Editora rompe com modelos e lança coleções "Antiprincesas" e "Anti-heróis"

Proposta é sair dos modelos de final feliz e príncipes encantados e apresentar histórias reais inspiradoras de vida

por Juliana Sodré 28/01/2016 09:30

Divulgação /  Editora Chirimbote
Editora retrata personagens latino-americanos ao invés de princesas e super-herois (foto: Divulgação / Editora Chirimbote)
Nada de princesas, superpoderes ou mundo dos sonhos. A proposta da editora Chirimbote com as Coleções “Antiprincesas” e “Anti-heróis” é exatamente apresentar histórias reais de vidas que assim como as do mundo dos quadrinhos e da animação, possam inspirar crianças e adolescentes.

A coleção “Antiprincesas” possui três livros publicados e destina-se a contar histórias de mulheres latino-americanas que foram protagonistas em suas áreas de atuação. O primeiro volume conta a sofrida história da artista mexicana Frida Kahlo. O segundo é dedicado à chilena Violeta Parra e sua importância para o folclore e a música popular do Chile. E o terceiro, narra a vida da militar boliviana Juana Azurduy, que participou nas lutas pela independência da América espanhola.

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O sucesso da coleção foi tanto que a editora ampliou a ideia e lançará em Fevereiro próximo, a coleção “Anti-heróis” que contará a história e o legado de homens que marcaram época. Seguindo a mesma linha de romper com modelos.

Os livros publicados são de autoria de Nadia Fink e ilustrados por Emiliano “Pitu” Saa – ambos argentinos - que juntos com o designer, também argentino, Martin Azcurra lançaram a editora e as coleções para abrir as portas de um universo um pouco diferente do mundo dos sonhos tão disseminados na cabeça das crianças. "A coleção vem com a ideia de contar histórias de mulheres e homens reais", explica Azcurra em entrevista dada ao jornal argentino 'Página 12'. Como a editora é argentina, os livros estão em espanhol e apenas um foi traduzido para o português, o que não impediu que eles ganhassem mercado em outros países como Brasil e México.
Divulgação /  Editora Chirimbote
Frida Kahlo é o único exemplar traduzido para o português (foto: Divulgação / Editora Chirimbote)

As coleções apresentam belas histórias, adaptadas para meninos e meninas, que combinam biografias e recursos poéticos. Originalmente, os textos foram destinados ao público de 6 a 12 anos, mas a coleção acabou conquistando jardins de infância e adolescentes.

Depois das histórias, os livros provocam as crianças. Em Frida, o texto convida a criança a fazer autorretratos em frente ao espelho, como fazia Frida, e a a pesqusiar canções antigas e conversas com pessoas mais velhas, como fazia Violeta, por exemplo.

Leia abaixo a tradução da entrevista com a autora e o ilustrador dos livros, originalmente concedida ao jornal argentino Página 12.

Como foi o processo de pesquisa de cada personagem da coleção Antiprincesas?

Nadia Fink:
No caso de Frida Kahlo e de Violeta Parra, eu apenas confirmei alguns dados, porque eu já havia pesquisado suas vidas, então eu só tinha que pensar em como transmitir esse conteúdo para as crianças. Mas a vida de Juana Azurduy levou muito mais tempo de trabalho. Havíamos lido três livros publicados na Argentina e na Bolívia, depois de saberem desta coleção, nos enviaram mais quatro livros, porque há investigações mais profundas sobre Juana. Em todos os títulos, começamos com uma ideia geral e, em seguida, discutíamos como iríamos caracterizar cada conto e cada personagem, porque tentamos fazer algo novo para cada livro. A história de Frida é linear, a de Violeta vai e vem ao longo do tempo e a de Juana tem algo mais aventureiro. Nesse caso, Pitu também introduziu o formato de desenho animado. Tentamos nos divertir e inovar para que cada livro fosse único, para ser honesto com o projeto e oferecer algo novo para as meninas e os meninos.

Pitu Saá: Para as ilustrações, eu fiz um trabalho de busca de documentação fotográfica para observar o estilo de cada personagem. No caso de Frida, eu tinha muitos recursos para ilustrá-la pelo seu modo de vestir, mas com Violeta foi mais complicado porque a sua imagem era mais despojada. E com Juana trabalhei com os retratos que havia dela pintados em sua época e tentei capturar seus traços mais característicos como a trança e os traje militar.

E deve ter sido complexo adaptar a história de vida real para a linguagem infantil...

Pitu Saá: Sim. Temos que levar em conta qye é para um menino e uma menina que estamos falando. Mas ao meso tempo, não subestimá-los, então, temos que buscar um equilíbrio entre uma coisa e outra. Enfrentar a dificuldade de contar algumas situações e usar todos os recursos possíveis. Por exemplo, no livro de Frida, Nadia teve a boa idéia de ter sua morte na mitologia asteca.

Baseado em quais condições e características vocês elegem os personagens?

Nadia Fink:
Em “Antiprincesas” fizemos perpassamos algumas mulheres notáveis da história. Além disso, são mulheres latino-americanas, pois sempre nos contam histórias europeias de princesas que pouco tem a ver com a realidade de nossos filhos e filhas. Então, queremos que essas mulheres representem todos os países e as diferentes áreas em que se destacaram. Como Frida na pintura, Violeta na música e Juana em suas lutas pela revolução. O que caracteriza as "antiprincesas" é que são mulheres que transcenderam seu tempo, e fizeram algo de diferente do que se esperava delas, que trataram de viver com alegria, e que apesar das dificuldades, romperam com as regras de seu tempo.


Por que essas histórias se opõem ao conceito de 'princesa'?

Pitu Saá
: Sempre dizemos que o nome da coleção não é uma oposição no sentido de querer abolir o conceito de princesa da Disney. Na verdade, muitos consomem e resgatam coisas que são boas, mas nós sentimos que estes produtos culturais estavam dizendo a mesma coisa e do mesmo lugar.  Quando vemos os filmes da Disney, todas as protagonistas são mulheres, embora foram modernizando e se tornando mais guerreiras, uma espécie de padrão é produzido. E acreditamos que são modelos em que nossas crianças não se identificam já que não expressam a realidade delas. Nos pareceu que teríamos que incorporar outras vozes e criar um lugar entre os livros de princesas da Disney e da Barbie para colocar uma Frida com bigodes, ou uma Violeta que não responde aos estereótipos de beleza.

Nadia Fink:
Originalmente as princesas eram mulheres estáticas, obrigadas a continuar com o legado familiar e que esperam um príncipe para mudar suas vidas. E como disse Pitu, embora a Disney tenha se atualizado um pouco, o padrão estereótipo estético e físico continuam a se repetir.

Divulgação /  Editora Chirimbote
Julio Cortazar é primeiro personagem da coleção "Aanti-heróis" que será lançada em fevereiro deste ano (foto: Divulgação / Editora Chirimbote)

Em breve vocês publicarão 'Anti-heróis'. Como está a nova coleção?


Nadia Fink: Neste caso, o obejtivo é romper o molde do super-herói com superpoderes, e o príncipe que tudo sabe e tudo pode. A primeira edição da coleção é dedicada a Julio Cortazar, que era um aventureiro da palavra. Ele jogava muito com suas palavras e nós achamos bom levar esse jogo para as crianças, mas com muito pouca informação biográfica ao contrário do que fizemos com antiprincesas, porque o que mais importa em seu trabalho é o mundo de fantasia que ele gerou. Julio foi uma criança até o fim.

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