Pesquisador mineiro é premiado para aprofundar pesquisas sobre reguladores da pressão arterial

Em 1988, Robson Augusto Souza dos Santos descobriu um peptídeo com função protetora do coração

por Bruno Freitas 13/10/2015 09:13

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A pesquisa de peptídeos da angiotensina no combate aos males cardiovasculares ganhou grande incentivo que servirá de norte para a descoberta de novas formas de atuação da proteína. Pesquisador na área há mais de 25 anos, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Robson Augusto Souza dos Santos foi agraciado com o prêmio 'Georg Forster Research Award', da Fundação Alexander von Humboldt (AvH), na Alemanha. A premiação permitirá dar continuidade ao trabalho desenvolvido em Minas no Max Delbrück Center for Molecular Medicine, na Helmholtz Association (MDC), numa interação com grupos de pesquisadores alemães e de outros países.

Arte: EM / D.A Press
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: Arte: EM / D.A Press)


Em 1988, Santos descobriu um peptídeo angiotensina chamado Ang–(1-7) que tem função protetora e causa efeitos na pressão arterial. Desde então, tem aprofundado a investigação em visitas regulares à MDC em Berlim, onde iniciou uma parceria com o professor Michael Bader – responsável pela indicação à premiação. Santos e Bader buscam hoje conhecer mais sobre o Ang–(1-7), e já descobriram o papel protetor nas inflamações e doenças cardiovasculares, além do auxílio ao controle metabólico. A partir disso, criaram uma nova medicação para tratar doenças cardiovasculares.

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Objetivo do professor Robson Augusto Souza dos Santos agora é se dedicar ao estudo da alamandina, um outro peptídeo do sistema renina-angiotensina que envia um comando ao cérebro fazendo com que os vasos sanguíneos aumentem ou diminuam a dilatação (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS %u2013 16/4/07)
Com o financiamento recebido pelo prêmio, o pesquisador mineiro pretende aprofundar a parceria e focar a análise das funções da alamandina, outro hormônio do sistema renina-angiotensina recém-descoberto pela dupla que envia um comando ao cérebro fazendo com que os vasos sanguíneos aumentem ou diminuam a dilatação. A meta é estender as investigações já feitas para localizar novas possibilidades terapêuticas a partir do estudo químico dos peptídeos. A próxima etapa será de testes clínicos em pacientes. A previsão é de que ela seja concluída num prazo de dois a três anos.

De acordo com o professor brasileiro, o peptídeo angiotensina vem de uma proteína maior chamada angiotensinogênio, ambos envolvidos na pressão arterial. Uma parte aumenta a pressão, e a outra reduz. A que reduz facilita a liberação de óxido nítrico (NO), gás que produz dilatação dos vasos. “A angiotensina–(1-7) favorece a liberação de óxido nítrico, que é um potente vasodilatador, e isso induz uma redução da pressão arterial. A Ang–(1-7) também promove uma melhora no perfil metabólico, conforme já foi demonstrado em estudos com animais. O aumento de glicemia e colesterol induzido por dieta é atenuado quando realizado o tratamento com a angiotensina–(1-7)”, ressalta.

Medicamentos
A indústria farmacêutica tem apostado em medicamentos que atuam no bloqueio da formação ou na ação da angiotensina 2, que aumenta a pressão arterial. Entre os medicamentos que atuam nesse bloqueio, estão Captopril e Losartana. “A alamandina tem efeitos semelhantes aos da angiotensina–(1-7), mas atua em outro receptor. Receptor é uma proteína situada na superfície das células que, após se ligar a um peptídeo, inicia uma série de reações no interior da célula que leva a diferentes efeitos, como melhora da sensibilidade à insulina, dilatação dos vasos e aumento da captação de glicose pelas células. Ela tem propriedades interessantes”, aponta Robson Augusto dos Santos.


Robson Augusto Souza dos Santos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)


Quais novos medicamentos foram criados a partir da descoberta da Ang–(1-7)?
Temos várias patentes aprovadas com o objetivo de explorar o potencial terapêutico da angiotensina 1-7. Alguns estudos com humanos já começaram a ser realizados. Esses estudos visam inicialmente avaliar os efeitos da angiotensina 1-7 em indivíduos hipertensos e também na pré-eclâmpsia. Como o peptídeo é endógeno, ou seja, é produzido pelo nosso organismo, os efeitos colaterais são minimizados.

Como a alamandina foi descoberta?

Foi descoberta no Laboratório de Hipertensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o trabalho foi publicado na revista científica Circulation Research em 2013, sendo o trabalho mais lido naquele ano no site da revista.

Como a alamandina será investigada a partir de agora?

Já estamos estudando uma formulação oral desse peptídeo. Os dados em animais são bastante animadores.