Dieta rica em vitamina D e cálcio pode reduzir risco de menopausa precoce

Pesquisadores da Universidade de Massachusetts, nos EUA, apresentam evidências claras do poder de uma boa alimentação para o organismo

por Vilhena Soares 29/05/2017 14:28
Reprodução/Internet/Blog Tudo Gostoso
(foto: Reprodução/Internet/Blog Tudo Gostoso)

A menopausa - período que determina o fim da menstruação - é uma etapa pela qual todas as mulheres passarão, porém, muitas delas enfrentam essa mudança hormonal mais cedo que o considerado normal, antes dos 45 anos. Para evitar essa situação, que pode causar problemas de saúde, como um risco maior de doença cardiovascular e osteoporose, a alimentação pode ser a resposta, como mostram cientistas americanos. Os pesquisadores acompanharam mais de 100 mil mulheres durante 20 anos e observaram que uma dieta rica em cálcio e vitamina D reduziu as chances de a menopausa precoce ocorrer. Os autores do estudo, publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, acreditam que os achados podem resultar em mais estratégias que protejam a saúde das mulheres.

A investigação americana foi baseada em pesquisas recentes feitas em animais, que mostraram como a vitamina D regula a secreção de hormônios que impedem o processo de deterioração dos ovários. “Como o envelhecimento acelerado dos ovários é a característica principal da menopausa precoce, os achados desses estudos laboratoriais nos levaram à hipótese de que uma maior ingestão de vitamina D pode estar associada a um risco menor desse ‘adiantamento’. Por isso, resolvemos realizar o estudo, que é o primeiro a investigar essa possível relação”, destacou Alexandra Purdue-Smithe, autora principal do artigo e pesquisadora da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos.

No trabalho, os cientistas analisaram por duas décadas 116.430 enfermeiras que tinham entre 25 e 42 anos em 1989, data em que a pesquisa teve início. A cada dois anos, elas responderam a questionários com perguntas sobre seu estilo de vida e condições médicas. A dieta das participantes do estudo foi analisada cinco vezes ao longo do acompanhamento. Nas análises comparativas, os pesquisadores observaram que mulheres que comiam com mais frequência leite fortificado e peixes gordos possuíam um risco 17% menor de ter menopausa precoce quando comparadas com aquelas que não consumiam esses alimentos frequentemente.

Suspeitas

Os investigadores ainda não conseguiram legitimar as causas dessa relação, mas cogitam duas hipóteses sobre os resultados observados. “A vitamina D pode regular a secreção hormonal, nosso ponto de partida da pesquisa, e sabemos também que alimentos derivados do leite são uma fonte rica de esteroides sexuais. A ingestão de ambos deve aumentar os níveis de esteroides sexuais circulantes e tornar mais lento o envelhecimento dos ovários”, explicou Purdue-Smithe.

Cristiane Moulin, endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, e doutora em ciências médicas pela Universidade de São Paulo (USP), destacou que os achados do trabalho americano são inéditos na área, mas disse que a ligação da vitamina D com o sistema hormonal era algo suspeito. “Temos visto muitos estudos que mostram a relação desse suplemento com outras patologias e sabemos também da existência de receptores de vitamina D no ovário. Mas é apenas uma hipótese, estudos futuros são necessários”, opinou a especialista, que não participou do estudo.

“Também acredito que outras particularidades do trabalho devem ser mais avaliadas, por exemplo, os cientistas observaram a ingestão de alimentos fortalecidos, que são mais consumidos nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil não temos esse costume. Outro ponto que merecia atenção é a quantidade de luz solar a que as mulheres avaliadas foram expostas, que não foi avaliada”, complementou Moulin.

Proteção

Os cientistas ressaltam que mais investigações são necessárias para que seja possível confirmar a ingestão de vitamina D e cálcio como fatores preventivos à menopausa precoce. Eles destacam que a evolução do trabalho pode render estratégias que protejam a saúde das mulheres, extremamente necessárias para a área médica. “Menopausa precoce aumenta o risco de doença cardiovascular, declínio cognitivo precoce e outras condições. Além disso, as mulheres estão cada vez mais atrasando sua procriação, para elas é importante ter esse tempo disponível, sem contar o profundo impacto psicológico e financeiro que a menopausa precoce pode causar”, ressaltou Purdue-Smithe.

Lindinalva Giovanni, ginecologista e obstetra do Laboratório Exame, em Brasília, enfatiza que o trabalho americano aborda um tema de grande relevância para a saúde da mulher. “Evitar que a menopausa chegue cedo é importante, pois impede que as mulheres sofram com problemas emocionais, principalmente em sua vida profissional, prejudicando assim a sua qualidade de vida”, ressaltou a especialista, que não participou do estudo.

Ilustração/Valdo Virgo/CB/D.A.Press
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A médica ressalta os cuidados que especialistas recomendam às mulheres para evitar que a menopausa chegue antes da hora. “Essa busca exagerada que vemos atualmente, de permanecer jovem, tem seu lado positivo, pois faz com que a mulher melhore o estilo de vida que leva. Sabemos que realizar exercícios físicos e acabar com hábitos nocivos, como fumar, pode evitar essa mudança precoce. O uso do tabaco pode adiantar em até dois anos a menopausa”, detalhou. “Seria interessante dar continuidade a essa pesquisa e analisar grupos mais distintos de mulheres, em outras profissões e de outras etnias, por exemplo, já que, ao confirmar esses dados vistos no estudo, teríamos mais medidas que ajudem a prevenir a menopausa precoce”, complementou Giovanni.

A autora do estudo adianta quais são os próximos passos. “A fim de responder a essas questões de forma conclusiva, os nossos trabalhos seguintes avaliarão os níveis de vitamina D e de alimentos lácteos que podem interferir no risco da menopausa precoce. Os resultados nos ajudarão a entender melhor quais mecanismos estão agindo nessa relação”, detalhou Purdue-Smithe.