Pais têm dificuldade em encontrar vacina BCG na rede pública; entenda os riscos

Secretaria Estadual de Saúde informa que estoques devem ser regularizados na próxima semana. Médicos tiram dúvidas e indicam cuidados aos pais

por Letícia Orlandi 25/04/2014 11:33

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Ana Amaral/DN/D.A Press
Indisponibilidade temporária da vacina BCG foi registrada em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Norte (foto: Ana Amaral/DN/D.A Press)
A pedagoga Ana Paula Ferreira Pedroso, mãe de Arthur, de apenas um mês e 12 dias, buscou as vacinas BCG e contra a hepatite no posto de saúde do Bairro Grajaú, em Belo Horizonte, entre 18 e 20 de março. “A BCG estava em falta, sem previsão de chegar. Não recebemos nenhuma orientação no posto. Como não havia qualquer previsão de regularização do estoque, procuramos na rede particular e pagamos R$60 pela dose”, explica Ana Paula.

Nesta quinta-feira (24/04), a secretaria de saúde da Prefeitura de São João del-Rei enviou um comunicado em que informa a falta temporária da vacina BCG na cidade da região central e em municípios vizinhos. "A Secretaria informa que a criança deve seguir o calendário com as vacinas disponíveis. Assim que os estoques da BCG forem regularizados, os usuários vão ser informados tanto nos postos como através de veículos de comunicação. Informamos ainda que estamos com estoque reduzido de Tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e catapora) e DT (difteria e tétano). De acordo com o comunicado enviado pela Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações, órgão ligado ao Ministério da Saúde, a suspensão foi motivada pela readequação do processo de aquisição da vacina junto ao laboratório produtor, que não estava cumprindo o cronograma de entrega. Assim, foi necessária uma reforma na aquisição, decretada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o que tem causado o atraso na entrega da vacina", diz o comunicado municipal.

O Saúde Plena entrou em contato com o Ministério da Saúde, com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e com a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte em busca de uma previsão para a solução do problema.

A SES-MG confirmou que o comunicado 59/2014 do Programa Nacional de Imunização (PNI), divulgou a 'dificuldade em atender a demanda de distribuição mensal de alguns imunobiológicos com a regularidade habitual, devido a readequação dos laboratórios produtores'. O comunicado informa ainda que o descumprimento do cronograma do laboratório comprometeu a manutenção de estoque estratégico e as entregas estão sendo realizadas de forma fracionada, no decorrer do mês.

De acordo com a SES, o comunicado do Ministério diz que as seguintes vacinas e soros estão com estoque reduzido:
-vacinas: dupla adulto, meningocócica C, tetra viral, tríplice viral ,tríplice acelular e BCG.
-soros: antiloxiscelico, antiaracnidico, anticrotálico.

Em Minas Gerais, segundo a Secretaria, o estoque até o momento é reduzido, mas ainda não há desabastecimento. Em relação à regional de São João del Rei, a SES-MG diz que o quantitativo enviado no mês passado não foi suficiente para manter abastecido os municípios até a próxima remessa. A partir destes mês de abril, o Ministério da Saúde promete normalizar o fluxo. “Nesta sexta-feira (25), a vacina BCG será enviada à regional. Portanto, na próxima segunda-feira, os municípios estarão com seus estoque atualizados', informou o órgão estadual.

Já a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) informou que a vacina BCG é enviada pelo Ministério da Saúde (MS) e repassada aos municípios pela Secretaria de Estado da Saúde. No dia 27 de março, o município recebeu um lote com 14 mil vacinas para BCG. A SMSA havia solicitado 21 mil. Também foram recebidas, segundo o órgão, as vacinas de rotina que são aplicadas nos Centros de Saúde da capital mineira.

A vacina para BCG foi enviada a todos os centros de saúde e maternidades de Belo Horizonte, sendo que foi priorizado o repasse das doses às maternidades e às unidades de referência (Centro de Saúde Oswaldo Cruz e Centro de Saúde Carlos Chagas). A secretaria municipal confirmou que alguns centros de saúde já solicitaram o reabastecimento.

A previsão é de que, na próxima terça-feira (29/04), sejam entregues ao município novos lotes das vacinas de rotina, incluindo a BCG. Segundo a PBH, todas as crianças que, por algum motivo, não forem vacinadas, são cadastradas nos centros de saúde. Assim que as vacinas forem entregues, os pais e/ou responsáveis são chamados. A SMSA completou que, desde o final de novembro de 2013, houve uma redução do número de vacinas enviadas ao município pelo Ministério, mas ainda não houve desabastecimento.

O Ministério da Saúde informou, por meio da assessoria, que em março deste ano encaminhou 150 mil doses da vacina BCG para o abastecimento do estado de Minas Gerais. Em abril, foram 160 mil doses, quantidade que seria suficiente para manter os estoques locais. "Em caso de redução do estoque estratégico, o Ministério orienta que as secretarias de saúde realizem o agendamento dos atendimentos para evitar desperdícios de doses. Depois de aberto o frasco, a vacina dura apenas seis horas", destaca o órgão. Diante dessas informações, como os pais devem proceder?

Bruno Peres/CB/D.A Press
Em crianças, a tuberculose manifesta-se de forma mais grave. O Brasil ainda é considerado região endêmica para a doença (foto: Bruno Peres/CB/D.A Press)
A infectologista Marise Fonseca, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e o médico referência em imunização José Geraldo Ribeiro, diretor científico da Imunológica Vacinas Humanas, orientam as famílias a buscarem as unidades de saúde assim que houver disponibilidade da dose. “Essa é, ao lado da Hepatite B, a primeira vacina aplicada no recém-nascido. Isso se justifica porque o Brasil é uma região endêmica para a tuberculose e a BCG é capaz de prevenir as formas mais graves da doença”, explica a professora.

A infectologista pondera que, no primeiro mês de vida, independentemente da vacinação, a criança não deve sair de casa desnecessariamente, nem ter contato com aglomerações de pessoas. Não deve viajar, nem receber muitas visitas. José Geraldo Ribeiro completa que o bebê deve ter contato, nesta fase inicial, apenas com as pessoas envolvidas diretamente no cuidado da criança – pais, irmãos e avós, por exemplo.

Para Marise Fonseca, é necessário ter atenção também às pessoas que convivem com a criança e apresentam tosse. Ainda que seja um dos pais. “É preciso investigar as causas da tosse e procurar o diagnóstico preciso. A tuberculose é transmitida por via aérea, ou seja, por gotículas expelidas na tosse ou na fala. A transmissão pode acontecer mesmo dentro de casa. Caso alguém próximo ao bebê esteja com a doença, deve usar máscara e lavar as mãos com mais frequência”, alerta a médica.

Por mais que tenha a proteção do leite materno, o recém-nascido ainda não tem um sistema imunológico maduro, capaz de defendê-lo dos agentes infecciosos. A evolução da tuberculose na criança acontece de forma mais grave, daí a necessidade de atenção redobrada com a vacina. “Apesar de a BCG não proteger contra todas as formas da doença, ela evita os tipos mais graves. Por isso deve ser aplicada nos primeiros dias de vida”, reforça Ribeiro.

O especialista acrescenta que essa vacina, especificamente, exige um profissional capacitado para sua aplicação, nem sempre disponível de plantão nas maternidades no dia do nascimento. Por isso, muitas vezes, os pais têm que recorrer aos postos de saúde ou realizam a imunização junto com o teste do pezinho, no 5º dia de vida. “De alguns anos para cá, a exigência das normas internacionais em relação às vacinas foi ampliada, determinando mudanças nos processos de produção dos laboratórios. Temos passado por diversas crises de produção, temporárias, devido às novas regras. No caso da BCG, por exemplo, existe apenas um único produtor nacional, o que acentua a dificuldade na reposição”, explica o especialista. “Entretanto, até onde sabemos, essa medidas são positivas, porque pretendem dar mais segurança aos produtos imunobiológicos e à população; e vão permitir que a Organização Mundial de Saúde (OMS) encontre aqui um programa que atenda aos mais altos padrões internacionais”, acrescenta Ribeiro.

O médico esclarece ainda que a dificuldade temporária de estoque inclui vacinas antitetânicas, diftéricas e soros, como o antitetânico e alguns tipos de antiofídicos. O especialista não acredita, contudo, que esse quadro vá se estender ou trazer qualquer dificuldade ao Brasil durante o período da Copa do Mundo, por exemplo, em que o número de pessoas circulando aumentará. “Se existe uma nação preparada para receber turistas estrangeiros em relação a esse aspecto, este país é o Brasil. Outros países americanos e europeus não têm uma cobertura vacinal tão ampla quanto a nossa”, destaca José Geraldo Ribeiro.