Cientistas concordam que detecção precoce é melhor estratégia contra câncer de mama

Médicos e cientistas defendem que a batalha contra a doença ganhe uma faceta estratégica. Segundo eles, é mais importante investir na prevenção e na diferenciação dos tumores do que na precisão dos rastreamentos

por Bruna Sensêve 08/10/2013 10:00

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A detecção precoce de tumores na mama é a melhor estratégia para evitar a mortalidade pela doença e a realização de procedimentos invasivos. Em alguns casos, também preserva o paciente das debilitantes sessões de químio e radioterapia. O tema esteve no foco de diversas pesquisas divulgadas, neste mês, no Congresso Europeu de Câncer, em Amsterdã, na Holanda, e movimentou a comunidade médica e científica. Novas técnicas para rastreamento genético ou por imagem são avaliadas como promessa de exames mais precisos e precoces. Mas especialistas reforçam que a tradicional mamografia a partir dos 40 anos ainda é o melhor plano preventivo contra a doença.

No congresso, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Utah e da Universidade Brigham Young, ambas nos Estados Unidos, apresentou um dispositivo de ressonância magnética que pode melhorar tanto o procedimento quanto a precisão do rastreamento do câncer de mama por meio da verificação dos níveis de sódio no seio. Os resultados, ainda experimentais, foram divulgados também na revista científica Magnetic Resonance in Medicine e indicam que a tecnologia traz imagens cinco vezes mais precisas que as técnicas tradicionais. Segundo os cientistas, a técnica poderá reduzir os índices de falso positivo e de biópsias invasivas desnecessárias.

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Cientistas dos EUA argumentam que a ressonância magnética de sódio tem o potencial de melhorar ainda mais a avaliação das lesões mamárias, pois as concentrações desse elemento químico são conhecidas por aumentar a visibilidade de tumores malignos (foto: istockphoto)
“As imagens que obtemos mostram uma melhora substancial sobre tudo o que vimos usando essa técnica de ressonância magnética especial para imagens de câncer de mama”, afirma Neal Bangerter, líder do estudo. Atualmente, existem dois métodos de imagiologia para o rastreio do câncer de mama: a mamografia por raios X e a ressonância magnética por prótons. A primeira é a mais comum em todo o mundo. Somente no Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com o Ministério da Saúde, foram realizadas 4,4 milhões no ano passado. A ressonância magnética de próton é geralmente usada para examinar áreas suspeitas detectadas pela mamografia.

Os cientistas dos EUA argumentam que a ressonância magnética de sódio tem o potencial de melhorar ainda mais a avaliação das lesões mamárias, pois as concentrações desse elemento químico são conhecidas por aumentar a visibilidade de tumores malignos. “Esse método está nos dando novas informações fisiológicas que não podemos ver a partir de outros tipos de imagens”, diz Bangerter. “Acreditamos que (ele) pode ajudar na detecção do câncer de mama em estágio inicial, na caracterização (do tumor) e, ao mesmo tempo, melhorar o tratamento e acompanhamento do câncer.”

O diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia, Guilherme Novita, pondera que o estudo ainda é muito preliminar para ser avaliado como superior aos exames existentes hoje. “Sim, é interessante um exame que melhore o rastreamento, que detecte todos os cânceres. Mas o mais interessante para o câncer de mama hoje não é isso.” Segundo Novita, são detectados 210 mil cânceres por ano nos Estados Unidos, sendo que 40 mil culminam na morte dos pacientes. No Brasil, os número são, em média, 50 mil e 10 mil, respectivamente. “Qual é a moral da história? Tem casos que são curados, casos que são incuráveis e outros que nunca matariam a pessoa independentemente de ela ter descoberto ou não. A pessoa teria que viver 300 anos para morrer desse tumor.”

Por esse contraste de prognósticos, Novita considera serem mais urgentes pesquisas voltadas para a diferenciação dos tumores, não para a precisão no rastreamento. Segundo o mastologista, há uma tendência da comunidade médica em querer fazer o diagnóstico da doença cada vez mais precoce, mas deve haver também um esforço em busca do tratamento personalizado. Isto é, operar somente quem realmente precisa e fazer quimioterapia naqueles pacientes que só têm essa saída. “Começamos a conseguir fazer isso com as assinaturas genéticas.” Ele refere-se aos testes que estudam o DNA do câncer e descobrem se ele tem mais ou menos risco de ser letal. Com essas informações, é possível planejar um tratamento mais ou menos agressivo. Há dois tipos de testes nesse sentido disponíveis no Brasil.

Risco genético
Uma segunda forma de prevenção é reservada a apenas 15% dos casos de câncer de mama: o rastreamento genético. O procedimento ficou famoso após o relato da atriz hollywoodiana Angelina Jolie, que, em junho, anunciou ter se submetido a uma dupla mastectomia (retirada de ambos os seios) ao ter a confirmação da herança genética de mutações com altíssimo risco para o desenvolvimento do mal. “Todo câncer de mama é de origem genética. Tem que haver um dano genético para que ele comece e efetivamente cresça, o que é diferente de ser hereditário”, explica Rodrigo Pepe, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e chefe do Serviço de Mastologia do Hospital de Base de Brasília.

Segundo Pepe, 85% dos casos de câncer de mama são motivados por danos genéticos sem qualquer ligação com o histórico familiar da doença. Nesses casos, os testes genéticos ajudam na decisão sobre o tratamento a ser realizado. O rastreamento, portanto, é indicado para casos específicos, quando há um alto risco de desenvolvimento do câncer mamário. Para os outros 85%, a mamografia regular é o suficiente. “Mas nada está acima da prevenção”, reforça Pepe. “Quando falamos de prevenção, é mais uma preocupação de lembrar que isso existe. É a campanha de Outubro Rosa. Mulheres deixam de fazer o exame por medo do diagnóstico ou porque acham que não precisam, já que não têm histórico na família. Isso acontece somente por falta de orientação e esse deve ser o investimento de todos nós.” Segundo ele, a realização anual da mamografia por mulheres a partir dos 40 anos pode levar a uma redução de mortalidade de até 30%, além de diminuir o número de cirurgias agressivas e, eventualmente, fazer o diagnóstico de lesões que tornariam o câncer mais letal.

Campanha internacional
O movimento popular Outubro Rosa é internacional. Em qualquer lugar do mundo, a iluminação rosa é compreendida como a união dos povos pela saúde feminina. O rosa simboliza alerta às mulheres para que façam o autoexame e, a partir dos 40 anos, a mamografia. O câncer de mama é a segunda causa de morte entre mulheres. Somente em 2011, a doença fez 13.225 vítimas no Brasil.