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Os primeiros a se beneficiar da terapia-alvo foram pacientes diagnosticados com leucemia mieloide crônica, que passaram a ser tratados com inibidores de tirosina quinase, remédios que conseguem destruir a proteína ligada ao crescimento das células cancerígenas. A doença é controlada de tal maneira que os pacientes vivem décadas com qualidade de vida e virtualmente curados. As novas drogas também aumentaram a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão originado por uma mutação genética específica. Eles chegam a viver três vezes mais. “Estamos caminhando para descobrir outras moléculas que podem ser alvo de bloqueio. Não quer dizer que vamos ficar sem o tratamento convencional com quimioterapia, mas significa que, às vezes, vamos associá-lo com outros medicamentos”, pontua o diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia, Charles Pádua.
RESULTADOS
Duas pacientes do centro de oncologia participam de um estudo internacional que analisa a eficácia de um medicamento oral, testado em estágio avançado de câncer de mama. O tratamento tenta bloquear um mecanismo intracelular intimamente relacionado com a resistência do tumor. “O medicamento está sendo associado à droga convencional para reverter o mecanismo de resistência que é adquirido ao longo do tratamento das mulheres. Em determinado momento, temos que mudar a estratégia, porque o câncer fica resistente à droga”, explica Pádua, o único investigador de Belo Horizonte. O oncologista já utiliza outros medicamentos que interferem em diferentes alterações genéticas ligadas ao câncer de mama.
Menos agressivo
Fora do Brasil, é realidade a terapia celular, considerada um estágio mais avançado da imunoterapia. Médicos norte-americanos e europeus podem recorrer a uma droga que funciona como vacina para tratar câncer de próstata avançado. O medicamento é produzido a partir de células do próprio paciente, manipuladas em laboratório para que possam combater o tumor. A vantagem da terapia celular é ser um tratamento pouco agressivo e aumentar em quatro meses a sobrevida dos pacientes.
“Infelizmente, individualizar o tratamento não é barato. A medicina personalizada economiza recursos, porque você tem a possibilidade de saber quem são os pacientes que vão precisar daquela droga, mas é tudo muito caro”, lamenta o presidente da SBOC, Evanius Wiermann. Considerando que quase 80% da população no Brasil é dependente do SUS, o oncologista percebe que os brasileiros acabam divididos entre os pacientes de convênio, que conseguem ter acesso aos medicamentos, e os da saúde pública, que estão restritos a poucas opções terapêuticas. O desafio dos países em desenvolvimento, de oferecer os novos tratamentos para toda a população, será discutido no congresso da SBOC do ano que vem.
CUSTO ALTO
Cada dose do medicamento da linha de imunoterapia que trata pacientes com melanoma custa aproximadamente R$ 70 mil. É preciso tomar pelo menos quatro, o que gera um custo de R$ 280 mil. Alguns convênios cobrem o tratamento, mas o SUS não. Para ter acesso à vacina para câncer de próstata, os brasileiros precisam ir aos Estados Unidos. Wiermann teme que a droga nem chegue ao Brasil, devido ao alto custo (mais de R$ 200 mil por três aplicações). “Muitas das patentes vão cair ao longo do tempo e dar espaço para os medicamentos similares, forçando a queda dos preços”, enxerga. Por enquanto, muitos pacientes precisam recorrer à Justiça para receber do governo o tratamento gratuito.
Por outro lado, o oncologista Charles Pádua acredita que é preciso ter critério para incluir tanto na rede pública quanto na privada tratamentos que realmente deem resultados. “Temos que tirar o foco do valor do remédio e pensar na pessoa que precisa dele. Não importa se custa R$ 1 mil ou R$ 100 mil, desde que mude a vida do paciente”, pontua. No início do ano, foram incluídos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vários novos medicamentos para o câncer, que devem ser oferecidos pelos convênios. O SUS também passou a oferecer novas drogas, mas ainda não abrange todos os tratamentos.
Daqui para o futuro: Novas mutações genéticas
É bem provável que o caminho para a cura do câncer passe pela medicina personalizada. Por isso, o oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center, Fábio Nasser Santos, lembra que falta aprofundar os estudos de novos medicamentos, pois a solução para o problema não está em simplesmente desenvolver drogas que atuam em determinado mecanismo celular. O desafio, na opinião do especialista, é entender por que certos tratamentos funcionam por um determinado tempo e descobrir uma maneira de combater a resistência do câncer, já que células cancerígenas mais resistentes acabam sobrevivendo e voltam a se multiplicar. Assim, será possível oferecer aos pacientes medicamentos que agem em novas mutações genéticas, permitindo que eles respondam melhor ao tratamento e vivam por mais tempo.
O diagnóstico se confirmou há nove anos. Ricardo descobriu que uma verruga no braço era sinal de melanoma, câncer de pele mais agressivo. Cinco anos depois, o militar carioca teve que operar para retirar três nódulos nos pulmões e um na coxa direita. Um deles voltou no ano seguinte. Como se recusou a ir de novo para a sala de cirurgia, Ricardo buscou outra alternativa. Começou primeiro pela quimioterapia, mas o tumor voltou a crescer. Foi então que os médicos decidiram testar um novo medicamento com probabilidade de 5% de resultado positivo, e o câncer de Ricardo desapareceu. Nem a equipe responsável pelo exame que constatou o sumiço acreditou, pois nunca tinha visto um melanoma regredir. “Ainda existe uma chance de o câncer voltar, mas do jeito que o remédio atacou meu organismo, não acredito. Em novembro, vai fazer dois anos que não estou tomando mais nada”, comemora. Ricardo conseguiu fazer o tratamento gratuitamente no A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.