Ex-casais mostram que é possível manter amizade depois de separação

Quem foi um grande amor em nossas vidas não precisa, necessariamente, ser nosso maior inimigo. O Bem Viver entrevistou homens e mulheres que um dia foram casados e que hoje mantêm uma relação cordial e madura

por Carolina Cotta 22/09/2013 09:30

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Jair Amaral/EM/DA Press
Emília Marcílio e Mário Antônio Caram Filho viveram juntos 17 anos e nem mesmo a separação mudou a amizade que um sente pelo outro (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Se já nos amamos, por que nos odiarmos?” Apesar da interrogação, não restam dúvidas para o professor Mário Antônio Caram Filho. Melhor amigo da ex-mulher, ele e a atriz Emília Marcílio, com quem viveu por 17 anos, têm uma relação ainda atípica na sociedade, mas que faz todo o sentido. Afinal, por que todo o carinho, o companheirismo e o amor experimentados ao longo do tempo se transformam em briga ou indiferença depois do término? A manutenção da amizade entre casais que se separam é um jeito de manter filhos, amigos e projetos unidos. E, principalmente, de continuar perto de quem foi um grande amor, um bom motivo para seguir lado a lado, de outra forma, no caso.

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Mas para continuar amigo precisa ter sido amigo antes. Não se constrói uma relação profunda de um dia para o outro, muito menos depois do trauma de um rompimento. Mário e Emília, por exemplo, sempre se deram bem. Os dois se conheceram nos Estados Unidos. Emília foi visitar a irmã que vivia na Flórida e em três dias deu de cara com Mário, amigo do seu cunhado. “Foi amor à primeira vista. Depois de uma semana ele comentou com um amigo: ‘Vou casar com essa menina’. Começamos a namorar e minha visita de dois meses durou sete. Só voltei para visitar meu pai, que adoeceu, e pedir autorização para casar. Na verdade, era uma mentira, porque a gente ia mesmo era morar junto”, lembra Emília.

Os dois sempre foram tão amigos que algumas pessoas eventualmente os conheciam e perguntavam se eram irmãos, tamanha a afinidade. A amizade não mudou com o tempo, nem com a separação. “Apenas a convivência não é mais a mesma, mas o tempo não destrói o que foi solidamente construído. Não faria sentido algum não mantermos uma boa relação, já que temos um vínculo muito forte, nossa filha, Clara, que nos proporcionou o mais belo momento de nossas vidas”, defende Mário. Mas nem sempre a amizade vence. Nem sempre os casais conseguem. Nem sempre o “novo amor” entende o apego com o “antigo amor”.

Segundo a psicoterapeuta de família e de casal Cláudia Prates, existem dois tipos de manutenção da amizade pós-separação. A primeira é quando o casal já era amigo antes de se envolver emocionalmente e tem apreço por essa amizade. “O rompimento da relação mais íntima não impede a continuidade da ligação anterior. Pelo contrário: o casal opta por mantê-la.” A outra situação é quando as duas pessoas reconhecem a dificuldade de continuarem como um par, por causa da pouca felicidade e pelos frequentes e sérios distúrbios na relação. Percebe-se a melhoria da vida de ambos após a separação e essa constatação é dos dois envolvidos. “Quando a descoberta é unilateral, o outro se sentirá lesado.”

Partindo do princípio de que as pessoas têm dificuldade em não serem aceitas, a proposta de desfecho da relação gera, no mínimo, um período de indisposição, de mágoa, de ira. “Separação é como cirurgia: mesmo programada é traumática”. Para Cláudia Prates, a amizade só aparecerá após a elaboração dessa fase. “Não conheço uma passagem do casamento para o descasamento sem uma transição indigesta. É necessário um período de recolhimento para a absorção da realidade modificada e a metabolização da despedida”, defende a especialista.

Ser amigo do ex demanda tempo e jogo de cintura. E não é pra qualquer um. Como disse Nietzsche: “Só se case com quem você gosta de conversar. Você vai precisar disso quando tudo mais passar”.