Videogame ajuda na recuperação física de mulheres que passaram pela cirurgia de retirada de mama

Na fisioterapia tradicional, a paciente repete alguns exercícios e os resultados são registrados pelo profisisonal, que avalia semana a semana os progressos. Já o novo método guarda em uma base de dados toda a evolução, que pode ser acompanhada praticamente minuto a minuto

por Isabela de Oliveira 07/11/2013 10:30

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“Ainda sofria com as dores da cirurgia plástica. O corpo estava inchado, as marcas salientes dos pontos cruzavam desordenadamente o meu tórax, sentia-me como se tivesse sido atropelada”, conta Flávia Flores no prólogo de Quimioterapia e beleza (Jardim dos Livros), obra autobriográfica em que a ex-modelo descreve as etapas que sucederam a mastectomia, cirurgia de remoção da mama indicada para mulheres diagnosticadas com câncer (Leia Três perguntas para). Outras mulheres que passaram pela cirurgia contam que, além dos sintomas lembrados por Flávia, há a perda de força nas mãos e a imensa dor nas costas e nos braços, que deixam de cumprir os comandos como antes da intervenção. Embora as limitações de movimento comecem a ser corrigidas quase imediatamente depois da cirurgia com sessões de fisioterapia, elas são um dos transtornos mais desgastantes do período pos-cirúrgico, e os cuidados devem ser observados durante toda a vida da paciente.

Agora, uma nova tecnologia promete ajudar o processo de recuperação dessas pacientes, tornando-o não só mais eficaz como, por estranho que pareça, divertido. Com o uso do Kinect, um sensor de movimentos para videogames, mulheres que passaram pela mastectomia podem enfrentar quase brincando uma fase tão séria. O jogo, que estimula movimentos que reproduzem o tratamento fisioterápico com mais interatividade, foi apresentado no Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital (SBGames), promovido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo no mês passado. O projeto é uma parceria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), pode ser uma método cômodo para as pacientes, que poderão fazer a fisioterapia em casa, através de um meio interativo.

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 Na fisioterapia tradicional, a paciente repete alguns exercícios e os resultados são registrados pelo profisisonal, que avalia semana a semana os progressos. Já o novo método guarda em uma base de dados toda a evolução, que pode ser acompanhada praticamente minuto a minuto. “O novo jogo permite que ela veja que está melhorando em tempo real, o que não ocorre na terapia tradicional. O Kinect captura a imagem do corpo da paciente e projeta em uma realidade virtual, de forma que ela se vê indicando as etapas que deve repetir ou trabalhar mais”, conta Alexandre Cardoso, um dos autores do game.

“O foco dela está em completar a tarefa imposta pelo game, e com isso, essa dor secundária dos movimentos acaba sendo esquecida, de certa forma”, complementa Izabela Mendes, pesquisadora da Univap. “Com certeza esse game terá fácil acesso para a população. As pacientes poderão ser orientadas sobre como adquirir o software e como utilizá-lo em casa”, garante. Segundo os desenvolveres, a abordagem ajuda também na manutenção dos movimentos ao longo da vida da paciente.

Mais estudos Cinira Assad Simão Haddad, fisioterapeuta da Universidade Federal de São Paulo, acredita que o game é útil e inovador, mas considera que mais estudos são importantes para tornar esse tipo de abordagem completamente confiável. Afinal, o pós-operatório de câncer de mama exige muito cuidado, já que movimentos feitos bruscamente podem gerar indícios de desenvolvimento do linfedema (inchaço provocado por problema na circulação linfática). “A inserção desse tipo de tratamento pode ser uma grande inovação para a fisioterapia, mas devem ser realizados estudos com um número maior de pacientes e um acompanhamento a longo prazo, levando em conta não só os aspectos motores e de dor, mas também os específicos do câncer de mama”, observa a especialista.

O que mais afeta os movimentos depois da cirurgia é a remoção dos linfonodos, ou gânglios linfáticos, que ficam na região das axilas. Eles são responsáveis pela defesa do organismo e produzem anticorpos. Quando são retirados, há mudanças na estrutura vascular e nervosa, o que interfere no movimento dos braços. “Por isso, elas precisam de reabilitação. A região da mama fica adormecida, embora possa existir desconforto na hora de dormir. Mas quando elas mexem os braços, principalmente quando os afastam do tronco, há muita dor. Na Escola Paulista de Medicina, as pacientes recebem os fisioterapeutas no dia seguinte à cirurgia para que elas comecem a terapia o mais rápido possível”, explica Afonso Nazário, chefe da disciplina de Mastologia da Unifesp.

Cinira Haddad conta que na primeira fase das sessões apenas exercícios leves são passados às pacientes. Depois de uma semana, quando o dreno é retirado, é que exercícios mais intensos são incentivados pela terapeuta. “Elas relatam muita dor, e nós respeitamos isso. Mas, depois de um mês, o fisioterapeuta pede para ela tentar o movimento, mesmo sentindo o desconforto”, detalha.

Cautela constante

As mulheres que retiraram um ou ambos os seios precisam ser cautelosas com uma série de detalhes. Elas não devem levantar mais de 3kg e precisam evitar qualquer machucado, por menor que seja, na pele do lado operado. Nem as cutículas das unhas da mão podem ser retiradas, pois o risco de infecção é maior com a retirada dos linfonodos (gânglios na região das axilas). Exercícios mais intensos podem, também, provocar inchaço crônico.



Flávia Flores autora do livro 'Quimioterapia e beleza'

1) Como foi o pós-operatório?
Senti muito desconforto para dormir e, realmente, os movimentos do braço ficam prejudicados. Mas faço exercícios mesmo assim. Gosto de fazer caminhada e pratico natação, mas não muito. Faço o que eu consigo, pois isso é muito importante para a cabeça. A mulher moderna não pode parar, ela não pode deixar de fazer compras ou levar os filhos para a escola.

2) E a sua autoestima, como está?
A cirurgia é uma mutilação e, embora tenha passado por ela em outubro do ano passado, ainda não estou completamente confortável. Retirei os dois seios na mesma hora e fiquei meio desequilibrada. Para não ser vencida e deixar que a dor e a falta de movimentos me atrapalhasse, resolvi manter minha autoestima me arrumando e fazendo coisas que não exigem muitos movimentos, como colocar cílios postiços ou fazer uma maquiagem benfeita.

3) Quais os planos para o futuro?
Quero continuar esse projeto e pretendo lançar um livro contando o fim do tratamento, que está sendo feito com radioterapia. Ainda tenho muito com o que contribuir. Quando fui diagnosticada, me preocupei em encontrar informações que me ajudassem a me sentir bonita, apesar da doença. Não sabia como usar o lenço, como guardar peruca ou lavar, por exemplo. Não sabia de nada, e então resolvi criar a página Quimioterapia e Beleza no Facebook. Hoje, vejo que as pessoas se inspiram em mim, e isso é gratificante. Elas conseguem superar a doença com mais leveza e tranquilidade.

Caminhada reduz riscos de desenvolver a doença
Há muito tempo a ciência insiste que a atividade física traz mais benefícios do que apenas modelar a silhueta. Essa prática, tão constante para as mulheres, acaba de ganhar mais um bom motivo para ser adotada com frequência: exercitar-se pode reduzir em até 25% as chances de ter câncer de mama na pós-menopausa, período na vida da mulher em que esse diagnóstico é mais comum. Os resultados de uma nova pesquisa, publicada na revista Cancer, Epidemiology, Biomarkers & Prevention, revelam que caminhar por pelo menos sete horas por semana pode ser uma forma de se prevenir contra a doença.

Os pesquisadores da Associação Americana de Pesquisa sobre o Câncer analisaram 73.615 mulheres na pós-menopausa com idade de 50 a 73 anos. Por quase duas décadas, elas responderam questionários de acompanhamento, aplicados a cada dois anos. Entre outras coisas, os cientistas investigaram como as voluntárias utilizavam suas hora livres e de lazer e, especialmente, se praticavam atividades físicas e com que frequência. Do total de voluntárias, 4.760 foram diagnosticadas com a doença durante o estudo, realizado de 1992 a 2009.

Quando a rotina de exercícios e registros médicos foram cruzados, os pesquisadores descobriram que aquelas que caminharam pelo menos sete horas por semana, uma média de uma hora por dia, tiveram 14% menos risco de desenvolver câncer de mama do que aquelas que caminharam menos de três horas semanais. As poucas voluntárias que afirmaram ser mais ativas, por até 10 horas por semana em práticas intensas de atividades físicas, registraram um benefício ainda maior, com 25% menos risco de desenvolver a doença. Para Alpa Patel, epidemiologista e autor do estudo, “esse exercício simples e barato é um dos métodos mais eficientes de evitar não só o câncer de mama como também a pressão arterial alta, o colesterol elevado e o diabetes”.

A redução de risco valeu inclusive para as mulheres acima do peso e independia da adoção ou não da terapia de reposição hormonal. Patel explica que, na pós-menopausa, as mulheres geram estrogênio em doses muito baixas, sendo a produção quase exclusiva das células gordurosas e não dos ovários. Como a atividade física diminui o total de gordura corporal, há também uma alteração na metabolização dos hormônios, o que dificulta o aparecimento do câncer.

No entanto, embora benéficos, os exercícios não são capazes de proteger completamente do câncer. Isso porque outros fatores podem induzir o aparecimento da doença, como a predisposição genética. “Ainda não sabemos como o câncer de qualquer tipo se desenvolve ou deixa de se desenvolver. Mas a atividade física, e especialmente a caminhada, são muito simples e acessíveis para a maioria das mulheres. Estatisticamente, elas reduzem o risco de câncer de mama. Então, por que não caminhar?”, sugere Patel.

Hormônios
Estrogênio é o nome dado aos hormônios relacionados com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de características femininas. Eles são produzidos nos ovários em maturação. Os três estrogênios naturais são o estradiol, o estriol e a estrona. A falta dessas causa as ondas de calor comuns na menopausa. Outros sintomas da falta das substâncias são a concentração de gordura em regiões caracteristicamente masculinas, como barriga, além de secura vaginal, desequilíbrio do colesterol, irritabilidade, depressão e perda de cálcio dos ossos.