Preste atenção na composição dos ovos de Páscoa e consuma a guloseima sem afetar a saúde e a dieta

Nutricionistas falam sobre benefícios do cacau e alternativas

por Laura Valente 01/04/2018 07:00
Ed Alves/CB/D.A Press
(foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

O domingo de Páscoa chegou e com ele a tentação em forma de ovos e outros doces de chocolate acende o alerta vermelho para o controle de peso. Mas, esqueça o radicalismo: ninguém precisa abrir mão da guloseima para ficar em dia com a saúde ou a dieta. Isso porque, segundo especialistas, o cacau, principal matéria-prima da sobremesa temática da data, é um ingrediente rico em antioxidantes, substância que combate os radicais livres, entre outros elementos do bem. Portanto, o consumo engorda, é verdade, mas, se moderado, também traz benefícios.

Para ficar com o melhor do doce, nutricionistas indicam que o público tenha preferência pelo consumo de produtos com mais teor da fruta, os chamados amargo, meio amargo ou extra-amargo, no lugar dos tipos ao leite ou branco, que trazem mais açúcar e gordura na fórmula. “É preciso apenas saber escolher. Optar pelos chocolates com menos gordura e menor teor de calorias é o ideal”, sugere a nutricionista Júlia Mendoza. “Os chocolates com mais quantidade de cacau, identificados como amargos, ajudam ainda no processo termogênico (acelera o metabolismo), têm muita fibra e são ricos em fitoquímicos com funções antioxidantes, ou seja, a capacidade de eliminar radicais livres responsáveis pelo envelhecimento das células. Nesse sentido, o cacau é um dos alimentos mais ricos em flavonoides”, explica. No entanto, o consumo deve ser sempre moderado, frisa a nutricionista, já que a manteiga do cacau tem quantidade de gordura mais elevada, o que torna o produto calórico.


EQUILÍBRIO

Na ponta do lápis, a nutricionista calcula que o chocolate meio amargo, um dos mais utilizados para o preparo de doces, tem 150kcal em uma porção de 30g e 603kcal para 120g. “Se consumido com moderação (dois a três quadradinhos por dia, ou seja, mais ou menos 15g), o chocolate rico em cacau pode, sim, trazer benefícios à saúde.” Concorda Karine Andrade, nutricionista clínica e especialista em tratamentos para a obesidade e sobrepeso, que destaca que o consumo de chocolate com mais teor de cacau pode ajudar no controle da pressão arterial, no aumento do desempenho físico e cognitivo, em efeitos antioxidantes e na melhora da glicemia, entre outros benefícios.

“Lembrando que tudo em excesso pode trazer prejuízos: mesmo o chocolate com maior porcentagem de cacau ainda é bem calórico (100g têm aproximadamente 500kcal - cálculo com base em um chocolate comercial com açúcar e 70% de cacau), o que pode levar a um ganho de peso”, explica. A profissional ainda alerta sobre a quantidade indicada para consumo, que deve ser de aproximadamente 30g de chocolate com no mínimo de 70% de cacau por dia.

CUIDADO

Agenda Comunicação Integrada/Divulgação
Nutricionista Júlia Mendoza sugere optar por chocolates com menos gordura e menor teor de calorias (foto: Agenda Comunicação Integrada/Divulgação)
Com o mercado repleto de opções de ovos e a confeitaria artesanal caprichando em misturas e recheios de dar água na boca, Júlia explica que o melhor para não fugir da dieta é optar pelo chocolate puro, e evitar produtos à base de leite ou de chocolate branco. “Apesar de o chocolate ao leite ser o mais consumido pelas pessoas, em geral é composto por apenas 25% de cacau, e, consequentemente, mais leite e açúcar, o que aumenta a quantidade de calorias ingeridas em uma porção. Um tablete de 30g de chocolate ao leite puro, sem castanhas ou frutas cristalizadas, fornece 162kcal. Já uma barra de 120g contém 648kcal”, informa.

Outro queridinho do público, frisa ela, o chocolate branco é o tipo mais prejudicial à saúde por ser produzido a partir da manteiga de cacau. “Por isso, é rico em açúcar e gordura, sendo a versão menos benéfica. Em casos em que a manteiga é substituída por gordura vegetal hidrogenada, um tipo de ácido graxo que pode conter gorduras trans, o doce pode ser ainda mais nocivo à saúde”, salienta. Segundo ela, uma porção de 30g do chocolate branco equivale a 170kcal, enquanto uma barra de 120g tem 680kcal.

ALTERNATIVAS

Karine Andrade chama a atenção para os mitos em torno do tema, lembrando que é recorrente pensar que o chocolate diet não engorda. “Para compensar a falta de açúcar, muitas vezes a indústria inclui mais gordura no chocolate. Assim, o produto pode ser até mais calórico do que o tradicional”, avisa.

Para aproveitar o período sem prejuízo para a dieta e o controle de peso, Júlia indica dar preferência ao chocolate puro, sem outros recheios. Há, ainda, opções de ovos fit (feitos com ingredientes funcionais) e o chocolate derivado da alfarroba, vagem nativa do Mediterrâneo. “É a matéria-prima utilizada em substituição ao cacau: enquanto o chocolate tradicional tem 45% de açúcar, a alfarroba tem 38% e ainda apresenta sabor adocicado, o que dispensa o acréscimo de mais doce”, avisa. E vai além: “Os benefícios não terminam por aí, já que o chocolate de alfarroba não contém lactose, glúten e está livre de cafeína. Com apenas 0,7% de gordura, é um dos menos calóricos, rico em fibras e pode ser encontrado em tabletes, em pó ou na forma de bombons”.

Diferenças

Aline Lamaita, médica e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, aponta a relação entre o consumo de tipos diferentes de chocolate e a saúde. Confira:

* Chocolate ao leite: sem quantidade significativa de cacau, o chocolate ao leite não traz benefícios à saúde. E os exageros são perigosos: “O açúcar está relacionado com a obesidade e também tem sido apontado como grande vilão para o aumento de colesterol. A gordura também favorece o aumento do colesterol e o processo de aterosclerose”.

* Amargo: o chocolate com no mínimo 70% de cacau tem efeitos anti-inflamatórios, propriedades antioxidantes, atividades antiplaquetárias, com melhora da função vascular e, além disso, está ligado a uma melhora na disposição, funcionamento cerebral e redução da vontade de comer doces.

* Meio Amargo: com concentração significativa de cacau (acima de 40%), tem mais açúcar que a versão amarga, mas também traz benefícios antioxidantes.

* Branco: produzido com manteiga de cacau, a gordura obtida das sementes durante a fabricação do chocolate, é o mais calórico e rico em gorduras. “O consumo dos produzidos apenas com óleos vegetais hidrogenados resulta no aumento dos níveis do mau colesterol (LDL) e na redução do bom colesterol (HDL). Por isso, mesmo se você optar por esse tipo de ovo de Páscoa, vale a pena dar uma olhada no rótulo”, afirma. Como é rico em açúcar e gordura, o chocolate branco também favorece a inflamação, o que pode retardar a circulação e colaborar para o aparecimento de doenças circulatórias.

* Diet: os chocolates diet também apresentam um risco, pois apresentam maior quantidade de gordura.

* Com oleaginosas: apesar de adicionar mais calorias ao chocolate, as castanhas, nozes, avelã e o amendoim, entre outros, são ricos em ômega 3, que favorecem o sistema circulatório e melhoram a qualidade da circulação. “A presença de oleaginosas pode ‘enriquecer’ o benefício nutricional do ovo de Páscoa”, finaliza.

O chocolate e a beleza da pele

Íris Flório, dermatologista especializada em estética médica, aponta as principais dúvidas entre consumo de chocolate e saúde da cútis. Confira:

O chocolate pode causar acne? Mito. O grande vilão não é o chocolate, já que o aparecimento do problema está relacionado à ingestão de alimentos que têm alto índice glicêmico ou ricos em carboidratos de rápida absorção que desencadeiam alterações hormonais.

Chocolate meio amargo é melhor para a pele? Verdade. Pequenas doses de chocolate meio amargo ou amargo, mais ricos em cacau, podem trazer benefícios à saúde. Além da energia que proporciona, o alimento melhora a circulação sanguínea, estimula o sistema nervoso central, tem antioxidantes e ainda promove a sensação de bem-estar, pois libera um hormônio chamado serotonina.

Chocolate branco é o pior para a pele? Verdade. Levando em consideração que ele é pobre em cacau, rico em açúcar e gorduras saturadas, essas altas taxas de calorias podem ser prejudiciais para o corpo.

O chocolate pode causar rugas? Verdade. Quando o chocolate é rico em açúcar e gorduras, ele pode provocar o fenômeno da glicação, que é um processo que une uma molécula de glicose com uma de proteína, como colágeno e elastina. As mesmas responsáveis por manter a pele mais jovem e firme, que instabiliza a proteína e a faz quebrar. É uma ação tão danosa quanto a dos radicais livres, promovendo a formação de rugas e acarretando em perda de elasticidade. Esse problema tem sido alvo de muitos estudos científicos, já que esses agentes podem ser encontrados nos alimentos, principalmente em dietas muito açucaradas.