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A pesquisa partiu da suspeita de que alguns elementos químicos podem ser benéficos para a proteção bucal. “Trabalhos anteriores indicam que esmaltes pigmentados (com mais minerais), que contêm doses elevadas de concentração de ferro, desempenham um papel importante, mas isso ainda não havia sido estudado com profundidade”, explica ao Correio Derk Joester, professor do curso de ciência dos materiais e engenharia da Universidade de Northwestern.
Para detalhar a composição dos esmaltes pigmentados, os cientistas analisaram dentes de ratos, coelhos e castores, utilizando a técnica de microscopia de resolução atômica. Os resultados indicaram que os dois primeiros animais têm magnésio nos dentes. “Os dentes humanos também são conhecidos por serem constituídos pelo magnésio. Acreditamos que o nosso esmalte é muito semelhante ao desses roedores, mas isso ainda não foi provado”, complementa Joester.
Já os castores têm a pigmentação de ferro, que deixa, inclusive, essas estruturas ósseas amareladas. Testes com ácidos indicaram que a camada desse mineral faz uma grande diferença na proteção dos dentes. “Nós olhamos para a superfície do esmalte após o condicionamento com ácido e detectamos diferenças significativas entre o normal e o pigmentado. O esmalte regular dissolve-se mais rápido. No outro, esse processo demora a ocorrer”, detalha o professor.
Experimentos também mostraram diferenças quanto à resistência a impactos físicos. “Testes mecânicos revelaram que o esmalte pigmentado é mais difícil de ser prejudicado por impactos do que o esmalte regular”, completa. Com os resultados da pesquisa, os cientistas acreditam que o ferro tem um futuro promissor na odontologia, superando, inclusive, o mineral referência em produtos bucais. “Acreditamos que a nossa abordagem pode ajudar a encontrar formas de proteger os dentes melhor do que o que é possível atualmente com o flúor”, aposta Joester.
Toxicidade
Marília Buzalaf, professora titular do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), avalia que o trabalho dos cientistas da instituição norte-americana é próspero, mas destaca a necessidade de cuidados quanto aos efeitos do ferro nos dentes. “Trata-se de uma pesquisa pioneira. Parece que o ferro realmente protege mais, mas ele pode provocar manchas porque escurece o dente, além de ter um alto valor tóxico”, destaca a especialista, que não participou do estudo.
Buzalaf também pesquisa o uso do mineral para aplicações na boca. Um dos desafios, segundo ela, é a toxicidade do ferro, o que limita a combinação com outros elementos que comporiam o produto final. “No nosso laboratório, temos adicionado o ferro em substâncias usadas para fazer bochecho. Talvez possamos achar outros elementos que também ajudem da mesma forma”, diz a especialista.
Professor do curso de odontologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Gustavo Rivera Moreira Santos avalia que o trabalho desenvolvido na Universidade de Northwestern é um pontapé inicial para possíveis estratégias futuras de proteção odontológica. “Mostrar que a presença de íons de ferro são um arranjo estrutural que protege os dentes é algo muito interessante, mas apenas o primeiro passo para descobrir novos recursos que possam ser usados da mesma forma que o flúor”, destaca.
Os autores do estudo adiantam que o trabalho terá continuidade. Agora, querem aprofundar análises sobre o funcionamento dos dentes e os problemas bucais mais comuns. “Queremos estudar os processos que ocorrem na cárie em detalhe para saber quais mudanças químicas e estruturais ocorrem ao longo do tempo. Dessa forma, poderemos desenvolver estratégias de profilaxia, diagnóstico precoce e de melhores tratamentos”, adianta Joester.
Desde 1975
Segundo o Manual Merck de Informação Médica, a ingestão de flúor é eficaz durante o crescimento e o endurecimento dos dentes, ou seja, até a pessoa completar, em média, 11 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o mineral esteja presente na água de abastecimento público. O processo tornou-se obrigatório no Brasil em 1975, mas só acontece em locais em que há estação de tratamento de água. A alternativa para essa limitação é a prescrição de pastilhas ou gotas de fluoreto de sódio por médicos e odontólogos. O mineral também é muito comum nas pastas de dente.
56%
Dos brasileiros com 12 anos têm cárie, segundo o Ministério da Saúde. Em 2003, a porcentagem era de 69%
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