Outubro Rosa: conheça a prevenção personalizada do câncer de mama

Crescimento do diagnóstico tardio, em 2020, deverá repercutir em maiores taxas de mortalidade pela doença

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(foto: Pixabay)

Este Outubro Rosa tem um valor especial. Desde que a quarentena se iniciou, muitas mulheres deixaram de fazer seus exames de rotina e de rastreamento de câncer de mama, o que deverá repercutir no aumento dos diagnósticos tardios da doença e, consequentemente, das taxas de mortalidade, uma vez que o câncer é uma doença que depende muito do diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento.

Para 2020, o Instituto Nacional do Câncer José de Alencar – INCA esperava, antes da pandemia, o registro de 6.650 novos casos. Somente em 2018, foram 3.984 óbitos, conforme o Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM.

E também devido à quarentena, as ações que compõem o Outubro Rosa deverão ser realizadas, em sua maior parte, de forma online, reduzindo incitativas como a realização de mutirões de mamografias. Então, será um esforço online para que as mulheres possam se informar sobre a prevenção e buscar individualmente a prevenção e rastreamento.

Na clínica Personal, em que venho desenvolvendo um trabalho voltado para a prevenção personalizada e tratamento de precisão, por exemplo, vamos realizar uma série de lives pelo nosso IG no Instagram @personaloncologia. A programação foi preparada especialmente para cobrir as várias nuances de enfrentamento a essa doença. Teremos diferentes especialistas e também mulheres que passaram pelo tratamento. Compartilho ao final desse artigo, a programação completa com vocês.

Identificação dos fatores de risco individuais


E como o foco principal do Outubro Rosa é alertar para a prevenção e diagnóstico precoce, eu chamo atenção para a importância dos protocolos que considerem o histórico de saúde das mulheres e fatores de risco a que estão expostas. A prevenção deve considerar as causas diferentes, sendo que a reeducação do estilo de vida é fundamental para todas as pessoas.

Entre os fatores ambientais, destacam-se a dieta inadequada, a obesidade, o sedentarismo e o consumo cada vez mais frequente de bebidas alcoólicas pelas mulheres - prática que, inclusive, foi intensificada durante a quarentena. Também o fato de as mulheres engravidarem cada vez mais tardiamente e ter um número menor de filhos faz com que a exposição aos hormônios femininos seja mais prolongada, efeito esse também vinculado à gênese do tumor.

Uma dieta rica em gordura e proteína de origem animal e com excesso de alimentos industrializados, enlatados, adocicados, embutidos e artificialmente conservados eleva os índices de substâncias potencialmente cancerígenas no organismo, como estrogênio, nitrosamina, insulina e IGF, que é um fator similar à insulina, com propriedades estimuladoras do crescimento de células tumorais.

A obesidade e o sedentarismo igualmente elevam os riscos, uma vez que o tecido gorduroso é uma rica fonte dessas substâncias, além de intensificar o processo inflamatório crônico celular.

Já mulheres que se exercitam regularmente, pelo menos três vezes por semana, têm até 30% menos risco de adquirir câncer de mama do que mulheres sedentárias. Devo ressaltar que a incidência de câncer de mama em mulheres mais jovens (entre 25 e 39 anos) tem aumentado nas últimas décadas. Estudos norte-americanos demonstram que a incidência tem crescido cerca de 2% ao ano nos últimos 34 anos.

Obesidade, consumo de bebidas alcoólicas, sedentarismo, má alimentação e idade cada vez mais tardia para a primeira gestação são fatores mais apontados para se justificar essa mudança epidemiológica, não nos esquecendo das síndromes de predisposição genética, como as mutações dos genes como BRCA-1, BRCA-2, ATM, FANC, RAD51, TP53, PTEN, STK11, PALB2. Hoje, sabemos que até 15% dos casos de câncer de mama são causados por síndromes de predisposição genética, que são precisamente diagnosticadas pelos testes genéticos disponíveis.

Devemos sempre considerar a possibilidade de uma síndrome hereditária nos casos de tumores que ocorrem em pacientes com idade abaixo dos 55 anos e com histórico de casos de câncer nos familiares mais próximos, não só de mama, mas também os de ovários, próstata, pâncreas e também nos casos de câncer de mama masculino.

Estratégias para prevenção e rastreamento


Sobre as estratégias de combate a essa doença, a mamografia é o método ideal de rastreamento. Ressalto que é método de rastreamento, não de prevenção, pois o objetivo é identificar nódulos e tumores já formados, mesmo que muito pequenos e em estágio precoce. Houve um ganho significativo com sua evolução para a mamografia digital. A ultrassonografia mamária também apresentou grandes avanços na qualidade de suas imagens.

Para pacientes com mutação dos genes BRCA, o ideal é a combinação de Mamografias e Ressonância Nuclear Magnética, a partir dos 30 anos, ou mais precocemente, dependendo do histórico familiar. Cirurgias chamadas redutoras de risco como mastectomias (retirada preventiva das mamas) e ooforectomia (retirada preventiva dos ovários) devem ser discutidas individualmente nos casos de mutações germinativas patogênicas de BRCA1 e BRCA2.

Para mulheres com mutação no gene TP53, a ressonância magnética (RM) da mama deve ser oferecida anualmente a partir dos 20-25 anos e a mamografia deve ser evitada se possível, devido ao efeito cumulativo da irradiação em longo prazo. A RM de corpo inteiro e a RM do cérebro devem ser realizadas anualmente desde o nascimento nos portadores, devido ao alto risco de sarcomas, de tumores do sistema nervoso central (SNC), adrenocortical e outros tumores.Check-up Oncológico para Prevenção e Rastreamento Individualizado de câncer

Tenho falado muito sobre o Programa de Check-up Oncológico e Prevenção e Rastreamento Individualizado de câncer, indicado para pessoas com perfil de predisposição genética. O programa inclui a análise genética para a identificação de mutações responsáveis pela predisposição hereditária ao câncer. Identificando-se estas predisposições, uma estratégia prevenção pode então ser personalizada ou individualizada para cada paciente. Vários genes podem hoje ser rastreados através de exames de sequenciamento genético, realizados com material de saliva ou sangue.

Identificar a presença desses genes amplia sobremaneira as possibilidades de prevenção. A primeira ação preventiva é adotar hábitos de vida positivos: alimentação equilibrada com exclusão de alimentos processados e aumento da ingestão de frutas, verduras, legumes, grãos e peixes; não fumar; não beber; ter os devidos cuidados com a exposição ao sol; fazer atividade física, pois, uma vez que a pessoa tenha predisposição, precisamos reduzir os riscos adquiridos e ambientais.

Em alguns casos, pode envolver medicação para evitar o desenvolvimento do tumor, a exemplo de alguns casos de Síndrome de Câncer de Mama, para quais indicamos tamoxifeno.

Por fim, em alguns casos de predisposição muito forte - por exemplo, o câncer de mama causado pelos genes BRCA1 e BRCA2 -, também indicamos a cirurgia profilática, conhecida como Cirurgia Redutora de Risco. A indicação só ocorre após analisar todas as condições e quando os ganhos são realmente vantajosos.

Como podem perceber, as ações para prevenção do câncer de mama vão bem mais além do que realizar o autoexame e a mamografia, a partir dos 40 anos. Para finalizar, convido a todos a participarem da Série de Lives do Outubro Rosa Personal, quando poderão tirar inúmeras dúvidas a respeito desse tema. Basta acessar o IG @PersonalOncologia no Instagram, na hora de cada live.


Lives do Outubro Rosa Personal


>>5/10, Segunda-feira, 19h - Dr. Thadeu Rezende Provenza: Prevenção primária e secundária do câncer de mama

>>08/10, quinta-feira, 19h – Denise Torquato, advogada: Eu venci o câncer de mama aos 32 anos de idade

>>9/10, sexta-feira, 19h Mônica Bessa, Presidente da ASPRECAM: A importância do trabalho dos grupos de acolhimento na luta contra o câncer de mama

>>13/10, terça-feira, 19h - Raquel Simplício voluntária ASPRECAM: Live Juntas e informadas somos mais fortes para vencer o câncer

>>19/10, segunda-feira, 19h - Dr. Clécio Lucena - Cirurgia Profilática Preventiva e Cirurgias de Reconstrução da mama

>>29/10, Quinta-feira, 19h30 - Dra. Juliana Carneiro e Dr. José Cláudio Casali - Exames genéticos moleculares para prevenção, diagnóstico e prognóstico

 *André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

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