Inmetro reprova 14 de 15 marcas de whey protein; saiba como alcançar bons resultados sem o produto

Instituto avaliou marcas nacionais e importadas de whey protein concentrado em pó, a forma mais comum do produto e uma das mais consumidas no país. Nutricionista dá dicas de alimentação e fala sobre contraindicações

por Letícia Orlandi 26/08/2014 13:30

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Breno Fortes/CB/D.A Press
O ensaio de teor de carboidrato revelou os resultados mais preocupantes; clique para ver o relatório completo do Inmetro e as marcas analisadas (foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Um levantamento do Sebrae mostrou que, em três anos, o número de academias de ginástica cresceu 29% no Brasil. O país caminha para assumir a liderança mundial e atualmente só perde em números absolutos para os Estados Unidos. A quantidade de empreendimentos norte-americanos permanece praticamente estável há três anos (cresceu 0,7% de 2009 a 2012). Além disso, nos EUA, existe um estabelecimento para cada 10,5 mil americanos. Aqui, essa proporção é de uma academia para cada 9,1 mil pessoas.

Na esteira desse crescimento, popularizaram-se também os suplementos à base de proteína do soro do leite, de baixo peso molecular, com alto valor biológico de proteína e grande capacidade de absorção, conhecidos como whey protein. O Programa de Análise de Produtos do Inmetro avaliou 15 marcas nacionais e importadas de whey protein concentrado em pó, a forma mais comum e uma das mais consumidas no país. Foram avaliadas a quantidade de proteína, o teor de proteínas, o teor de carboidrato, a origem proteica, a presença de substâncias não declaradas e a rotulagem. Apenas um suplemento concentrado foi aprovado em todos os critérios.

O ensaio de teor de carboidrato revelou os resultados mais preocupantes, pois 73% estavam não conformes. “Houve marca que apresentou três vezes mais carboidratos do que o descrito no produto, o que pode comprometer a programação nutricional do atleta, trazendo para ele resultados indesejados”, alerta Walace Cestari, analista da Diretoria de Avaliação da Conformidade do Inmetro.

 

Veja o relatório completo do Inmetro

 

Por outro lado, todas as marcas atendem ao critério quantitativo estabelecido pela RDC nº 18 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece os requisitos mínimos para que o produto possa ser considerado um suplemento proteico para atletas.

Entretanto, um dos suplementos foi reprovado em um dos ensaios mais críticos, apresentando proteína de origem diferente daquela declarada. Duas marcas continham menos proteínas do que o apresentado no rótulo. “O whey é uma excelente fonte de proteína, mas o leite também é. É importante que se entenda que suplemento não é necessariamente uma coisa que se vende num pote. Pode-se suplementar uma dieta com ovo, com leite, com queijo ou com bife, por exemplo”, afirma o professor Luiz Claudio Cameron, chefe do Departamento de Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Embora seja indicado para atletas com grande perda de massa nas competições, o produto vem sendo utilizado por praticantes de atividades físicas, pessoas que querem emagrecer fazendo dietas ricas em proteínas, entre outros públicos. Há, basicamente, três classificações para o produto: o concentrado (de 29% a 89% de proteína), o isolado (90% ou mais de proteína) e o hidrolisado (ingredientes em maior quantidade).

Ainda que sejam de livre comércio, esses suplementos só devem ser consumidos com a prescrição de profissionais qualificados, a exemplo dos nutrólogos e dos nutricionistas. “O suplemento pode sim, ser incorporado à alimentação de quem busca um corpo mais saudável, mas é preciso estabelecer, com cuidado, as doses corretas dentro do balanceamento do cardápio. Para cada corpo, existe uma dose”, explica a nutricionista clínica e esportiva Fernanda Dias, de Belo Horizonte.

sxc.hu
Ficou inseguro em relação à suplementação? Segundo a nutricionista Fernanda Dias, é possível obter resultados semelhantes ao do whey protein com o cardápio correto (foto: sxc.hu)
Além de sobrecarregar rins, fígado e coração, a ingestão sem a orientação correta – só com a indicação de um amigo, por exemplo – pode levar a resultados insatisfatórios. “Se o cardápio não for balanceado, a suplementação pode levar ao ganho de gordura; e não só de massa magra”, alerta Fernanda. O excesso é prejudicial, portanto, tanto à saúde quanto aos objetivos estéticos.

A especialista esclarece que uma pessoa que não pratica atividades físicas regularmente deve consumir, por dia, de 0,8 a 1,2 g de proteína, a cada quilo de peso. Para uma pessoa de 60kg, isso corresponde a uma quantidade que vai de 55 a 72 gramas diários. Já o indivíduo que pratica atividade física com o objetivo de ganho de massa muscular tem a recomendação de ingerir de 1,2 a 1,4 g por quilo de peso, diariamente. Para uma pessoa de 60kg, seriam de 72 a 84 gramas.

A diferença não é tão grande, e pode ser obtida por meio de alimentação. "Ainda que o suplemento seja de mais rápida absorção, é possível alcançar resultados muito semelhantes aos obtidos com whey protein por meio de uma dieta de base proteica. No pós-treino, a dica é consumir dois ovos; ou seis fatias de blanquet de peru; ou ainda dois filés de frango grelhados, por exemplo. Peixes e carnes vermelhas também devem fazer parte do cardápio. A carne bovina não pode ficar de lado, porque é rica em ferro, importante para a performance esportiva", lembra Fernanda Dias. O segredo é dar preferência aos cortes magros da carne vermelha.

Resultados
Inmetro enviou os resultados para a Anvisa, que notificou as empresas. Elas têm um prazo de 30 dias para fazer as adequações. Depois desse período, novas análises serão feitas e, se as irregularidades permanecerem, os suplementos podem ser suspensos. Ao longo deste ano, a Anvisa vetou a venda de pelo menos 28 lotes de suplementos para atletas.