Especialistas são contra obrigatoriedade de atestado médico para aulas de educação física

Médicos e representantes de entidades ligadas à educação não concordam sobre exigência de exames minuciosos pelas escolas. Problemas congênitos devem ser comunicados na matrícula

por Gustavo Werneck Valéria Mendes 10/07/2015 09:46

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Bruno Cantini / Divulgação
Cardiologista Haroldo Aleixo cita índices baixos na relação óbito/atividade física e incentiva exercícios (foto: Bruno Cantini / Divulgação)
A morte súbita do estudante Caio Henrique Souza, de 16 anos, que cursava o 1º ano do ensino médio no Colégio Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, alerta para a necessidade de atenção permanente com a saúde dos adolescentes. As escolas não exigem exame detalhado sobre as condições dos jovens, limitando-se ao preenchimento de uma ficha, no ato da matrícula, com informações que permitem a liberação para as aulas de educação física. “É preciso haver um esforço conjunto de toda a sociedade, principalmente dos pais, para evitar problemas de saúde. Os meninos e meninas não podem ficar soltos, sem saber o que pode lhes acontecer. Esse não é a primeira morte em uma escola”, adverte o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, Emiro Barbini. Para ele, o acompanhamento médico dos jovens deve ser como o dos adultos. “Pelo que sei, o estudante estava jogando futebol, o que é totalmente normal numa aula de educação física. Este é o primeiro caso no Colégio Padre Eustáquio”, acrescenta.

Arquivo Pessoal
Segundo a escola, Caio Henrique Souza sofreu mal súbito durante atividade física (foto: Arquivo Pessoal )
O cardiologista Paulo Alves de Oliveira, que tem entre seus pacientes muitas crianças e adolescentes, também destaca a não exigência dos exames nas escolas. “Não se podem estabelecer critérios para que uma escola exija uma avaliação cardíaca rigorosa para cada aluno. Quando o estudante tem um mal congênito e diagnóstico precoce, o estabelecimento de ensino deverá ser informado desde a matrícula. Se necessário, haverá a dispensa das atividades físicas”, afirma. Já o cardiologista Haroldo Christo Aleixo, chefe do Departamento de Medicina do Esporte do Minas Tênis Clube e do Clube Atlético Mineiro, destaca duas pesquisas sobre o assunto: uma italiana aponta a incidência de 2,1 mortes para cada 100 mil pessoas por ano; a outra, dos Estados Unidos, mostra a relação de 0,4 óbito entre atletas jovens de competição em 100 mil pessoas/ano. “A atividade física continua sendo uma alternativa muito saudável e deve ser buscada por toda a população”, afirma Haroldo.

ENSINO DE MOVIMENTOS
A profissional de educação física Marley Pereira Barbosa Alvim, do Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais, orienta pais, professores e alunos (veja abaixo). “Aula de educação física em escola é muito diferente da atividade em academia ou clube. O objetivo na escola é ensinar os movimentos, que podem ser de prática esportiva, dança etc., e não exigir o condicionamento físico”, explica a conselheira, lembrando que as aulas com partes teórica e prática são ministradas duas vezes por semana, com duração de 50 minutos cada uma. “Os professores devem levar em consideração a faixa etária das turmas.”

Para Marley, torna-se fundamental o acompanhamento médico dos estudantes e também que o professor fique de olho nas características dos jovens durante os exercícios. “Se notar alterações, a exemplo de pele amarelada, lábios roxos e outros, deve comuniciar à equipe pedagógica da escola. Já os alunos não precisam sentir vergonha de revelar cansaço excessivo. Acima de tudo, os pais devem comunicar ao estabelecimento se o filho tiver alguma doença cardíaca ou mal congênito”, alerta.


Paulo Alves de Oliveira, cardiologista

Fenômeno incomum
“A morte súbita de um adolescente de 16 anos pode ter diversas causas, incluindo arritmias, embora seja muito difícil relacioná-la a complicações cardíacas. Infelizmente, não se podem estabelecer critérios para que uma escola exija uma avaliação cardíaca rigorosa para cada aluno. No geral, se a criança ou adolescente tem boa saúde, tem condições de praticar atividades físicas. O certo mesmo é que não é comum uma pessoa nessa idade ter uma doença cardíaca que leve ao óbito, pois, quando esses problemas ocorrem, geralmente são congênitos e o diagnóstico precoce é feito nos primeiros anos de vida.”

ORIENTAÇÕES

» AOS PAIS
Levar o estudante ao médico pelo menos uma vez por ano, para controle e checape
Se a criança ou adolescente tiver algum problema cardíaco ou de outra ordem, a escola deve ser informada, para evitar riscos

» AOS ALUNOS

Respeitar os limites do corpo e sempre seguir as recomendações dos professores
Não ter vergonha de informar aos professores, se, durante a atividade física, sentir alguma dor, cansaço excessivo ou outro problema

» AOS PROFESSORES

Observar sempre o aspecto do estudante: pele amarelada, lábios roxos etc. Em caso de algo que fuja do habitual, comunicar à equipe pedagógica da escola
Planejar bem as atividades para as diversas faixas etárias, com as partes teórica e prática

FONTE: MARLEY PEREIRA BARBOSA ALVIM, PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E INTEGRANTE DO CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA DEMINAS GERAIS.