Nem toda cirurgia das mamas é para tratamento oncológico ou por estética

Mulheres (e até homens) podem ter malformações congênitas das estruturas mamárias. Essas alterações são consideradas doenças benignas, mas justificam cirurgias

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(foto: Pixabay)


Não há dúvida de que a estética, que sempre inspirou a humanidade nas artes e nas relações pessoais, encontra espaço especial no século 21. Para se ter ideia dessa importância, basta observar que o mercado da estética e dos produtos de beleza não se abalou durante a pandemia. 

Pela estética e satisfação pessoal, a cada dia mais e mais pessoas vão às salas de cirurgia transformar seus corpos. E, veja bem, isso não é uma crítica, apenas uma constatação.

Por outro lado, temos uma pequena confusão em relação às cirurgias das mamas não inseridas no contexto de tratamento de doenças malignas ou de redesignação sexual. O senso comum é o de que “se não se enquadram nesses dois grupos, seriam consequentemente estéticas”. Mas não é bem assim.

Mulheres (e até homens) podem ter malformações congênitas das estruturas mamárias. Essas alterações são consideradas doenças benignas, mas justificam, sim, a realização de intervenções cirúrgicas.

São abordagens que fogem à ideia simplista de adequação aos padrões de beleza (mamas pequenas ou grandes), pois as malformações congênitas proporcionam diferentes tipos de transtornos às suas portadoras. Não é uma questão estética, mas de saúde física e mental.

Obviamente, o corpo de cada mulher é único, mas, assim como outras partes do corpo humano, existem características que definem o aspecto anatômico saudável das mamas.

Primeiramente, devem se apresentar em um par, sendo cada uma delas localizada na parede anterior e superior do tórax, apoiada sobre o músculo peitoral maior. Em geral, devem se estender da segunda à sexta costela no plano vertical; e do esterno à linha axilar anterior no plano horizontal. 

A mama feminina é composta por glândulas mamárias produtoras de leite, por pequenos canais para transportar o leite até o mamilo, e pelo estroma - formado pelos tecidos adiposo e conjuntivo -, além de vasos sanguíneos e linfáticos.

Hipertrofias mamárias


Entre as alterações congênitas conhecidas está o desenvolvimento excessivo do volume das mamas. As chamadas hipertrofias repercutem em desvios ortopédicos, comprometimento da coluna cervical e da postura, com modificação do corpo e consequente comprometimento estético.

Não menos importantes são os possíveis danos psicológicos devido ao estigma que essa mulher ou jovem mulher carrega desde o início da transformação de sua configuração corporal.

Outra consequência é que mulheres com mamas hipertróficas possuem ligeiro maior risco de câncer de mama. É uma questão geográfica. Se há mais tecido glandular, a chance de câncer de mama é maior. Além disso, outro fator importante é que uma mama mais densa também tem maior chance de desenvolvimento do câncer.

Hipotrofia mamária 


Já a hipotrofia mamária é o contrário. Ou seja, o subdesenvolvimento das mamas. A causa pode estar relacionada à própria predisposição individual, à predisposição hereditária e também ao pouco peso da paciente, visto que as mamas são compostas também por tecido gorduroso.

Sintomas de hipoestrogenismo (baixo nível do estrógeno, que é o hormônio sexual feminino) e virilização também podem estar relacionados, bem como existência de doenças sistêmicas que podem levar à perda de peso e catabolismo. É importante sempre avaliar o quadro geral de saúde da paciente.

Não raramente deparamos com situação de ocorrência desse quadro em apenas uma das mamas, gerando quadros de assimetrias mamárias significativas e com profunda repercussão psicossocial nessas mulheres. 

Mama tuberosa


Ainda relacionado ao menor volume mamário ou alteração conformacional das mamas, a mama tuberosa caracteriza-se por volume mamário pequeno, com desenvolvimento e protuberância muito grande da aréola, uni ou bilateralmente, decorrente de um anel fibroso circundando a região areolar. Sua apresentação varia de mulher para mulher em tamanho, formato e posição da aréola, mas, em geral, ficam com aspecto de um tubo proeminente. 

Essa malformação provoca enormes transtornos nas pacientes, durante e após a puberdade, comprometendo a qualidade de vida e os relacionamentos. Para muitas mulheres, somente a cirurgia proporcionará qualidade de vida e o sentimento de aceitação do próprio corpo. 

Agenesia mamária 


Em alguns casos, as pacientes nunca chegam a desenvolver a mama, sendo nesse caso caracterizada a agenesia mamária congênita. Essa condição clínica é extremamente rara e consiste na ausência completa de uma ou ambas as mamas, sendo comum a presença de aréola e mamilo. Quando essa falta da mama é acompanhada da ausência do músculo peitoral maior e também de outras anormalidades ortopédicas, temos a chamada síndrome de Poland. 

As causas possíveis são as alterações cromossomiais, deficiência de gonadotrofinas (hormônio que atua na regulação da reprodução) ou devido às doenças genéticas que limitam a produção de hormônios na glândula adrenal (hiperplasia adrenal congênita).

A cirurgia nesse caso terá como objetivo criar o aspecto anatômico harmônico das mamas por meio de retalho miocutâneo (pele e músculo) ou prótese artificial, criação de aréola e mamilos artificiais e outros refinamentos eventualmente necessários.

Assimetria mamária


Outra ocorrência é a assimetria mamária. Nesses casos, as mamas poderão apresentar características distintas entre si: formas, peso, tamanho, formato, inserção no tórax, posição das aréolas etc. Encontrarmos certa assimetria ou diferença nas mamas é muito comum e natural.

Boa parte das pessoas apresenta algum grau de diferença entre as mamas, mas em algumas situações isso é muito marcante e demanda alguma estratégia de correção.

Mama supranumerária e outras ocorrências


Por sua vez, a mama supranumerária, acessória ou extranumerária consiste na  existência de tecido mamário fora da localização habitual das mamas. Trata-se de um erro de desenvolvimento embrionário do corpo humano. Podem ocorrer ainda outras alterações anatômicas como ausência de mamilo e mamilo acessório. 

Muitas vezes, em caso de adolescentes, será necessário aguardar o período de desenvolvimento completo das mamas para fazer a indicação de uma abordagem cirúrgica. No entanto, em alguns desses casos a intervenção poderá ser realizada ainda na fase final da adolescência, dependendo do nível de repercussão que essas alterações podem provocar nas pacientes.

Em todo o caso, essa jovem deve ser acompanhada por médico mastologista ou um cirurgião plástico, ginecologista, endocrinologista e por um psicólogo, que a ajudará a lidar com as questões emocionais relacionadas. Como disse, é uma questão de saúde!