De onde vêm os mitos que cercam os felinos? É possível vencer o medo?

A má fama dos gatos é antiga e deriva de lendas que não surgiram por acaso. Segundo a veterinária e professora da UnB Christine Martins, parte delas surgiu na Idade Média e durante a transição de poder entre o Oriente e a Europa

por Revista do CB 15/11/2013 09:01

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No Egito Antigo, os gatos eram sagrados, pois protegiam as colheitas de ratos e de outros animais. Eram associados à deusa Basth, representante da família, do lar e da fertilidade. Como o aspecto religioso sempre foi preponderante na cultura antiga, a sacralidade do gato se firmou e permaneceu nas religiões pagãs com o passar dos anos.

Com a força do cristianismo, no entanto, surgiu a necessidade de provocar um rompimento do povo com os cultos politeístas. Elementos das antigas culturas passaram a ser eliminados e desacreditados, entre eles, os gatos. A partir daí, começam as histórias de que os bichanos traziam má sorte, eram companheiros de bruxas, tinham natureza maligna.

A associação do animal aos demônios se disseminou e o temperamento menos servil que o dos cães reforçou a imagem negativa.

Janine Moraes/CB/D.A Press
Um amor que suprimiu o medo: Janaína Delvaux e seu Bartho (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
O resultado foi um verdadeiro massacre. Gatos eram caçados e mortos por toda a população, que chegava a fazer grandes fogueiras para eliminar os pets. Para Silvana Andrade, presidente da Agência de Notícias de Direitos Animais, esses extermínios na Europa foram os grandes responsáveis pela difusão da peste bubônica. Com a redução vertiginosa da população de gatos, os ratos se proliferaram e a peste negra ceifou um terço da população da época.

Outro aspecto que ajuda a manter essa má fama é a independência dos gatos. Leila Senna, veterinária especializada em felinos, explica que algumas características dos gatos, entre elas a sua autonomia, são resquícios de seus antepassados selvagens. Os gatos foram domesticados há cerca de 10 mil anos, o que é considerado recente em comparação aos cães, que convivem com o homem há aproximadamente 500 mil anos. “Foi uma domesticação meio forçada. Os gatos começaram a se aproximar dos locais onde os humanos se fixavam e, assim, começou a convivência”, explica Leila. Esse acercamento ocorreu em decorrência do acúmulo de lixo e, consequentemente, de roedores, o que atraiu os felinos.

Apesar do estigma negativo, a boa imagem que os gatos gozavam na Antiguidade está, aos poucos, voltando. Silvana acredita que a consciência moral do homem com relação aos animais está crescendo, o que inclui os gatos. “Nos últimos anos, os felinos foram ascendendo do ponto de vista moral, até se tornarem membros da família”, explica.

Medo de gatos é comum
O medo de gatos é comum e é difícil de vencer. Só não é impossível. Prova viva disso é Janaína Delvaux, 32 anos. A advogada teve seu primeiro contato com os gatos já adulta, quando uma amiga precisou viajar e pediu que ela alimentasse seus oito bichanos. “Eu chegava, colocava a comida e ia embora, sem fazer mais nada”, ri.

A breve convivência diminuiu levemente o antigo pavor, mas a resistência só caiu por completo após a chegada de Bartholomeu, gato resgatado por um amigo. “Na hora em que vi o Bartho, ele se abriu todo, ele não ia com ninguém e foi comigo. Nessa hora, meu amigo disse: ‘Você sabe que o gato é que escolhe o dono, né?! Ele escolheu você”, conta Janaína.

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A felicidade de Janaína na companhia de Bartho incentivou o então namorado da advogada a adotar os próprios pequeninos (foto: Janine Moraes/CB/D.A Press)
A adaptação foi tranquila. Janaína e Bartho viviam sozinhos no apartamento e um fazia companhia ao outro. Janaína começou a auxiliar em trabalhos de proteção. “Depois disso, eles começaram a me chamar mais atenção. Quando você vira gateira, encontra muito gato na rua.” Há cerca de um ano e meio, a advogada faz parte do grupo Quintal dos Bichos, que trabalha fazendo resgate e dando lar temporário de gatinhos de rua.

A felicidade de Janaína na companhia de Bartho incentivou o então namorado da advogada a adotar os próprios pequeninos. Carlos Alberto Peroni, 37 anos, nunca havia tido animais de estimação e, a exemplo da mulher, acabou se apaixonando perdidamente pelos gatos. O psicólogo é pai de Pixulé e Bastet, além, é claro, de Bartho.

Quando o casal se uniu, passou a notar algumas particularidades da personalidade de Bartholomeu. O primogênito se mostrou ciumento com a mãe, sendo ligeiramente mais distante dos irmãos de quatro patas. “O gato é muito parecido com o ser humano, ele tem a personalidade dele, é preciso respeitar as manias deles”, acrescenta.

Liliane Pelegrini / Bendita Conteúdo & Imagem
Gatos pretos são campeões das perseguições baseadas em informações falsas, mas em alguns países eles são sinal de sorte (foto: Liliane Pelegrini / Bendita Conteúdo & Imagem)
Atualmente, o casal não pretende adotar mais gatos, pensa na qualidade de vida dos seus pets e dos animais que vivem nas ruas, fazendo esporadicamente lar temporário para gatinhos resgatados. Para os donos de gatos e os que pretendem ser, Janaína deixa a dica: “É muito importante castrá-los, isso evita que cada vez mais gatinhos nasçam e vivam nas ruas. É um ato de amor com eles”.

Meu querido gato preto:
-Na Escócia, acredita-se que cruzar com um gato preto traz prosperidade.
-Na Itália, é sinal de boa sorte ouvir o espirro de um gato preto.
-Na Inglaterra, algumas mulheres de pescadores acreditam que seus maridos regressarão a salvo para casa se a família criar um gato preto.
-Em algumas regiões da Inglaterra, oferecer um gato preto de presente à noiva traz boa sorte ao casal.
-No sul da França, cuidar de gatos pretos também é sinal de boa sorte.
-Na Letônia, os agricultores consideram um bom agouro encontrar gatos pretos nos reservatórios de semente. Para eles, os gatos pretos são o espírito de Rungis, o deus da colheita.