A importância do estudo da oncologia na graduação médica

Estar preparado para poder levar informação de qualidade, disseminando fontes atualizadas e confiáveis é fundamental

Carolina Vieira 29/01/2021 06:00
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O câncer já é a 1ª causa de mortalidade em países de alta renda. Em países de baixa e média renda como o Brasil esta doença ocupa o 2º lugar em mortalidade, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares.

Desta forma, é importante que a oncologia ganhe mais espaço no currículo da graduação médica. Para conversar a respeito, convido Tainara Lelis, estudante do curso de Medicina da UFMG.

1- Como aluna, qual a sua visão sobre o impacto do câncer na saúde global?

Sabemos que o impacto do câncer na saúde global é enorme em números, seja contabilizando os casos crescentes, seja em recursos investidos para tratamento, pesquisas e prevenção. No entanto, penso que há um impacto na saúde das populações que se mostra em um nível muito mais íntimo e que afeta diretamente o cotidiano das pessoas. Para muitos, especialmente aqui em nosso país, falar em câncer é um grande tabu, porque o medo e a desinformação ainda rondam os diálogos. 

Vemos grandes correntes de fake news que cumprem um desserviço aos pacientes, prometendo ações e receitas milagrosas, que ofuscam ações básicas como alimentação saudável, prática de atividade física e consultas regulares ao seu médico generalista.

Ao conversarmos sobre o impacto do câncer na saúde, precisamos ter olhos atentos aos alarmantes números, mas principalmente lutar contra as informações de baixa qualidade que tanto saltam aos olhos das pessoas e as paralisam diante da doença. É indispensável deixar os tabus de lado e conversar sobre o câncer juntos, equipe de saúde e pacientes, atuando para sua prevenção, baseados em informações seguras, respaldadas pela ciência.

2- Até o momento, como foram seus contatos com o tema durante a graduação?

Meu primeiro contato com o tema foi durante minhas disciplinas obrigatórias, desde o ciclo básico, a primeira parte de nosso curso, até no meu atual período nos estágios que chamamos de internato. Cada disciplina aborda o câncer de maneira contextualizada ao seu conteúdo, sendo assim, vimos por várias vezes o tema, mas de diferentes pontos de vista.

Porém, no último ano, tive uma grande sorte, quando foi incluída obrigatoriamente na disciplina da Clínica Médica V a especialidade de oncologia e minha turma foi uma das duas que teve a oportunidade de cursá-la, já que estas especialidades são decididas por sorteio e assim nem todos os alunos conseguem participar. 

Foi em 2020, que pude me apropriar melhor do universo da oncologia e conhecer de maneira mais integrada o cuidado com o paciente oncológico, mesmo sem as aulas práticas, suspensas em função da pandemia. Além do contato obrigatório na faculdade, iniciei o meu estágio com a dra. Carolina Vieira Martins que me abriu não só muitas portas, mas os olhos para a importância da educação em saúde para a população no âmbito da oncologia e também para a formação continuada de profissionais da saúde. 

Então, essas duas ricas vivências me inspiraram a fundar, com o apoio de meus colegas de curso e do professor Rodrigo Gomes, a Liga Acadêmica de Cirurgia Oncológica da UFMG, que vem com o objetivo trazer à comunidade da Faculdade de Medicina da UFMG a experiência de uma visão integralizada do tratamento cirúrgico na oncologia. Todo esse breve percurso me incentivou e me fez entender a importância de como futura médica generalista não poupar esforços para estar sempre atenta à oncologia.

3- Você julga importante que todos os médicos tenham mais informações oncológicas? Em sua opinião, esta disciplina deveria ser obrigatória?

Não só julgo importante, como também indispensável e com certeza essa deveria ser uma disciplina obrigatória no currículo de todas as faculdades. O câncer não é somente uma das principais doenças do mundo atualmente, mas traz consigo muitos medos e até mesmo desinformação por parte da grande maioria das pessoas. Estar preparado para poder levar informação de qualidade, disseminando fontes atualizadas e confiáveis é fundamental.

Além do mais, o cuidado com o paciente oncológico sempre é beneficiado por equipes multidisciplinares, ser parte dessa equipe requer saber o básico em oncologia, que hoje tem sido muitas vezes deixado de lado. Quem mais ganha com a oncologia fortalecida em nossas escolas são nossos pacientes, e são eles a nossa maior prioridade. 

Ganha-se em melhor acolhimento nos atendimentos, em melhores informações e, principalmente, em prevenção. Estudar sobre câncer é antes de tudo estudar como prevenir, reconhecer a importância dos hábitos de vida saudáveis, entender quais tipos possuem formas eficazes de rastreio e saber que é papel principal do médico aconselhar e guiar seus pacientes a uma vida mais saudável. Bem preparados conseguimos contribuir imensamente na luta contra o câncer.

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com