Vitamina D combate asma

Dois novos estudos corroboram os benefícios do composto em diferentes idades. Com a suplementação, o risco de internação por asma em adultos cai pela metade. Repassada pelo leite da mãe, a substância favorece o desenvolvimento ósseo de bebês

por Revista do CB 30/09/2016 08:00
Valdo Virgo / CB / D.A Press
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Nos últimos anos, a vitamina D tem ganhado destaque em estudos científicos, que sugerem numerosos benefícios da substância produzida naturalmente pelo organismo em resposta à exposição solar. Muitas pessoas, porém, apresentam carência desse composto e precisam fazer a suplementação oral. Neste mês, dois artigos independentes apresentados na Europa e na Nova Zelândia indicaram que tomar algumas gotas da vitamina pode combater a asma e ajudar os bebês a obtê-la em maior quantidade.

Publicada na revista Cochrane Library e apresentada no congresso da Fundação Pulmonar Europeia, uma sociedade médica, análise envolvendo 435 crianças e 658 adultos encontrou evidências de que a suplementação, aliada ao medicamento tradicional usado por pacientes asmáticos, reduz diversos ataques da doença crônica, que afeta 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Os sintomas incluem espirros, tosse, chiado no peito e dificuldade para respirar.

Níveis baixos de vitamina D têm sido associados a um aumento no número de crises de asma em crianças e adultos. O interesse em investigar o papel da substância no controle da doença se dá porque ela ajuda a reduzir infecções do trato respiratório superior, como a gripe comum, que podem levar à exacerbação da asma. Diversos estudos clínicos investigaram se tomar vitamina D como suplemento tem efeito sobre os ataques, os sintomas e a função pulmonar dos pacientes de todas as faixas etárias.

A equipe de pesquisadores da Cochrane Library, publicação do grupo Cochrane, uma rede global de médicos e cientistas que investiga assuntos da área de saúde, coletou informações de sete estudos realizados no Canadá, na Índia, no Japão, na Polônia, na Inglaterra e nos Estados Unidos. A maior parte das pessoas recrutadas tinha asma leve a moderada, sendo que alguns apresentavam sintomas severos. Enquanto participavam dos testes, que duraram entre seis meses e um ano, quase todas continuaram tomando a medicação usual.

Os pesquisadores descobriram que a suplementação oral de vitamina D diminuiu os risco de crises graves (aquelas que requerem admissão hospitalar) de 6% para 3%. Também constataram que as gotinhas reduziram o número de vezes em que, por causa da gravidade dos ataques, os pacientes precisavam usar medicamentos esteroides. Os resultados referem-se basicamente ao público adulto. Por outro lado, constatou-se que a suplementação não melhorou a função pulmonar nem os sintomas diários da asma. “Nós constatamos que tomar uma dose suplementar de vitamina D concomitante ao tratamento padrão de asma reduz significativamente o risco de crises severas, sem causar efeitos colaterais”, disse Adrian Martineau, do Centro de Pesquisa Aplicada de Asma da Universidade Queen Mary, em Londres.

A cientista, porém, ressalta que, mesmo animador, o resultado necessita de cautela. “Em primeiro lugar, as descobertas sobre os ataques severos vieram apenas de três estudos, sendo que a maioria dos pacientes que participaram deles era adulta com a doença leve ou moderada. Mais testes são necessários em crianças e adultos com asma severa para confirmarmos se esse grupo também se beneficiaria”,  justificou. “Também não está claro se a suplementação pode reduzir o risco de crises em todos os pacientes ou se apenas nos que têm níveis baixos da vitamina D.” Segundo Marineau essas questões estão sendo investigadas agora, com resultados previstos para os próximos meses.

Raquitismo
No outro trabalho, pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, descobriram que ministrar altas dosagens de vitamina D mensalmente a mulheres que estão amamentando pode melhorar o status da substância em seus bebês. Essencial para o metabolismo ósseo, esse composto está presente no leite materno, mas em pouca quantidade. A deficiência dele na infância está associada a distúrbios como o raquitismo.

De acordo com Ben Wheeler, coautor do trabalho, muitos países recomendam a suplementação de vitamina D para as nutrizes, mas esse conselho não é seguido normalmente. A Sociedade Brasileira de Pediatria indica o suplemento diário para crianças a partir da primeira semana de vida até os 24 meses, independentemente da região do país. “Queríamos ver se a suplementação de altas doses tomada uma vez por mês pelas mães poderia ser outra forma de ajudar seus filhos a terem doses suficientes da vitamina”, disse Wheeler.

No estudo, 90 gestantes foram divididas em dois grupos de suplementação, além do placebo. Quatro meses após o parto, as mães do primeiro grupo receberam 1,25mg de vitamina D por mês; as do segundo, 2,5mg; e as do terceiro não tomaram nada. Os níveis da substância foram medidos no cordão umbilical ou em exames de sangue no começo da pesquisa e novamente, no fim.

Comparado ao grupo de placebo, constatou-se aumento significativo nos níveis da substância no sangue de crianças cujas mães ingeriram mais composto. “Nessa dosagem, a melhora no status da vitamina D parece proteger contra deficiências moderadas e severas, já que apenas um bebê no grupo dos 2,5mg mostrou deficiência grave, enquanto que isso foi observado em seis crianças do grupo de placebo”, diz Wheeler. “Se estudos futuros confirmarem nossa descoberta, o próximo passo seria investigar se a suplementação mensal pode ser tão efetiva quando doses mais baixas diárias ou semanais.”