Brasileiros estão deixando de se vacinar, levados por notícias falsas e falta de informação

Crenças de todos os tipos e relaxamento quanto ao risco de não se imunizar ajudam nesse quadro

Lilian Monteiro 05/08/2018 07:00
Beto Novaes/EM/D.A Press
A jornalista Nina de Abreu Carvalho com o filho Mateus, de 10 anos, defende ferrenhamente a vacinação (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Para uns, incredulidade e indignação. Para outros, questão de liberdade e decisão individual e particular. Entre os extremos, inúmeros argumentos e questões sobre a gravidade da queda de cobertura vacinal entre os brasileiros. Tanto entre crianças e adolescentes quanto na população adulta e idosa.

Se há quem se preocupe e ande com a carteira de vacinação atualizada quanto às doses necessárias ao longo da vida, há quem tenha dificuldade de se manter em dia por causa do acesso aos locais de vacinação e por serem vítimas do descaso e despreparo de gestores impostos à saúde por força política e não por competência técnica e conhecimento. Há ainda os pais que são contra a vacinação e avisam que eles são os donos dos filhos, não o Estado. Ou seja, eles decidem o que fazer. O que não é verdade, já que o governo tem obrigação de cuidar da saúde pública (de todos os brasileiros) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, com 28 anos de existência, garante o direito das crianças à saúde e torna obrigatória a vacinação.

Isso faz da decisão de não vacinar uma prática ilegal, ainda que exponha uma contradição entre o direito de as famílias ou individual dos pais de decidirem sobre a vida das crianças. No fim, a meta segura é garantir a preservação do interesse público sobre o particular. É saber que se o seu filho ficar doente e provocar ou for meio para contaminar o filho do outro, é o fim do seu direito! O que vale para quem não acredita na vacina, quem tem crença religiosa (ou outra verdade) que o impeça de vacinar ou qualquer outro movimento contrário à imunização. Há quem acredite que o próprio organismo é que tem de reagir à ameça, criar seus anticorpos.

Para agravar esse quadro, muito se fala ainda sobre o rumo que o Ministério da Saúde (MS) tomou nos últimos anos ao se tornar uma instituição politizada, ou seja, com os cargos sendo distribuídos em um loteamento político em todas as esferas de governo.

CIÊNCIA E PESQUISA

A jornalista Nina de Abreu Carvalho, mãe de Mateus de Abreu Carvalho Neder Silva, de 10 anos, defende ferrenhamente a vacinação, e de todos: “Sou filha de biólogo, pesquisador e sempre me ative para as vacinas preventivas. Milhões são gastos e investidos na busca pela prevenção e cura de patologias clínicas que podem levar, inclusive, ao óbito. Cientistas levaram e levam anos de dedicação e estudos sérios para chegar a grandes invenções que podem nos garantir uma vida com a saúde equilibrada. Sou favorável ao investimento nessas pesquisas e ao uso de vacinas preventivas por acreditar que esse trabalho sério pode me ajudar a prevenir doenças e dar qualidade de vida saudável ao Mateus.”

Convicta, certa dos benefícios e da segurança, não só para o Mateus, mas para a família, Nina diz acreditar que cada uma das vacinas (paralisia infantil, caxumba, catapora, rubéola e tantas outras) “garantiram ao Mateus e a mim uma infância sem imprevistos, que poderiam nos tirar das nossas rotinas de vida saudável e da presença na escola e do trabalho”.

Infelizmente, o Brasil e o mundo estão pautados neste momento por uma discussão que gira em torno de doenças que estavam - ou deveriam estar - erradicadas e que, perigosamente, retornam: febre amarela, sarampo, poliomielite... O conhecimento e o convencimento são as armas mais poderosas, mais do que a força para fazer cumprir a lei, na luta para garantir o bem-estar da saúde de todos, ainda mais num mundo globalizado. É incrível essa discussão mais de 100 anos depois da Revolta da Vacina, insurreição popular ocorrida no Rio de Janeiro no início do século 20, quando a população foi contra a campanha da vacinação obrigatória, posta em prática pelo sanitarista Oswaldo Cruz, contra a varíola. Controlada a situação, é bom registrar que em pouco tempo a epidemia foi erradicada da cidade. As vacinas são seguras e não causam a doença. Os imunizantes induzem o corpo a produzir os anticorpos necessários à proteção.

ERA DIGITAL

Para complicar, em plena era digital, surgem novos obstáculos, como as famosas fake news, as notícias falsas publicadas em portais e redes sociais e as inúmeras mensagens de WhatsApp repassadas indiscriminadamente sem confirmar a veracidade das informações, uma boataria on-line sem fundamento que tem impactado, ou pelo menos tornado mais difícil, o cuidado com a saúde no Brasil e em outros países. De acordo com estudo feito pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as notícias falsas se espalham 70% mais rápidas que as verdadeiras, de forma mais aprofundada e abrangente. É preciso estar atento para identificar, não disseminar e não se deixar levar por dados errados porque não são verdade. Isso é fato.

Bio- Manguinhos/Fiocruz
Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora clínica de Bio-Manguinhos, da Fiocruz, defende a força-tarefa para imunizar a população (foto: Bio- Manguinhos/Fiocruz )

Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora clínica de Bio-Maguinho/Fiocruz, vinculada ao Ministério da Saúde (MS) e a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, avisa que “a Fiocruz está preparada para imunizar todos e que a vacina é a melhor medida para controlar doenças. Digo sempre que, mais difícil que se casar é manter um excelente casamento. Mas difícil que conseguir controlar uma doença é manter a doença sobre controle. A vacina nunca fará o mal”, alerta.

Proteção coletiva
Maioria das vacinas do calendário brasileiro exige 95% de cobertura para que a meta de erradicação, controle e prevenção das principais doenças seja alcançada

Desde 2004, o Ministério da Saúde (MS) organiza os calendários de vacinação por ciclos de vida – crianças, adolescentes, adultos e idosos. Segundo relatório recente feito pelo Unicef e Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de cobertura entre as crianças caiu no Brasil nos últimos três anos. A tríplice viral teve queda de 15%, enquanto a vacina contra a poliomielite caiu 17%. Mas essa tendência também pode ser vista nas demais faixas etárias. Retrato que preocupa porque afeta todos, vacinados e não vacinados.

Marcus Ferreira/SES-MG/Divulgação
Eva Lídia Arcoverde, da Secretaria de Estado da Saúde de MG, ressalta que a baixa vacinal vem se acumulando ao longo dos anos (foto: Marcus Ferreira/SES-MG/Divulgação )

Eva Lídia Arcoverde, coordenadora de imunização da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), explica que não existe um fator único para essa situação: “A baixa vacinal acumulou-se ao longo dos anos, não surgiu agora. No entanto, chegou a um ponto que coloca em risco a nossa população em relação a doenças antes controladas ou eliminadas no país”.

A coordenadora da SES-MG chama a atenção para o fato de pais que não viram determinadas doenças circularem e, por isso, acreditam que não é importante vacinar seus filhos ou acabam deixando para depois. “Tem ainda a questão do acesso à sala de vacina, que geralmente funciona só em horário comercial, quando os pais estão trabalhando. Por isso, é preciso uma revisão dos municípios para atendimento fora do horário, maior flexibilização. Quem sabe um sábado por mês ou estender um pouco a carga horária semanal... São sugestões.” Quanto às fake news, Eva Arcoverde condena a atitude, já que circulam e põem em descrédito a ação da vacinação. “O pior é que colocam dados de estudos e científicos que dão falsa veracidade e a população acredita.”

Quanto à situação de Minas, maior estado em número de municípios, há agravantes para a baixa vacinal como “o difícil acesso de moradores da zona rural, inclusive em informação, e mesmo os que vivem na região metropolitana há quem more em regiões sem posto de saúde e precisam pagar pela condução, e nem sempre têm dinheiro. E pensem nos obstáculos da região Amazônica, a questão da acessibilidade...” Enfim, fato é que cada um enfrenta problemas, mas todos têm de assumir o protagonismo de buscar o melhor caminho para se prevenir contra doenças que têm vacinas à disposição.

SISTEMA NOMINAL

Eva Arcoverde destaca os principais focos de luta da vacinação atualmente: “O primeiro é lidar com os grupos antivacina. Apesar de não impactar dentro do nosso estado, há pessoas contra a vacina e que acreditam que ter a doença fortalecerá o sistema imune. Mesmo com a história mostrando que a vacina previne e, caso a pessoa tenha a doença, será da forma mais branda. Em segundo, a informação. Antes, a cobertura vacinal era fundamentada em dados administrativos referentes a doses aplicadas, metodologia que também pode apresentar imprecisões, mas tem menor exigência. Agora, o sistema é nominal, requer dados pessoais que podem afugentar quem não quer informar. A terceira questão que chama a atenção são as campanhas. Temos duas grandes, a da influenza, geralmente em abril, e a de multivacinação (de atualização) em agosto ou setembro, que alerta sobre a importância de todas as vacinas. Alguns reclamam que faltam campanhas para uma doença específica, mas é preciso saber que, epidemiologicamente, não há necessidade. Os postos ofertam 19 vacinas”.

Conforme Eva Arcoverde, tanto as crianças quanto os adultos precisam estar com a vacinação em dia. “O cartão de vacina é um documento. E os adultos têm de se vacinar também e não só levar os filhos. Atualmente, quatro vacinas são recomendadas aos adultos: hepatite B, febre amarela, tríplice viral e dupla adulto (difteria e tétano). Quanto aos pais que não levam os filhos, lembrem-se de que não têm o direito de negar a vacina. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são vistos como negligentes e sofrerão penalidades. O Estado pode obrigá-los, sim, porque ele não vacina pela proteção do indivíduo, mas pela coletividade. O papel do governo é proteger toda a população. Todos somos responsáveis e responsabilizados.”

Xuxa é a madrinha


Todas as crianças de até 5 anos devem se vacinar contra a pólio e sarampo, independentemente da situação vacinal. A nova campanha nacional de vacinação contra a poliomielite e sarampo, que começa nesta segunda-feira e vai até o dia 31, tem como meta vacinar 11,2 milhões de crianças. O “Dia D” de mobilização nacional será sábado, 18, quando os mais de 36 mil postos estarão abertos no país. O objetivo é vacinar, pelo menos, 95% das crianças para diminuir a possibilidade de retorno da pólio e reemergência do sarampo, doenças já eliminadas no Brasil. A madrinha da campanha deste ano é a Xuxa, eterna Rainha dos Baixinhos.

Depoimento

Campanhas vacinais x crise política/social

Ismael Mares Filho, médico homeopata

“No Brasil, há um paralelo entre as companhas vacinais e a crise política/social. São estritamente proporcionais entre si. Quando o país vai bem não escutamos falar de vacinas. Pelo contrário... nota-se uma grande inquietação na população, as campanhas, amplamente difundidas, alardeadas, ditatoriais, “ate judicializando-as”, e sem objetivo algum. As altas cifras gastas nessas campanhas, se aplicadas ao sanitarismo básico de aglomerados humanos, favelas e periferias, seria muito mais vantajosa e permanente a ajuda.

Não encontramos o apoio logístico para as campanhas e políticas públicas aplicadas a esses povos. A mesma campanha para os que moram confortavelmente em suas casas, longe de insalubridades em que a maioria se encontra. Meningite, só os ricos podem pagar R$ 600 a dose, e são três doses. Mesmo assim não as encontram. É uma vacina muito nociva, empírica e de grandes efeitos colaterais. Quantos milhões são gastos em campanhas vacinais? Quantas pessoas não têm água encanada e rede de esgoto em suas residências?

Agora, escutamos o absurdo de culparem os refugiados venezuelanos pelo reaparecimento do sarampo. Antes eram os indefesos africanos. De onde vêm esses micro-organismos que nos atacam? Que nos infectam? Qual é seu hábitat? Eles residem em nós mesmos, todos eles. Nosso organismo convive em uma relação harmoniosa entre hospedeiro/micro-organismo; hospedeiro/parasitas. Uma vez rompida essas barreiras surgem as infecções e cargas parasitárias. O tratamento médico é indispensável, não podemos restabelecer a saúde a não ser por via medicamentosa natural ou química.”

Alerta para o câncer

SBOC/Divulgação
Andreia Melo, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, diz que só 48,7% das meninas entre 9 e 14 anos receberam a vacina do vírus HPV (foto: SBOC/Divulgação)
Diante do quadro preocupante dos baixos níveis de cobertura vacinal no país, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alerta sobre a importância de a população aderir às campanhas de vacinação. A médica Andreia Melo, diretora da SBOC, alerta que o câncer já é uma doença epidêmica e se tornará a maior responsável por mortes no Brasil até 2020. “É crucial que façamos tudo sob nosso alcance para diminuir ao máximo sua incidência e salvar vidas. Entretanto, parece passar despercebido por boa parte das pessoas que as vacinas têm um papel central na prevenção de algumas formas bastante incidentes da doença. O caso da vacina do vírus do papiloma humano (HPV) - principal forma de prevenção do câncer do colo de útero, o terceiro mais comum entre as mulheres no Brasil - é emblemático. O grupo-alvo estabelecido pela OMS para essa vacina são meninas entre 9 e 14 anos - e esse público pode tomá-la gratuitamente no SUS durante todo o ano. Entretanto, apenas 48,7% dessas meninas receberam a vacina desde o início da imunização, há cinco anos, sendo que a cobertura necessária é de 80%. No ano passado, 900 mil vacinas ficaram encalhadas e precisaram ser disponibilizadas para pessoas de outras faixas etárias. Esse tipo de situação é inaceitável.”

Andreia Melo destaca ainda que outra vacina importante é a que atua contra o VHB - o vírus causador da hepatite B, que é um dos principais fatores relacionados ao câncer de fígado. Essa vacina é uma das que menos teve adesão nos últimos 24 anos. De 1994 para cá, apenas 39,4% dos adultos foram imunizados contra a hepatite B. “Apesar da baixa adesão da população, exacerbada nos últimos tempos com a proliferação de fake news, esse é um problema mais amplo, que vem de longe. O fato de seis em cada 10 pessoas não terem se imunizado contra a hepatite B em um período de mais de 20 anos mostra que a questão não é nova”, avisa a médica.

AVANÇOS

Conforme Andreia Melo, no Brasil, é sempre difícil apontar apenas um fator por trás dos problemas. “Nesse caso, há uma mistura de várias questões difíceis de resolver, como a desinformação e o medo – que não atingem apenas os pacientes, mas também os profissionais de saúde. No caso específico do câncer, a questão é ainda mais delicada, já que ainda não há uma formação adequada (em qualidade e quantidade) de médicos oncologistas no país, o que faz com que passos importantes do tratamento e diagnóstico do câncer sejam tomados por profissionais não especialistas. Em 2015, por exemplo, quase 60% dos profissionais de saúde não sabiam que a vacina contra o HPV protege contra o câncer de colo de útero. Se eles não sabem, como é que vão recomendar a linha de ação adequada para os pacientes?”

Para contribuir com a mudança desse cenário, a SBOC tem feito esforços para qualificar o debate público sobre o tema e conscientizar a população sobre a importância das campanhas da vacinação. “Passos importantes nesse sentido foram o recente reconhecimento da oncologia clínica como especialidade médica e os esforços despendidos para estabelecer um título de especialista em oncologia clínica.”

Em defesa da saúde
Mobilização para colocar as vacinas em dia também é missão da sociedade. Entre essa segunda-feira e o dia 31 deste mês, ocorre a Campanha Nacional de Vacinação contra o sarampo e a poliomielite. Meta é atingir 95%

Somente neste ano, três doenças consideradas erradicadas voltaram a assombrar os brasileiros: a febre amarela, o sarampo e a poliomielite. O que está acontecendo? Por que a imunização da sociedade dá sinais de que não está em dia? O que fazer? Como agir? O que falta?

Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora clínica de Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entidade vinculada ao Ministério da Saúde (MS), a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, lembra que esse movimento todo colocado agora sobre a baixa cobertura vacinal é por uma demanda pautada pelo MS: “O que está acontecendo? Chama a atenção a volta do sarampo e da febre amarela, que, felizmente, não existe na área urbana e só quem for, sem vacinar, onde está o vírus selvagem será infectado, já que houve um desequilíbrio nas matas. Quanto ao sarampo (com surto em Roraima, que recebe refugiados venezuelanos desde 2015, e no Amazonas), doença altamente contagiosa e potencialmente grave, não é culpa dos venezuelanos. Nós somos os culpados porque não estamos vacinados. O genótipo não é brasileiro, ou seja, o vírus é de fora do Brasil e, quando entrou no país, encontrou pessoas que não estavam protegidas e vacinadas. Esse é o nosso pecado”, explica. O último registro de transmissão dentro do território nacional ocorreu em 2001 e o Brasil tem certificado de eliminação da doença emitido pela Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), em 2016.

Maria de Lourdes destaca que a vacinação é papel de cada um: “A Fiocruz produzir, o Estado ter a vacina, ofertar e dar acesso, e a população ir se imunizar. Agora, num país continental, como chegar a todos? Por isso, a responsabilidade é de todos nós. Município, estado, governo federal, da sociedade mobilizada, sejam igrejas, escolas, associação de moradores, grupos de todas as crenças, enfim, a grande arma é a divulgação. A potência está na informação verídica e de qualidade que mostra os casos, aponte a gravidade, o número de mortes e a prevenção, que é a vacina”, frisa.

DIA D

Jair Amaral/EM/D.A Press
Em MG, a cobertura vacinal acumulada para a hepatite B, de 1996 a 2018, é de 53,33%. Meta estabelecida pelo Ministério da Saúde é de 95% (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Entre essa segunda-feira e o dia 31 deste mês, Maria de Lourdes lembra da Campanha Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde contra o sarampo e a poliomielite, que precisa atingir a meta de pelo menos 95% das pessoas vacinadas para que o sarampo não se espalhe. É uma força-tarefa para vacinar a população contra as duas doenças. O “Dia D” será 18 de agosto (sábado). Quem não foi vacinado ou tenha dúvida e mesmo as crianças que já tenha sido imunizadas anteriormente, devem ir ao posto de saúde.

“Precisamos que haja a mobilização de todos. Cada cidadão pode ajudar e tem como contribuir. É a chamada imunidade de rebanho ou coletiva, quando vacina o quantitativo substancial de pessoas. Assim, mesmo que o vírus chegue não será passado para quem não se imunizou, já que foi criado um bloqueio.” Por isso, avisa Maria de Lourdes, é fundamental “o apoio, mesmo boca a boa, de todos para chegar a 90,95% em todas as demandas que tivermos para sermos uma população protegida. O movimento tem de ser geral, cada um indo ao encontro desse processo de vacina”.

PELO MUNDO...

» Itália aprovou lei que exige carteira de vacinação em dia para matrícula de crianças de até 6 anos em escolas

» Na Alemanha, governo exige que direção da pré-escola comunique crianças que não estão imunizadas ou sem calendário da vacinação em dia. Pais pagam multa

» Portugal e EUA adotam medidas para punir pais que não levam seus filhos para vacinar. Em 2017, a americana Rebecca Bredow teve a prisão decretada pelo Tribunal de Oakland, em Michigan, por se recusar a vacinar o filho

Manifesto reforça campanha

As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP), Imunizações (SBIm) e Infectologia (SBI), em parceria com o Rotary Internacional, no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, em manifesto, chamam a atenção da população sobre a importância de manter a vacinação. O documento alerta a população e profissionais de saúde para a real possibilidade de retorno da pólio e da reemergência do sarampo em território nacional. O manifesto convoca todos a participarem da Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite e o sarampo, reforçando que a imunização continua sendo a melhor ferramenta na promoção e manutenção da saúde da população brasileira. A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS), Carla Domingues, ressalta que “as coberturas vacinais são heterogêneas no Brasil, podendo levar à formação de bolsões de pessoas não vacinadas, possibilitando, assim, a reintrodução do poliovírus e do sarampo. O recente surto no país, em Roraima e Manaus, evidencia nossas inadequadas coberturas vacinais e a urgente necessidade de melhoria dessas taxas.” No início do século 20, as doenças imunopreveníveis, como poliomielite e varíola, eram endêmicas no Brasil, perfil que mudou com a imunização. Assim como a conquista da sociedade ao ser eficiente na erradicação da febre amarela urbana, varíola, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita e do sarampo. Além de ter reduzido a circulação de agentes patógenos, responsáveis por doenças como a difteria, o tétano e a coqueluche. “Não podemos perder a vigilância sobre a vacinação. É ela que protege nossos filhos de sequelas e até da morte por doenças evitáveis”, completa Carla Domingues.

Sanofi Pasteur/Divulgação
Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, desvenda preconceitos que cercam as vacinas (foto: Sanofi Pasteur/Divulgação)
Mitos e verdades

1 - As vacinas combinadas usadas no primeiro ano de vida causam a doença.

NÃO!
As vacinas são produzidas a partir de micro-organismos inativados, ou seja, mortos, ou micro-organismos enfraquecidos e, por isso, não são capazes de causar a doença em quem toma a injeção. O imunizante é suficiente apenas para te levar a produzir anticorpos e se proteger. Ao espalhar ou acreditar nesse tipo de informação falsa, muitos pais deixam de vacinar seus filhos com as vacinas combinadas, como as hexavalentes, por exemplo, que com uma única injeção protegem as crianças contra seis doenças graves.

2 - Bebês vacinados podem desenvolver autismo.

NÃO! A discussão começou no final dos anos 1990, nos EUA, quando um estudo apontando associação entre vacinas pediátricas e autismo foi publicado. Tratava-se de uma fraude, e embora o estudo tenha sido desmentido, mesmo depois de mais de 20 anos o tema ainda gera alguns boatos. Desde então, muitos estudos demonstraram que tal teoria não tem fundamento. Os pais podem e devem vacinar seus filhos tranquilamente. Não há evidências de que a exposição a substâncias presentes nos imunizantes aumente o risco de as crianças desenvolverem qualquer transtorno do espectro autista.

3 - As vacinas não passam por testes suficientes.

PASSAM, SIM! Todas as vacinas passam por um amplo programa de desenvolvimento clínico que contempla inúmeras etapas (fases pré-clínica, I, II e III), em diferentes contextos epidemiológicos para avaliar a segurança e eficácia e assim, posteriormente, ser aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As vacinas para crianças e bebês são seguras.

4 - As vacinas da rede privada são mais seguras do que as da rede pública.

AMBAS SÃO SEGURAS! As principais diferenças são referentes às formulações de algumas vacinas e grupos etários a vacinar. Por exemplo, a vacina pentavalente do Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece proteção contra hepatite B, difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae tipo b (uma bactéria causadora de meningite e pneumonia). A criança que a recebe necessita tomar, simultaneamente, duas picadas, sendo que a segunda a protegerá contra a poliomielite. Já a vacina combinada disponível nas clínicas particulares pode proteger contra as seis doenças (difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b, poliomielite e hepatite B) em uma única aplicação. Essas vacinas são chamadas de hexavalentes. Mas a diferença mais importante está na composição das vacinas. As vacinas do PNI são feitas com bactérias inativadas e inteiras da bactéria causadora da coqueluche. Já a das clínicas privadas são feitas apenas com pequenas porções das bactérias, reduzindo significativamente a ocorrência de possíveis efeitos adversos após a vacinação.

5 - As crianças sempre têm reação depois de tomar vacinas.

NÃO! Os efeitos adversos mais comuns depois de 24 horas de administração das vacinas para crianças e bebês são, em geral, leves e de rápida resolução, podendo ser locais ou sistêmicos, como vermelhidão e inchaço temporários no local da injeção e febre, variando de criança para criança.