Novos hábitos de vida barram a osteoporose

Poucas pessoas têm a chance de descobrir a osteoporose antes que ela se manifeste em forma de fratura

por Júlia Campos 01/11/2016 15:00
Jhonatan Vieira/Esp.CB/D.A Press
"O médico me falou que isso era cadeira de roda na certa. Foi quando realmente me assustei e comecei a fazer a minha parte" - Cristhianni Caetano, professora (foto: Jhonatan Vieira/Esp.CB/D.A Press)
Quando, em 2013, o exame da professora Cristhianni Caetano, 47 anos, acusou perda óssea na coluna, ela não se impressionou muito. “O médico falou que eu tinha carinha de 30 e ossinhos de 80. Mas não levei a sério”, recorda. O susto mesmo veio no ano seguinte. Uma segunda avaliação mostrou que quase todo o esqueleto já estava comprometido. “Fêmur, bacia, antebraço... Então, ele me falou que isso era cadeira de roda na certa. Foi quando realmente me assustei e comecei a fazer a minha parte.”

Poucas pessoas têm a chance de descobrir a osteoporose antes que ela se manifeste em forma de fratura. No caso de Cristhianni, mudança de hábitos e reposição de cálcio e de vitamina D não só evitaram a progressão da doença como permitiram que ela recuperasse 80% da massa óssea. Contudo, um documento divulgado pela Federação Internacional de Osteoporose, uma organização não governamental de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças ósseas, alerta que milhões de pessoas em todo o mundo — especialmente nos países pobres e em desenvolvimento — podem estar sem diagnóstico ou tratamento.

“A osteoporose é uma doença silenciosa e traiçoeira”, define a reumatologista Vera Szejnfeld, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso). A médica esclarece que o desgaste ósseo é um processo natural do envelhecimento, que se inicia por volta dos 40 anos. Contudo, o normal é chegar aos 70 com perda média de 10%. No caso de quem tem a doença, essa degeneração é muito maior. Como o desgaste, sozinho, não causa dor, muitos vão descobrir tarde demais. “A primeira manifestação é uma fratura, então o diagnóstico costuma ser tardio, quando de 30% a 40% do osso já foi perdido”, diz Szejnfeld.

Por causa da queda na produção de hormônios associada à menopausa, a osteoporose costuma afetar mais as mulheres, que também apresentam o problema antes que os homens. As estatísticas indicam que uma em cada três pessoas do sexo feminino sofrerá perda óssea acentuada depois dos 50 anos, sendo que na fase pré-menopausa, quando a menstruação começa a falhar, já é possível que os ossos estejam perdendo massa. A ocorrência entre homens é de um caso em cada cinco, e a degeneração costuma ocorrer após os 60 anos.

Isso não significa que as mulheres sofrem mais que os homens com a osteoporose. Pelo contrário. Para eles, as consequências costumam ter maior gravidade. “O que mais mata quem tem a doença é a fratura de quadril. Nas mulheres, um terço das pacientes morre em até um ano depois desse tipo de fratura. Nos homens, esse risco é duas vezes maior”, revela João Lindolfo Borges, professor da Universidade Católica de Brasília e membro do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

De acordo com o médico, isso ocorre devido às complicações pós-cirurgias, como fibrilação arterial, acidente vascular e trombose, que são mais comuns entre o sexo masculino. Borges também lembra que as mulheres, por fazerem consultas frequentes com o ginecologista, acabam cuidando mais da saúde que os homens, o que aumenta as chances de prevenção, não só da doença, mas da ocorrência de uma segunda fratura. O relatório da Federação Internacional de Osteoporose indica que 50% das pessoas que quebram um osso vão fraturar outro, sendo que a esse risco vai aumentando exponencialmente.

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Riscos
Embora muito vinculada ao envelhecimento, a osteoporose pode acometer pessoas de qualquer faixa etária, quando associada a determinadas doenças e ao uso de alguns medicamentos. A reumatologista Rosa Rodrigues Pereira, coordenadora da Comissão de Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), explica que enfermidades inflamatórias, como diabetes, artrite reumatoide, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), por exemplo, predispõem à perda óssea, até mesmo crianças.

Hiper e hipotiroidismo, além de cânceres hematológicos, também podem favorecer o desgaste. Daí a necessidade de investigar esses pacientes, independentemente da idade. “No caso das doenças reumáticas, há o agravante de a dor articular reduzir muito o movimento, sendo que a imobilidade é um dos fatores de risco para a osteoporose”, diz a médica.

Os pacientes de doenças inflamatórias também têm maior probabilidade de sofrer perdas ósseas porque dependem de glicocorticoides, classe de medicamentos que, usados de forma crônica, reduzem a densidade do osso. O mesmo vale para alguns quimioterápicos indicados para pacientes de câncer de mama, assim como anticonvulsivos, anticoagulantes, lítio, protetores gástricos e furosemida (diurético usado por hipertensos).

Além disso, pessoas que passaram por cirurgia bariátrica ou que perderam uma quantidade significativa de peso devem fazer a densitometria óssea — o exame que detecta a osteoporose. “Esses pacientes têm má absorção de cálcio, magnésio e vitamina D”, justifica Rosa Rodrigues Pereira, da SBR. Para a reumatologista Vera Szejnfeld, da Abrasso, os profissionais de saúde deveriam estar mais atentos às doenças e condições que favorecem a osteoporose e, assim, orientar melhor os pacientes. “Há uma população muito grande nesses grupos de risco e ninguém está fazendo nada, nem diagnóstico nem prevenção. O médico fica tão preocupado em cuidar da doença primária que não se importa que quem vai tirar a qualidade de vida do paciente é a fratura provocada pela osteoporose”, afirma.

Genética
Apesar de ser possível tratar a osteoporose e, inclusive, reverter boa parte dos danos, os médicos insistem que o ideal é prevenir. Calcula-se que 80% dos casos sejam genéticos, mas nos 20% restantes, além da influência das doenças preexistentes e dos medicamentos, os maus hábitos são os principais culpados. “Estamos em uma fase de demonização do leite e do sol”, critica o endocrinologista João Lindolfo Borges, da Sbem. “No leite e nos derivados, você tem uma grande concentração de cálcio. E a vitamina D, necessária para a absorção do cálcio, é produzida com a exposição à luz solar. Não precisa esturricar debaixo do sol, bastam 10 minutinhos, três vezes por semana, sem protetor. Ninguém vai pegar câncer de pele por isso”, ensina. Falta de mobilidade, tabagismo e excesso de álcool também estão diretamente associados à doença.

Depois do susto, a professora Cristhianni Caetano entrou na linha e corrigiu todos os maus hábitos. Hoje, corre e frequenta a academia, inclusive nos fins de semana, toma sol com moderação e inclui leite e derivados na alimentação. O resultado não foi só o ganho de massa óssea. “Estou sarada e bronzeada”, brinca. “Nunca tive um corpão deste, nem aos 20, nem aos 30”, comemora.