Diferenças sociais influenciam na eficácia da dieta mediterrânea

Pesquisa revela que status socioeconômico tem relação direta com as vantagens à saúde que se podem obter com o regime alimentar

09/08/2017 13:25
Kirill Kudryavtsev/AFP
Variedade de frutas e legumes garante a qualidade desse regime (foto: Kirill Kudryavtsev/AFP)

Conhecida por seus benefícios à saúde, a dieta mediterrânea reduz o risco de doença cardiovascular, mas apenas para quem é rico ou tem alto nível de escolaridade. Essa foi a descoberta surpreendente de pesquisadores italianos do Instituto Neurológico Mediterrâneo Neuromed, que fizeram um estudo com mais de 18 mil pessoas. O resultado foi publicado no International Journal of Epidemiology.

Liderado por Giovanni de Gaetano, do Departamento de Epidemiologia e Prevenção, o trabalho revela que as vantagens associadas à dieta mediterrânea são fortemente influenciadas pela posição socioeconômica do indivíduo. Se, por um lado, os de alta renda e elevado nível educacional parecem se beneficiar do regime alimentar, baseado no alto consumo de frutas, hortaliças e grãos e na restrição a derivados do leite e à carne, o mesmo não é observado entre grupos menos favorecidos.

“Nosso estudo é o primeiro a revelar que o status socioeconômico influencia nas vantagens à saúde que se podem obter da dieta mediterrânea”, disse Marialaura Bonaccio, pesquisadora do Neuromed. “Em outras palavras, é improvável que uma pessoa de baixa condição socioeconômica que se esforça para seguir o modelo mediterrâneo obtenha as mesmas vantagens de uma com maior renda, apesar de ambas aderirem à mesma dieta saudável”, diz.

Com os números em mãos, os pesquisadores foram além, para tentar desvendar os possíveis mecanismos por trás dessa disparidade. A resposta está na qualidade do alimento ingerido. “Os grupos mais favorecidos eram mais propensos a consumir itens de alta qualidade”, explicou Licia Iacoviello, diretora do Laboratório de Nutrição Molecular Epidemiologia.

Baixa qualidade

“Por exemplo, dentro daqueles que relatam uma adesão ótima à dieta mediterrânea (medida por uma pontuação que compreende frutas e nozes, legumes, verduras, cereais, peixe, gorduras, carne, laticínios e álcool), os de renda elevada ou maior nível educacional consumiam produtos mais ricos em antioxidantes e polifenóis, além de optar por uma diversidade maior de frutas e vegetais”, disse Iacoviello. “Também encontramos uma influência socioeconômica no consumo de grãos integrais e nos métodos de cocção preferidos. Na dieta mediterrânea, a qualidade dos alimentos pode ser tão importante para a saúde quanto a quantidade e a frequência de ingestão”, observou.

De acordo com Giovanni de Gaetano, os resultados devem promover um debate sobre a influência do status socioeconômico sobre a saúde populacional. “As disparidades socioeconômicas estão crescendo também no que diz respeito ao acesso a alimentos saudáveis. Nos últimos anos, documentamos uma grande adesão à dieta do Mediterrâneo em toda a população, mas também pudemos ver que cidadãos mais desfavorecidos tendem a comprar alimentos ‘mediterrânicos’ com menor valor nutricional. Não podemos continuar afirmando que a dieta mediterrânea é boa para a saúde se não pudermos garantir um acesso igualitário a ela”, concluiu.