez esse seja o livro mais importante de Atwood, conhecida por seu ativismo e considerada a romancista viva mais importante do Canadá. Hoje com 78 anos, a escritora é recorrentemente citada como provável ganhadora do prêmio Nobel.

Em The handmaid’s tale, o país (EUA) agora se chama República de Gilead e é regido pelo movimento fundamentalista cristão Filhos de Jacó. Sob o pretexto de restaurar a ordem, o grupo suspendeu a antiga constituição norte-americana. E não só. Exclusivamente masculino, o grupo que domina Gilead adotou um modelo totalitário e militarizado. Dividiu a sociedade em castas, nas quais os direitos humanos são limitados – os das mulheres, mais ainda.

A população de Gilead vem enfrentando um problema que pode impedir sua continuidade. Um estranho vírus fez com que boa parte das mulheres se tornasse infértil. As que ainda estão em idade reprodutiva foram transformadas em aias. Arrancadas de suas vidas anteriores, perderam inclusive os nomes. Cada uma é chamada pelo nome de seus próprios comandantes. Estes, homens que só vestem negro, têm o controle absoluto de Gilead. Suas mulheres, já inférteis, se vestem de azul e sonham com os bebês que as aias irão lhes dar.

“DO FRED” É nesse cenário que tem início a história, tanto no livro quanto na série. A adaptação televisiva tem mudanças radicais em relação ao livro, inclusive para garantir a continuidade da série por mais de uma temporada. Mas o cerne do drama é o mesmo.

Em primeira pessoa e com idas e vindas no tempo, Offred (Elizabeth Moss) conta sua história. Sem saber se seu marido e sua filha conseguiram sobreviver a uma tentativa de fuga para o Canadá (o porto seguro para aqueles que fogem de Gilead), ela tenta lidar com a vida na casa de Fred Waterford (Joseph Fiennes) e Serena Joy (Yvonne Strahovski). Sem identidade, a aia responde pelo nome de seu comandante – numa tradução literal, a personagem é chamada “Do Fred”.

Enviada para a residência com a obrigação de dar um filho ao casal, ela tem a vida regulada. A cada mês,  a possibilidade de uma gravidez gera uma expectativa que beira o insuportável. Também a cada mês, no período fértil, ela passa por uma “cerimônia”, o momento em que é penetrada pelo comandante na presença da mulher – o silencioso ato sexual é de uma violência gritante.

Offred tenta sobreviver como pode. Procura não enlouquecer em meio às lembranças de uma vida passada que lhe foi roubada. Os poucos momentos de relativa liberdade são aqueles em que vai à rua, sempre na companhia de outra aia, para comprar alimentos – que são identificados por meio de símbolos, pois toda a escrita foi abolida. Quando sai, ela tem que conviver com a imagem de corpos dependurados nas ruas – são revoltosos que foram capturados pela polícia de Gilead.

É uma vida sem futuro. Pelo menos aparentemente, como o decorrer do drama vai mostrar.

THE HANDMAID’S TALE O CONTO DA AIA
A série será lançada hoje, às 21h, no Paramount Channel. Novos episódios serão exibidos a cada domingo.

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