Superação pela dança: jovem com síndrome de Down apresenta evoluções com a atividade

Atividade promove saúde física e mental

por Augusto Pio 30/01/2015 09:30

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Jair Amaral/EM/D.A Press
Stéphanie Costa, de 22 anos, é apaixonada pela dança e emociona quem a vê nas apresentações (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Não resta nenhuma dúvida de que a dança é uma livre manifestação da alma. Ela é uma forma de expressão coordenada, com a qual expressamos nossos sentimentos, emoções e alegrias. Das artes, é considerada a mais antiga e completa, pois cria os movimentos e os expressa por meio do corpo. Assim, a presença da dança na vida do homem sempre teve uma grande importância, pois o acompanha desde os rituais dos povos primitivos até hoje. Com o tempo, a dança também foi adquirindo outros fundamentos e hoje é vista como uma das melhores formas de superação. Além disso, pode ser praticada por crianças, jovens, adultos e idosos e se tornou um importante instrumento de terapia.

O bailarino, coreógrafo e investigador de culturas Rui Moreira garante que não existe idade certa para dançar. “Cada um tem seu tempo e sua preferência e pode-se perceber que todos têm um ritmo próprio, o que abre ainda mais portas para a prática da dança. Se analisarmos os locais diversos, nos quais as pessoas buscam contato com essa prática, identificamos claramente a predileção de cada faixa etária por um tipo de dança. As crianças são mais adeptas às brincadeiras lúdicas quando interagem no espaço com outras, objetos e até instrumentos musicais. Já os jovens e adultos aderem mais às danças populares contemporâneas, que são embaladas por ritmos diversos. Por sua vez, idosos buscam nas danças de salão uma interação com seus pares e também com as outras idades. Embora haja variedade de ritmos, a dança funciona como um tipo de terapia, propiciando melhoras na saúde física e mental.”

Stéphanie Costa, de 22 anos, tem síndrome de Down e é apaixonada por dança. Aos 12, pediu à mãe para matriculá-la em uma escola, pois queria muito aprender a dançar. E, desde aquela época, não parou mais. Alegre, ela também fez teatro, mas reconhece que foi mesmo a dança que conquistou seu coração. “Já fiz teatro e dança flamenca, mas é da dança do ventre que gosto mais. Fiz muitos amigos e conversamos muito, até sobre namorados, mas o que gosto mesmo na dança do ventre é dançar a música Brasileirinho.”

Cleide Costa, mãe de Stéphanie, lembra que a dança foi um divisor de águas na vida da filha, pois, antes, ela era tão tímida que não interagia com ninguém. “Stéphanie chegou a fez terapia ocupacional e tratamento psicológico até os 18 anos. Embora a dança não tenha sido indicada por especialistas, eles sempre a acompanharam em suas apresentações, com o intuito de trabalhar o gosto pela dança também nos consultórios. Quem a vê rodopiando pelo salão compartilha a mesma emoção que ela sente, pois minha filha tem a dança no sangue. Ela tem a sensibilidade especial que os artistas têm e faz com que a plateia se emocione, mesmo que seja em um teatro cheio, na sala de casa ou mesmo em um salão da comunidade.”

FORMA DE INTEGRAÇÃO
O certo é que a dança pode ter um caráter de lazer ou terapêutico. Porém, é considerada uma forma de integrar pessoas com características especiais na sociedade, para que possam manifestar a vontade no universo da cosmogonia própria, que acomete cada um. Rui explica que a dança, como manifestação artística, possibilita um mergulho no próprio corpo e nos instiga a nos descobrir, nos soltar e perceber uma liberdade que transcende conceitos. “A prática possibilita uma grande perspectiva para que as pessoas enxerguem o mundo a partir da comunicação. As terapias coletivas que envolvem a dança levam quem as pratica para esse lugar de sensação de plenitude, liberdade e autoconhecimento. A oportunidade de a pessoa trabalhar o próprio corpo emana dela mesma, de como se percebe em relação ao que ocorre à sua volta. Pessoas com algum tipo de deficiência podem ter a arte, em todas as suas variantes, como espaço para se expressar e dar vazão aos sentimentos mais profundos.”

Rui ressalta que o fato de a maioria não estar acostumada a isso, entende essa prática como algo extraordinário, e que realmente é lindo, maravilhoso e tocante, mas que não é sobrenatural. “O que gostaria mesmo é que todos entendessem que as pessoas especiais também fazem coisas especiais, como dançar e emocionar, serem artistas sensíveis e emocionantes. Comprovadamente, a dança faz parte do ser humano, tenha consciência disso ou não.”

BIODANÇA
Essa forma de comunicação e vínculo afetivo é muito trabalhada na biodança. De acordo com o terapeuta holístico Henrique da Silva, professor há 16 anos, a biodança ou dança da vida estabelece novas formas de comunicação e vínculo afetivo entre as pessoas de forma divertida e equilibrada. “Ela atua em nível preventivo e curativo nas mais diversas áreas, como recuperação da autoestima, reeducação afetiva, reintegração humana e reaprendizagem das funções originais da vida. A biodança trabalha no processo de mudança porque estabelece novas formas de comunicação e vínculo afetivo. É uma matriz de renascimento na qual cada participante encontra um continente afetivo e permissão para o conto e expressão de sua identidade. A música é utilizada como um instrumento de mediação entre a emoção e o movimento corporal, sendo uma linguagem universal acessível a todas as pessoas de qualquer época e região.”