As vacinas e as mutações do coronavírus

Imunizantes que estão sendo lançados em todo o mundo precisam continuar a funcionar enquanto o coronavírus, como todos os vírus, sofre mutações

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(foto: Inactive Account/Pixabay)

Uma nova pesquisa sugere que a vacina COVID-19 da Pfizer pode proteger contra uma mutação encontrada nas duas variantes mais contagiosas do coronavírus que surgiram na Grã-Bretanha e na África do Sul.

Os resultados são tranquilizadores, embora preliminares, e não surpreenderam os cientistas, que não esperavam que uma única mutação derrotasse as vacinas nas quais o mundo depositou suas esperanças. Mas o estudo marca apenas o início do monitoramento contínuo para garantir que todas as vacinas que estão sendo lançadas em todo o mundo continuem a funcionar enquanto o coronavírus, como todos os vírus, sofre mutações.

A versão mutante que circula na Grã-Bretanha também foi detectada nos EUA e em vários outros países. Essa e a variante observada na África do Sul estão causando preocupação global, porque parecem se espalhar mais facilmente, embora ainda não se saiba quanto mais.

As outras vacinas usadas atualmente no Ocidente, Moderna e AstraZeneca, estão passando por testes semelhantes quanto à capacidade de combater mutações do coronavírus.

Todas as vacinas desenvolvidas até agora estimulam o sistema imunológico dos receptores a produzir anticorpos contra vários pontos na proteína "spike" que reveste a parede externa do vírus. Uma mutação vai mudar um pequeno lugar, mas não vai atrapalhar a ligação a todos eles.

O novo estudo analisou uma modificação na proteína "spike" que ambas as variantes compartilham, chamada N501Y, que é considerada responsável pela transmissão mais fácil. A Pfizer se juntou a pesquisadores da Universidade do Texas para testes de laboratório para ver se essa mutação poderia impedir sua vacina.

Eles usaram amostras de sangue de 20 pessoas que receberam a vacina, feita pela Pfizer e sua parceira alemã BioNTech, durante um grande teste das vacinas. Os anticorpos desses receptores combateram o vírus em placas de laboratório e o resultado é que as variantes do coronavírus parecem não bloquear os anticorpos induzidos pela vacina.

Cientistas britânicos também disseram que a variante encontrada no Reino Unido, que se tornou o tipo dominante em partes da Inglaterra, parece ser suscetível às vacinas.

Mas a variante descoberta pela primeira vez na África do Sul tem uma mutação adicional que deixa os cientistas preocupados, chamada E484K. O estudo da Pfizer descobriu que a vacina parece funcionar contra 15 possíveis mutações de vírus adicionais, mas o E484K não estava entre os testados.

Se o vírus eventualmente sofrer mutação suficiente para que a vacina precise ser ajustada, assim como as vacinas contra a gripe são ajustadas na maioria dos anos, ajustar a receita não seria difícil para vacinas feitas com tecnologias mais recentes.

Ambas as vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna são feitas com uma parte do código genético do vírus, simples de trocar.

Mas o coronavírus não está mudando tão rapidamente quanto outros vírus, como a gripe ou o HIV, e sua estrutura é mais estável do que a da gripe, embora isso precise ser rastreado.

O palpite dos pesquisadores é que a vacinação terá uma proteção mais prolongada e será mais eficaz do que contra a gripe.

Dr.Silvio Musman
Médico especialista em pneumologia, medicina do esporte e do sono