Fatores não genéticos ligados ao câncer colorretal em pessoas jovens

Pesquisadores descobriram que vários fatores de risco colorretal em idade avançada estão relacionados também à doença de início precoce

Anastasia Gepp/Pixabay
(foto: Anastasia Gepp/Pixabay )

A receita para a prevenção do câncer colorretal parece até bem simples: comer muita fibra, alimentos in natura, frutas, legumes, grãos, cereais e peixes, praticar atividade física, beber muita água, combater o tabagismo e a obesidade. Na contramão da prevenção, pessoas cada vez mais jovens estão sendo diagnosticadas com câncer colorretal, que, em geral, ocorre comumente em pessoas acima dos 50 anos. Nos Estados Unidos, as taxas de incidência de câncer colorretal de início precoce quase dobraram, entre 1992 e 2013, de 8,6 para 13,1 a cada 100 mil indivíduos. A maior parte desse aumento ocorreu devido a cânceres de reto de início precoce.

Diante desse fenômeno, pesquisadores se dedicaram a investigar se os fatores de risco associados ao câncer colorretal de início tardio também estariam relacionados à doença de início precoce e se os padrões de localização diferiam. O estudo, do National Cancer Institute, é o primeiro a avaliar em grande escala fatores de risco não genéticos para o câncer colorretal de início precoce. Com isso, fornecerá uma base inicial para a identificação direcionada dos indivíduos que correm maior risco.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores usaram dados agrupados de 13 estudos de base populacional. Eles incluíram 3.767 casos de câncer colorretal e 4.049 controles em pessoas com 50 anos ou menos, 23.437 casos de câncer colorretal e 35.311 controles em pessoas com 50 anos ou mais. O recrutamento de pacientes ocorreu em todos os estudos entre a década de 1990 e o início de 2010.

Archambault et al em JNCI Cancer Spectrum
descobriram que vários fatores de risco não genéticos estão associados ao câncer colorretal de início precoce, incluindo o não uso regular de aspirina, a maior ingestão de carne vermelha e até o menor nível de escolaridade (provavelmente devido ao menor acesso a informações sobre prevenção).

Além disso, os pesquisadores descobriram que, tanto o uso pesado de álcool quanto a abstinência de álcool, também foram associados ao desenvolvimento de câncer colorretal de início precoce. A menor ingestão total de fibras foi associada mais fortemente ao câncer retal do que ao câncer de cólon.

Os pesquisadores também descobriram que vários outros fatores de risco colorretal tardio tendem a uma associação com a doença de início precoce: a história de diabetes e a menor ingestão de folato (ou ácido fólico, que é encontrado em vegetais folhosos verdes, frutas cítricas, feijões secos e leguminosas, leveduras, etc), de fibra alimentar e de cálcio.

No entanto, nem o índice de massa corporal nem o tabagismo foram fatores de risco nos pacientes com início precoce em comparação com os pacientes com início anterior. Nenhum fator exibiu um excesso maior na doença colorretal de início precoce em comparação com a doença colorretal de início tardio.

Claramente, mais estudos precisam ser realizados para entender melhor os aspectos desses fatores. Por exemplo, em relação às bebidas alcoólicas, a literatura tende a não indicar nenhum consumo, pois até mesmo quantidades mínimas poderiam trazer malefícios.

De toda forma, as descobertas do estudo fornecem uma base inicial para a identificação direcionada daqueles que correm maior risco, o que é fundamental para mitigar o aumento da carga desse câncer, de acordo com os autores do estudo.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.


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