Histórias de gravidez com DIU fazem com que o método carregue falso estigma da ineficácia

Especialista defende que alguns métodos contraceptivos deveriam ser popularizados. O dispositivo intrauterino, por exemplo, é o mais recomendado para mulheres que têm pressão alta, diabetes e estão na pré-menopausa

por Valéria Mendes 08/11/2013 09:05

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Reprodução Instagram
Esposa do ator Márcio Garcia, Andréa Santa Rosa descobriu a gravidez com DIU no mês passado e chamou a atenção para um dos mitos que acompanham o DIU, de que é um método inseguro (foto: Reprodução Instagram)
Histórias de mulheres que engravidaram com o dispositivo intrauterino (DIU) fazem o método parecer inseguro. Ao contrário das pílulas, em que é possível responsabilizar a mulher que 'esqueceu de tomar o remédio' ou que 'alterou o horário de ingerir o medicamento', toda a culpa é direcionada exclusivamente para o contraceptivo. No entanto, o dispositivo tem recomendações muito claras. Diretor científico da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG), Frederico Peret afirma que mulheres com pressão alta, diabetes e na pré-menopausa deveriam optar pelo DIU prioritariamente. Mas a falta de informação e muitos mitos – como ser abortivo – fazem com que apenas 1,9% das brasileiras optem por ele.

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Esposa de Márcio Garcia, a nutricionista Andréa Santa Rosa foi surpreendida com a notícia da quarta gravidez no mês passado e a notícia estampou publicações dedicadas a vida de famosos. Defensora do parto humanizado – ela participou do documentário ‘O Renascimento do Parto’ em que relatou a experiência de dar a luz por cesariana, parto normal e domiciliar, ela já é mãe de Pedro, 9 anos, Nina, de 8, e Felipe, de 4. Desde o nascimento do caçula optou pelo DIU como método contraceptivo. Por isso, o susto quando, depois do atraso na menstruação, soube da novidade.

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O obstetra Frederico Peret explica que quando se fala em contracepção as opções são tantas que a indicação de um método ou outro deveria considerar o histórico de saúde da mulher. “Deveríamos buscar uma forma de popularizar alguns métodos. Mulheres com risco cardiovascular não deveriam usar pílulas”, afirma. O especialista acredita que é preciso romper os dogmas - por exemplo, de que o risco de gravidez com DIU é altíssimo - para que as mulheres tenham a possibilidade de optar pelo método que mais se adequa ao histórico de saúde de cada uma.

Arte: Soraia Piva
FONTE: 'Mudanças recentes no uso de métodos contraceptivos no Brasil: a questão da esterilização voluntária', de Flávia Alfenas Amorim. Rio de Janeiro, 2009. (foto: Arte: Soraia Piva)


Gravidez com DIU: risco é de 0,1%
O obstetra afirma que a taxa de falha do DIU é de 0,1% e varia um pouco de acordo com o modelo escolhido: o DIU de cobre ou o DIU medicado. “Os medicados têm eficácia muito próxima da ligadura de trompa e vasectomia”, afirma. Caso uma gravidez aconteça, a recomendação é retirá-lo desde que o dispositivo esteja acessível ao médico. Se não estiver, a orientação é não mexer. “Existe o risco de aborto ou de estimular o parto prematuro”, diz. Assim que confirmou que esperava um bebê, a esposa de Márcio Garcia passou pelo procedimento.

Na maioria dos casos de gravidez com DIU, o que acontece é a mulher não fazer o controle da posição do dispostivo intrauterino. “Esse controle é muito importante e exige disciplina”, recomenda Peret. O protocolo é retornar ao médico entre 30 e 60 dias depois do procedimento e fazer um ultrasson. O segundo retorno é necessário 6 meses depois. Na sequência, o acompanhamento anual é indicado. “Muitos casos de gravidez com DIU é por que ele estava em uma posição incorreta”, diz.

Outros mitos rondam a gravidez com DIU: má formação e que a mulher não poderia parir via vaginal. “Não tem a mínima lógica. O DIU não causa defeito no feto e o dispositivo é expulso durante o parto normal”, afirma. O médico esclarece que a gravidez acontece na porção superior do útero e o contraceptivo fica na porção mais baixa. A regra máxima prevalece nesses casos: um pré-natal bem feito. “A maioria das mulheres, em termos numéricos ¾ das mulheres com DIU na gravidez, tem partos normais e gravidez que chegam no final”, pontua.

Mais usados
O DIU de cobre ainda é mais usado no Brasil já que, além de mais barato, está disponível no sistema público e privado de saúde. Os medicados entraram na cobertura obrigatória dos planos de saúde o que gerou um aumento nos últimos três anos. Para se ter uma ideia do impacto, enquanto o preço do de cobre varia entre R$ 20 e R$ 150, o medicado está entre R$ 500 e R$ 700. Outro ponto a favor do de cobre é a duração, a mulher pode ficar com o mesmo dispositivo por até dez anos. No caso dos endoceptivos – termo correto para designar o anticoncepcional hormonal que é colocado dentro do útero e é conhecido como DIU medicado - o tempo máximo é de cinco anos.

Falta informação
Em países como os Estados Unidos, por exemplo, o DIU é muito usado. Por aqui, estigmas e medos rondam a opção das mulheres. “Na década de 70, alguns processos infecciosos junto com a ideia de que o método seria abortivo atrapalharam a aceitação no Brasil”, observa o especialista.

Quem não pode usar o DIU
Frederico Peret diz que mulheres com passado significativo de doença sexualmente transmissível, o risco de infecção pode ser mais grave. Aquelas que também já tiveram infecção na trompa não é recomendado.

O dispositivo já foi contraindicado para mulheres que nunca tiveram filho, mas não é mais impedimento. No caso do DIU de cobre, aquelas que tomam medicação anticoagulante ou têm história de hemorragia também devem evita-lo.

Já o endoceptivo, originalmente desenvolvido para tratar hemorragia, é motivo de indicação para o método contraceptivo.

Útero com excesso de miomas aumenta a chance de o DIU ser expulso.


Arquivo Pessoal
"Não culpo o DIU de jeito nenhum, coloquei outro. Acho o melhor método anticoncepcional que existe" - Amanda Rocha, psicóloga, 33 anos. Ela engravidou de Francisco, hoje com 2 anos e 9 meses, quando usava o dispositivo intrauterino (foto: Arquivo Pessoal)

Ninguém nasce sem ter que nascer
A psicóloga Amanda Rocha, de 33 anos, também engravidou com DIU e como Andréa Santa Rosa, se surpreendeu com a notícia. Segundo ela, seguia com rigor o controle do posicionamento do dispositivo dentro do útero. A suspeita veio com a ausência da menstruação e o seio um pouco inchado. “Comprei um teste de farmácia, deu positivo. Pensei: ‘deve estar errado’. Aí fiz o exame laboratorial e confirmou. Eu tinha feito o controle em janeiro, o médico viu que estava bem posicionado. Em maio engravidei, o DIU venceria em outubro”, conta. Para ela, apesar de todo o cuidado pessoal e profissional de acompanhamento da contracepção estava escrito que ela tinha que ter um segundo filho. Amanda já era mãe de Yuri, hoje com 16 anos.

Após a confirmação, Amanda já estava com quase dois meses de gestação, o dispositivo foi retirado. “Após o procedimento, tive um sangramento grande e me assustei muito. Eu tinha segurança plena que tinha que ter o Francisco. Naquela época eu estava pensando em engravidar, mas é difícil acontecer quando a gente quer, já tinha combinado com o pai do meu filho que quando vencesse o DIU em outubro, não evitaríamos mais”, relata.

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Amanda conta que sua gravidez transcorreu tranquilamente e apenas o sonho do parto domiciliar não pôde ser concretizado. Na 33ª recebeu o diagnóstico de ‘bolsa rota’, ou seja, descobriu que a bolsa tinha se rompido. “Como não queria fazer parto no hospital, não tinha um médico de referência”, relembra. A psicóloga passou por três instituições. “Todos os médicos queriam fazer cesárea”, conta. Como não queria abrir mão de ter o Francisco em casa no primeiro obstáculo que aparecesse, chegou a tomar 15 litros de água por dia, por indicação da doula que já a acompanhava, para repor o líquido amniótico. A estratégia funcionou por um tempo. “Eu passei por um dilema muito difícil, queria muito um parto natural, mas tive que fazer cesariana. O médico que fez meu parto me confortou, me mostrou que eu já tinha feito o que poderia ter sido feito e que precisava ceder. Franciso nasceu, mamou, foi direto para a UTI com pneumonia e passou 20 dias internado”, conta. O filho mais velho assistiu ao parto do irmão junto com a avó. Hoje, Francisco, está 2 anos e 9 meses.

Atualmente, Amanda ainda usa o método contraceptivo. “Não culpo o DIU de jeito nenhum, coloquei outro. Acho o melhor método anticoncepcional que existe, a pílula mexe com a questão hormonal, camisinha rompe...”, diz.