Estudos clínicos de novas drogas contra câncer de próstata

O desenvolvimento de pesquisas com novas drogas é também uma oportunidade terapêutica extra para pacientes, cujas expectativas de vencer a doença com tratamentos tradicionais foram esgotadas

marijana1/Pixabay
Mês de novembro é o de combate ao câncer de próstata (foto: marijana1/Pixabay )

Nunca antes se falou tanto sobre pesquisas para desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas como atualmente. Uma pena que seja devido à urgência de se criar, em tempo recorde, uma forma de imunizar a população contra a COVID-19. Sabemos como a área de pesquisa é importante para o combate de todas as doenças e, a meu ver, deve receber atenção sempre, assim como investimentos e políticas públicas.

E sendo o mês de Prevenção do Câncer de Próstata, aproveito a oportunidade para destacar estudos em andamento para desenvolvimento de terapias contra esse tumor, que, somente neste ano, deve acometer 65.840 homens, conforme dados do INCA.

Em sua fase de análise de efeitos colaterais, um medicamento precisa ser avaliado em larga escala. Daí, a importância dos testes das vacinas de COVID-19 serem realizados em inúmeros países, não só naquele responsável por sua criação.

No caso do câncer, a Clínica Personal, da qual sou diretor Executivo, possui um braço de pesquisa, o Centro de Pesquisas Clínicas de Novas Drogas Anticâncer. Para o câncer de próstata, os estudos Magnitude e Prevalence estão abertos para inclusão de participantes.

No estudo Magnitude, homens com câncer de próstata metastático (resistente à castração) são testados quanto a eficiência dos medicamentos Niraparibe em combinação com acetato de abiraterona e prednisona versus acetato de abiraterona e prednisona. No momento, 340 centros de pesquisas de todo o mundo participam desse projeto, incluindo o Centro Personal.

Já o estudo Prevalence busca identificar, em uma população de 2540 homens com câncer de próstata metastático, a prevalência de 4 ou mais defeitos do gene de reparo de DNA e, assim, avaliar a elegibilidade do biomarcador para estudos intervencionistas do niraparibe. Para isso, são coletados materiais genéticos como saliva, sangue ou e/ou tecido tumoral de arquivo.

Como verdadeiro fã da oncologia de precisão, destaco a relevância desse último estudo por ele utilizar a genética para encontrar tratamentos mais personalizados e eficazes, conforme perfil biológico do tumor. Esse é um avanço que beneficiará imensamente milhares de pacientes no futuro.

Mais recentemente, por exemplo, as principais entidades médicas internacionais sugerem que testes genéticos sejam realizados em todos os pacientes com câncer de próstata avançado, até porque o encontro de mutações patogênicas nos genes de recombinação homóloga ou de reparo do DNA como BRCA-1 l, BRCA-2 e ATM se tornaram mais recentemente indicação para terapia alvo com drogas alvo-específicas denominadas inibidores de enzima PARP, como o olaparibe e também o niraparibe. A Imunoterapia também passou a ser avaliada no tratamento do câncer de próstata com resultados promissores. 

Voltando aos estudos, a existência desses centros de pesquisas é também uma oportunidade terapêutica extra para muitos pacientes, cujas expectativas de vencer a doença com tratamentos tradicionais foram esgotadas.

Os participantes alocados nesses ensaios passam a receber, sem nenhum custo, medicações de ponta, como as drogas alvo-moleculares e imunoterápicas, que estão em fase adiantada de experimentação, possivelmente disponíveis clinicamente em breve.

A pesquisa clínica é dividida em quatro fases: a I, em que é feita uma avaliação preliminar e de segurança; a II, em que ao longo de dois anos são analisadas a eficácia, a definição de doses e, em paralelo, a segurança. Na fase III, os pesquisadores observam segurança, eficácia comparativa, risco/benefício já com a intenção de registrar o novo medicamento. Esse tipo de estudo pode levar de um a quatro anos. Por fim, na fase IV, os pesquisadores estudam a farmacovigilância e a experiência com o produto, assim como possíveis novas indicações. Cada etapa deve ser realizada seguindo protocolos específicos e os resultados devem ser analisados em longo prazo.

Considerando todas as etapas, desde a pesquisa experimental até a pesquisa clínica, um novo medicamento pode demorar mais de dez anos para estar disponível ao uso clínico. Obviamente, dez anos é tempo demais para pacientes que precisam agora de opções para lutar contra a doença. Então, participar de um desses estudos pode ser uma possibilidade única.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

Quer falar com o colunista? Envie um e-mail para andremurad@personaloncologia.com.br