HIV afeta cérebro de crianças e fetos

O vírus é capaz de provocar estragos no órgão antes do nascimento, pelo contato com o embrião, ainda que não o contamine

por Estado de Minas 26/10/2017 13:03
Reprodução/Internet/Gestação Bebê
(foto: Reprodução/Internet/Gestação Bebê)

Mesmo sendo tratadas desde muito cedo contra o HIV, crianças soropositivas podem ter o desenvolvimento cerebral comprometido em razão da infecção. O vírus, aliás, é capaz de provocar estragos no órgão antes do nascimento, pelo contato com o feto, ainda que não o contamine. É o que mostra estudo sul-africano divulgado no jornal científico Frontiers in Neuroanatomy.

“Essas observações em crianças soropositivas sinalizam perturbações correntes no desenvolvimento da matéria branca a despeito da terapia antirretroviral e da supressão viral (…) Mesmo com as terapias antirretrovirais desde cedo, continuamos a observar danos na matéria branca aos 7 anos, com danos se tornando evidentes entre os 5 e os 7 anos”, ressalta Marcin Jankiewicz, pesquisadora da Universidade da Cidade do Cabo e líder do estudo.

A massa branca é responsável, entre outras funções, por transmitir informações entre as diferentes regiões do cérebro e está relacionada a funções cognitivas, como atenção, linguagem e memória. No experimento, por meio de ressonância magnética avançada, os pesquisadores analisaram esse tecido cerebral em dois grupos de crianças sul-africanas com 7 anos: 65 eram soropositivas e 46 não haviam sido infectadas pelo HIV.

A equipe identificou diferenças na microestrutura de alguns trechos da massa branca entre os grupos, mesmo as soropositivas tendo iniciado o tratamento contra o vírus aos 18 meses de idade. As crianças haviam sido submetidas a exames semelhantes quando tinham 5 anos. Elas participam do ensaio clínico Cher (sigla em inglês para Antirretrovirais Cedo para Crianças com HIV), que, com os primeiros resultados, divulgados em 2008, padronizou o tratamento de recém-nascidos infectados na África do Sul, um dos países mais atingidos pelo vírus.

“Como os bebês infectados e não infectados foram recrutados em paralelo com a mesma idade e nas mesmas comunidades (...), pudemos acompanhar seu desenvolvimento cerebral nos primeiros anos da infância em um estudo sobre neurodesenvolvimento e tivemos a oportunidade de adicionar exames avançados de neuroimageamento a essas avaliações”, diz Jankiewicz.

Novas práticas

O trabalho também incluiu crianças que foram expostas ao HIV durante a gestação ou o parto e não foram infectadas. Pelos exames de imagem cerebral, concluiu-se que elas também tiveram o desenvolvimento do órgão comprometido. A equipe ressaltou que as possíveis implicações dessas anormalidades precisam ser estudadas.

“Esperamos que nosso trabalho eventualmente ajude a identificar as partes do cérebro que são particularmente mais vulneráveis ao HIV ou aos antirretrovirais e a deixar claro como a escolha do momento para início da terapia afeta o desenvolvimento do cérebro. Isso poderá ajudar a determinar as políticas de tratamento, melhorar as combinações de drogas e guiar as estratégias de intervenção precoce”, defende a autora.