Dengue: qual o foco do tratamento, fatores de risco e sinais de alerta?

Entenda por que o exame para diagnosticar a doença não é determinante no tratamento e o que é indicado

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(foto: Pixabay/Reprodução )

Apesar das trágicas notícias sobre o coronavírus, que adoeceu 40 mil pessoas no mundo, não podemos esquecer que no ano passado tivemos um aumento de 600% no número de casos de dengue. Nos últimos três anos foram mais de 2 milhões de pessoas contaminadas pelo vírus da dengue. Segundo o Ministério da Saúde, em 2020, o Brasil já registrou 60 mil casos de dengue e 50 casos de morte em investigação, desse total, 10 mil são no estado de Minas Gerais, com 6 casos fatais em investigação. 
A dengue é uma doença causada por vírus e transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e o período das chuvas é um dos responsáveis pela proliferação do mosquito, consequentemente, observa-se o aumento do número de casos doença. 

O que talvez muitos possam não saber é que os ovos do Aedes aegypti podem sobreviver por um ano a espera de um ambiente adequado para o desenvolvimento. Por isso, o cuidado com a nossa casa e o nosso quintal, em relação aos possíveis criadouros de mosquito, deve ser constante, pois podemos estar mantendo lugares com potencial para eclosão dos ovos. Não adianta prevenir somente no período de chuvas - os cuidados devem ser hábitos e não campanhas.

Em função desses números preocupantes e de alguns outros que ainda irei abordar, inicio nesta semana uma série de artigos com informações que vocês precisam saber e que vão muito além do “evite água parada e use repelentes”. 

" Doutor, estou com uma dor de cabeça, dor no corpo, parece que fui atropelado, meus olhos estão doendo, o que pode ser? 
O senhor me parece estar com dengue! Vou orientar e você pode iniciar o tratamento.
Mas espera aí! Você não vai pedir nenhum exame? Todo ano essa conversa de dengue! Aposto que é algo mais grave! O doutor realmente vai me prescrever água!?"

Se você já não se viu nesta situação, certamente conhece alguém que vivenciou algo, no mínimo, parecido. Com duração de 5 a 10 dias, a dengue é uma doença autolimitada, ou seja, evolui para a cura sem tratamento específico. O que não quer dizer que sejam dias fáceis e nem que os sintomas sejam sempre leves. Estamos diante de uma das famosas viroses em que o foco deve ser tratar os sintomas e ficar atento aos fatores de risco e sinais de alerta.

Os principais sintomas são:
Febre
Dores musculares
Dor articular 
Dor nos olhos
Mal estar
Falta de apetite
Dor de cabeça
Manchas vermelhas no corpo

Os sintomas e sinais de alerta:
Sangramento
Dor abdominal intensa
Vômitos persistentes
Pressão baixa
Aumento do fígado
Acúmulo de líquido no pulmão, barriga e/ou coração
Alteração de exame de sangue como aumento de hematócritos ou redução das plaquetas

Pacientes com condições clínicas especiais:
Lactentes < 2 anos
Gestantes
Adultos maiores que 65 anos portadores de diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares
Doenças pulmonares, como DPOC
Doenças do sangue, como anemia falciforme
Doenças renais
Doenças autoimunes

A dengue é uma arbovirose - doença viral transmitida por insetos - que pode apresentar sintomas inespecíficos e idênticos a outras várias doenças. "Doutor como o senhor sabe que é dengue?" A avaliação médica é suficiente para o diagnóstico de dengue, o que nós chamamos este bate papo é a anamnese que ao se associar ao exame físico pode responder mais de 85% das nossas dúvidas diagnósticas. 

O exame de sorologia e identificação do vírus é importante para os dados de saúde pública e planejamento de estratégias coletivas, porém para o indivíduo não fará nenhuma diferença, uma vez que os resultados ficarão disponíveis quando ele já tiver melhorado da doença e não altera o tratamento, ou seja, não fará nenhuma diferença nas orientações e condutas médicas. Para casos com sinais de gravidade, um exame simples como o hemograma é suficiente para classificar a doença e guiar o tratamento.

O principal tratamento é a HIDRATAÇÃO - tomar bastante líquido é fundamental para uma boa recuperação e redução dos sintomas. O foco deve ser o tratamento do quadro clínico por meio de medicamentos que controlam a febre, a dor e a coceira. Não adianta querer fazer um check-up e beber pouco líquido, a principal recomendação que nós médicos fazemos é muita atenção a quantidade de líquido.

A dengue é uma doença que causa grande impacto na saúde pública, responsável por muitos gastos - tanto para o SUS quanto para a saúde privada. Esse é mais um dos motivos pelo qual reforço que não é necessário nenhum exame específico para o diagnóstico da dengue, não existe tratamento específico porém as orientações devem ser seguidas a risca para um bom desfecho.

Atualmente, trabalho como médico pesquisador no centro de pesquisas de desenvolvimento de vacina contra a dengue em Belo Horizonte, uma parceria entre o Instituto Butantan e o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. O Brasil está na fase final de desenvolvimento de uma vacina dose única contra dengue, novidade que com certeza irá mudar os paradigmas dessa doença que maltrata os doentes e os países. 

Nas próximas semanas, falarei mais sobre a vacina e irei esclarecer alguns mitos e dúvidas enviadas pelos leitores. Por isso, se tiver alguma pergunta sobre a dengue envie para mim: ericksongontijo@gmail.com